O Estado de S. Paulo

ARTE BRASILEIRA EM FESTA

As galerias Ipanema e Jaqueline Martins comemoram o sucesso de suas trajetória­s

- Alice Ferraz

O cenário artístico fervilhava na década de 1960 por todo o Brasil. Criativos de diferentes áreas lançavam mão de produções variadas e instigante­s para mobilizar um país que vivia sob grande repressão, mas talvez também por isso, em um terreno fértil de ideias. Entre os nomes que despontava­m estava o de um jovem empreended­or apaixonado pelas artes plásticas e de olho no potencial de mercado que a cena apresentav­a.

Luiz Sève era dono de um olhar afiado para detectar novos talentos que emergiam do turbilhão nacional. Entre seus achados estavam os nipo-brasileiro­s Tomie Ohtake (1913-2015) e Manabu Mabe (1924-1997), dois dos nomes que compuseram a exposição de inauguraçã­o da Galeria de Arte Ipanema, em 1965, no emblemátic­o Hotel Copacabana Palace. O sucesso foi absoluto.

Depois de 55 anos, Luiz segue à frente do espaço, que possui uma das mais interessan­tes coleções modernas do Rio – além de ser uma das mais antigas galerias do País. A longevidad­e, para o galerista, vem atrelada a muito amor pelo que faz. “Arte é uma paixão. Poder conviver em meio a essa beleza é um prazer inenarráve­l. Esse prazer apaga qualquer dificuldad­e que tive no percurso”, afirma. Como braço direito e na direção da Ipanema está a filha Luciana Sève, que veio do mercado financeiro trazendo para o espaço mais agilidade e uma dose extra de amor pelo segmento.

Assim, o ano é de celebração para a família Sève, que inaugura no mês de junho a segunda da série de exposições que celebram a trajetória da Ipanema. Corpos: O Relicário de um Tempo reúne algumas das imponentes obras que compõe a coleção da galeria, entre elas produções de nomes como Di Cavalcanti, Wesley Duke Lee e os contemporâ­neos Waltercio Caldas e Cildo Meireles. A mostra coloca o corpo no lugar de santuário que materializ­a ideias, crenças e lutas, transcende­ndo as barreiras atuais para alcançar o sentido da vida. Do ideal de perfeição e da constituiç­ão de uma cultura humanista baseada na razão e na ciência até a representa­ção do corpo divino, como crença e louvor.

O corpo como forma de expressão também permeia a trajetória da galerista Jaqueline Martins, que comemora 10 anos de seu espaço homônimo, em São Paulo. Dedicada inicialmen­te ao resgate de artistas e práticas experiment­ais dos anos 1970 e 1980, a galeria promove este ano uma programaçã­o que reverbera e atualiza os principais eixos que guiaram a sua atuação na última década: exposições de artistas históricos em diálogo com jovens contemporâ­neos.

A história da galeria Jaqueline Martins também se confunde com as pesquisas individuai­s da fundadora pelos catálogos e arquivos da arte brasileira. Tal mergulho realizado dentro da produção conceitual, política e processual do País foi fundamenta­l para os primeiros passos do espaço e a definição de um dos pilares de sua missão como galerista: reapresent­ar ao público artistas cuja produção experiment­al nunca mais foi vista desde as primeiras apresentaç­ões em Bienais e outras exposições, como o caso de Letícia Parente, Lydia Okumura e Hudinilson Jr.

Atualmente localizada em um prédio industrial de 600m² na Vila Buarque, São Paulo, a galerista inaugurou no ano passado um espaço em Bruxelas, na Bélgica, iniciativa que amplia o alcance internacio­nal da arte brasileira.

É no endereço estrangeir­o que será inaugurada, em junho, a mostra de Daniel de Paula, Veridical Shadows, que exibe as investigaç­ões inéditas do artista sobre as estruturas políticas, sociais, econômicas, históricas e burocrátic­as que moldam lugares e relações. “Temos o desafio de sobreviver a mais um ano de pandemia sem perder a criativida­de e o desejo genuíno de ser uma galeria que apoia o desenvolvi­mento dos artistas, além de reinventar a forma como nos comunicamo­s, trazendo as discussões inerentes a nossa situação atual de forma produtiva” avalia Jaqueline.

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Luiz Sève segue à frente do espaço e conta com a filha Luciana como braço direito
JOSÉ PELEGRINO Comando. Luiz Sève segue à frente do espaço e conta com a filha Luciana como braço direito
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Jaqueline Martins comemora dez anos de seu espaço homônimo em São Paulo
GALERIA IPANEMA Galerista. Jaqueline Martins comemora dez anos de seu espaço homônimo em São Paulo

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