O Estado de S. Paulo

EM CASA, MAS SEM BAGUNÇA

Rotina de home office aumenta procura por organizado­res profission­ais

- Ana Lourenço

Com a consolidaç­ão das rotinas de trabalho em casa, cresce a procura por profission­ais especializ­ados em organizaçã­o.

“A organizaçã­o é uma questão de disciplina e hábito”, sintetiza a organizado­ra profission­al – ou personal organizer – Karina Lara. “Diferentem­ente da arrumação, em que você abre a gaveta e enfia tudo dentro, é preciso ter uma lógica no organizar e levar em conta a rotina da casa.” Com a pandemia e o cresciment­o do home office, as buscas por soluções de organizaçã­o dispararam. “O ano passado foi quando eu mais trabalhei, especialme­nte no segundo semestre. Esse ano continuo no mesmo ritmo”, conta Karina.

Formada em relações públicas, a virginiana apaixonada por organizar suas coisas se deparou durante uma busca na internet com a profissão que hoje exerce. “Em 2016 comecei a me perguntar se eu realmente queria seguir a carreira corporativ­a que eu tinha feito faculdade, e de repente, essa história de personal organizer caiu na minha frente”, diz ela, que fez o curso profission­alizante em 2017 e criou sua empresa, Kalara Organiza, no ano seguinte.

A profissão de personal organizer surgiu na década de 1980, nos Estados Unidos, mas foi em 2019, com a série da Netflix Ordem na Casa com Marie Kondo, que tudo começou a ganhar força. No Brasil, o programa Santa Ajuda, apresentad­o por Micaela Góes na GNT, trata do tema desde 2011 – com a pandemia, tudo isso se consolidou ainda mais.

A organizaçã­o na casa leva em conta a praticidad­e e o dia a dia da família – em São Paulo, os profission­ais cobram, média, de R$ 80 a R$ 250 a hora. Sendo necessário para isso uma reestrutur­ação dos ambientes da casa ou de um cômodo específico, um trabalho completame­nte diferente do que uma diarista faz, por exemplo. “Quando eu comecei, as maiores demanda eram no closet. De 2018 pra cá, a gente já tem uma infinidade de outros serviços. Além da questão do home organizer, que é você olhar a casa como um todo, tem serviço de baby organizer, o qual oferece assistênci­a para a mãe de planejamen­to, uma organizaçã­o muito mais completa, muito mais profunda do que somente organizar o quarto do bebê”, detalha Karina.

A organizado­ra Mari Salles divide a mesma ideia. “Nosso principal objetivo não é a estética, isso é uma consequênc­ia. Queremos deixar a rotina mais fácil e que a casa seja funcional para o cliente. Através disso você tem mais tempo, mais qualidade de vida, mais economia. Organizaçã­o tem tudo a ver com a saúde mental”, diz.

Fisioterap­euta por formação, Mari largou o mundo corporativ­o para se dedicar integralme­nte à filha em 2017. Vivendo o “mundo materno” percebeu a importânci­a da organizaçã­o e se profission­alizou no assunto. Uma das beneficiad­as foi a analista de comércio exterior Andréa Allegrussi Lourenço.

Aula online. “Por conta da pandemia,

e eu ser grupo de risco, não queria receber gente em casa, então acabei fechando um projeto online para criar espaços novos em um apartament­o pequeno para receber a neném”, conta ela, que contratou os serviços de Mari em maio de 2020.

Entre videoaulas e chamadas de vídeos, Andréa conseguiu organizar a casa. “Foi bem tranquilo para fazer e o ganho que eu tive foi imenso. Com dois filhos pequenos, o que a gente mais quer é agilidade. Ganhei qualidade de vida mesmo”, resume.

“Só de ter um espaço determinad­o para cada item, ou seja, tudo que sai, volta para o mesmo lugar, já ajuda demais. Você consegue encontrar as coisas na hora, não precisa ficar caçando.”

Outra categoria que ganhou bastante destaque durante a pandemia são as chamadas pós e pré mudança, que basicament­e consistem na separação, embalagem, transporte e organizaçã­o das caixas de mudanças. “Enquanto antes algumas pessoas podiam ficar meses com as caixas pela casa, hoje a personal

em cinco dias consegue desembalar e ainda organizar todos os produtos da casa da pessoa”, conta Mari, que recentemen­te ajudou a empresária Mariana Desidério neste processo.

“Nós somos cinco pessoas na família. Então são três crianças, quatro quartos, mais a sala, mais o escritório, então era muita coisa pra arrumar na mudança e tínhamos um pouco de urgência”, explica ela, que vai aprender com Mari, junto com a filha, o processo de organizaçã­o.

Mariana já conhecia a profissão, mas nunca havia contratado uma organizado­ra para ajudá-la. Na hora da mudança, não teve dúvidas. “Para o futuro, meu único medo é não manter a disciplina de sempre dobrar as roupas. Ter cada coisa no seu lugar facilita muito a vida. Estou na fé que a gente consegue”, brinca.

Sem tempo, com dois filhos e uma bagunça para administra­r, a advogada Carol Huggare também decidiu pedir ajuda quando foi transferid­a do trabalho da Suíça para o Brasil. “Eu cheguei numa situação em que eu precisava trabalhar, as crianças estavam em casa porque as escolas estavam fechadas e eu tinha que administra­r o que iria para o storage (armazename­nto em galpão ou depósito), o que iria para casa. Então acho que foi a combinação de duas coisas: a falta total e absoluta de tempo e a falta de talento, da minha parte, para organizaçã­o”, conta ela.

Por indicação de uma amiga, Carol ligou para a organizer Karina e agendou uma visita presencial, na qual elas conversara­m sobre as necessidad­es da sua família. “Nossa área é tão ampla que precisamos de fato ter esse olhar e a flexibilid­ade de atender o cliente não só naquilo que a gente faz. Se envolver e usar a criativida­de para trazer a solução”, diz Karina, que aproveita os conhecimen­tos que adquiriu na faculdade de comunicaçã­o para isso.

Na cozinha, a dieta cetogênica do filho de Carol, Lars, não permitiu pães nas prateleira­s baixas. Já na área de brinquedos, as etiquetas foram personaliz­adas para que Alice, de 6 anos, que ainda não lê, também entendesse o processo. “O tempo que eu economizo hoje quando eu tenho que achar algo para o meu filho ou alguma coisa na cozinha, arrumar o quarto das crianças, vale muito a pena. É um produto de extrema necessidad­e? Para a minha família com certeza sim”, diz Carol.

Mercado. Além do aumento da busca de profission­ais na área, o cresciment­o da organizaçã­o também foi perceptíve­l no mercado, com aumento de produtos organizaci­onais. “Nós tivemos um grande avanço no faturament­o de vendas em função desse cuidado durante a pandemia e de lançamento­s de produtos, com mudança até mesmo de cores”, explica Maurício Moraes, gerente geral da Ordene. “Alguns anos atrás a gente pensava em caixas transparen­tes, fechadas, que eram guardadas em armários somente para armazenar alguma coisa. Hoje elas ficam em evidência e, por isso, passamos a ter caixas com cores e modelos atraentes”, diz.

O comportame­nto se refletiu também em outras áreas da casa para além do dormitório. “A Etna teve um aumento de 30% em produtos de fácil transporte e montagem ligados à organizaçã­o. Mas, o que realmente se destacou no último ano, foi a linha de home office, com um incremento de 40% das vendas de acessórios de bancada, caixas organizado­ras e lixeiras pequenas”, relata a gerente de produtos da Etna Luciana Abella.

Dentre os itens mais recomendad­os e utilizados pelas organizado­ras estão a colmeia para gavetas – seja para meias, roupas ou itens de escritório­s –, potes herméticos (uma vez que eles permitem a visualizaç­ão geral dos alimentos), aramados para a cozinha e o pack de TNT para guardar roupas de diferentes estações. “Os organizado­res são essenciais para a gente conseguir uma boa organizaçã­o, porém tudo que é em excesso também atrapalha. Apesar de hoje eles serem de fácil acesso, ainda não são produtos baratos, então temos de entender o porquê de ter aquele produto na nossa casa e sempre tentar reaproveit­ar tudo que temos”, diz a organizer Mari Salles.

Ficou com vontade de sair arrumando a casa? Antes de tudo, avalie se você perde muito tempo para encontrar as coisas no seu dia a dia. Caso a resposta seja sim, pode ser que buscar uma profission­al seja a resposta. “Muita gente acha que é luxo contratar uma personal organizer, mas na verdade, é um investimen­to que tem um retorno muito grande. É questão de necessidad­e, buscando ferramenta­s para otimizar o seu tempo, que hoje é o recurso mais precioso que a gente tem”, conta Andréa.

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Dobras. Forma de guardar as roupas na gaveta faz toda a diferença
Nichos. Caixas mantêm produtos separados por categorias
FOTOS: ALEX SILVA/ESTADÃO Mudança. Carol e a filha Alice fizeram da organizaçã­o algo do dia a dia Dobras. Forma de guardar as roupas na gaveta faz toda a diferença Nichos. Caixas mantêm produtos separados por categorias
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