O Estado de S. Paulo

Nos pênaltis, Itália acaba com sonho da Inglaterra

Em Wembley, na presença do príncipe e de seus súditos, seleção Azurra levanta a taça e mantém jejum da Inglaterra

- Bruno Accorsi / ESPECIAL PARA O ESTADÃO

Após empate de 1 a 1 no tempo normal e 0 a 0 na prorrogaçã­o, em Wembley, a Itália venceu a Inglaterra nos pênaltis, por 3 a 2, e levou a Eurocopa depois de um jejum de 53 anos.

A única certeza que se tinha sobre a disputa da final da Eurocopa ontem, em Wembley, era de que o vencedor faria história, já que dois jejuns, cada um com um peso diferente, estavam em jogo. Por fim, o momento histórico foi protagoniz­ado pela Itália. Após empate por 1 a 1 no tempo normal, o time de Roberto Mancini, articulado­r de uma revolução no futebol italiano, superou a Inglaterra por 3 a 2 nos pênaltis e voltou levantar a taça do torneio após 53 anos.

Vice-campeã em 2000 e 2012, a seleção italiana havia vencido a Eurocopa apenas uma vez, em 1968, na mesma década em que os ingleses comemorara­m o único título de sua história: a Copa do Mundo de 1966. Por isso, a derrota dói muito para a Inglaterra, que chegou pela primeira vez à final da competição e sucumbiu diante de sua torcida e do príncipe William.

Mais do que o fim do jejum, os italianos coroam o grande momento que vivem desde 2018. Com mudança na filosofia de jogo, a equipe termina a Eurocopa como dona do melhor ataque, com 14 gols. Além disso, atinge a incrível marca de 34 partidas de invencibil­idade.

O cenário da grande decisão parecia resgatado de um passado não tão distante, quando o mundo ainda não havia sido tomado pela pandemia de covid19. Para quem se acostumou a ver, de casa, finais de futebol com estádios vazios ou público limitado, foi um choque de realidade ligar a TV e se deparar com mais de 67 mil torcedores nas arquibanca­das de Wembley.

Não há como descrever o sentimento de quem estava ali, mas é certo que se criou uma atmosfera que contagiou os donos da casa, não à toa eles precisaram de menos de dois minutos para abrir o placar. Tudo começou quando Kane se apresentou no campo de defesa, avançando em velocidade antes de acionar Trippier. O lateral esperou Shaw se projetar em direção à área para fazer o lançamento por cima. De primeira, Shaw marcou o gol mais rápido da história em uma final de Euro.

A postura ofensiva que vem colocando os holofotes sobre Mancini, por subverter a ideia de que os italianos só sabem jogar na retranca, esbarrou em uma Inglaterra bem armada defensivam­ente por Gareth Southgate. A formação com três zagueiros adotada pelo treinador britânico se justificou com resultados na defesa e no ataque, até porque o gol foi marcado em jogada com assistênci­a e conclusão dos dois laterais.

Diante de tal configuraç­ão, não foi comum ver o goleiro Pickford trabalhand­o durante o primeiro tempo. A Itália dominou a posse de bola e contou com investidas pontuais, principalm­ente em jogadas de Chiesa, mas não foi o suficiente, e o árbitro apitou o fim da etapa inicial em meio a cantos empolgados e ansiosos dos fãs locais.

A Inglaterra foi para o intervalo com uma única finalizaçã­o, a que originou o gol, e voltou para o segundo tempo sem demonstrar interesse em aumentar a contagem. A Itália entrou em campo sentindo a mesma dificuldad­e de antes para encontrar espaços no campo rival.

De qualquer maneira, fizeram, em 15 minutos, o que não conseguira­m fazer em toda a etapa anterior: colocar Pickford para trabalhar. Sem abrir mão da postura extremamen­te defensiva, com raros momentos de alívio, a seleção inglesa se acostumou a ter a Itália em seu campo e não manteve a solidez. Aos 21, com 70% de posse de bole, Bonucci aproveitou confusão na área e empatou o jogo.

A partir daí, o duelo ficou mais truncado e ganhou ares de tensão. Toda a adrenalina teve de ser contida aos 41, quando um torcedor invadiu o gramado e forçou a interrupçã­o da partida. Os minutos finais correram com a Itália no ataque tocando a bola com paciência e hesitação, o que provocou avalanche de vaias até o árbitro dar fim ao tempo regulament­ar.

Os gritos que encerraram o segundo tempo subiram novamente assim que a Itália tocou na bola no início da prorrogaçã­o. Como no resto da partida, eles mantiveram o domínio, só que encontrara­m uma Inglaterra mais disposta a buscar a vitória, apesar da ausência de gols.

Nas penalidade­s, heróis e vilões se revelaram em Wembley, mais dramas e muito nervosismo dos dois lados. O brasileiro naturaliza­do Jorginho, por exemplo, perdeu sua cobrança para a Itália. Foi salvo pelo goleiro Donnarumma, a quem agradeceu com um forte abraço. A Itália renasceu para o futebol.

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ANDY RAIN/AFP
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PAUL ELLIS/AFP Risos e choro. Time e torcedores italianos fazem a festa enquanto jogadores da Inglaterra choram a derrota
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CARL RECINE/REUTERS

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