O Estado de S. Paulo

Tite precisa acordar

✽ EDITOR DE ESPORTES DO ESTADÃO E COMENTARIS­TA DA RÁDIO ELDORADO

- Robson Morelli

Técnico da seleção brasileira conta com bons atletas no time, mas não se ganha mais partidas na individual­idade.

Aderrota da seleção brasileira na final da Copa América para a Argentina trouxe à tona um velho fantasma do time nacional: a falta de jogadas e de jogadores capazes de mudar o cenário e, consequent­emente, o resultado. Comandados por Messi, o rival marcou seu gol ainda na etapa inicial, aos 22 minutos, com Di María. Portanto, o Brasil teve muito tempo para empatar e levar a decisão para a prorrogaçã­o, quem sabe virar ou ganhar nos pênaltis. Mas fracassou, como tem sido nas Copas do Mundo, o que preocupa todos os brasileiro­s. Foi assim, só para refrescar nossa memória, que a seleção de Tite voltou mais cedo para casa no Mundial da Rússia. Martelou a Bélgica, mas o prego entortou. E o Brasil deu adeus ao torneio, vencido pela França dias depois.

Tite precisa melhorar para não fracassar de novo, e levar para a estaca zero toda uma nação que ama futebol. O treinador já não é mais unanimidad­e e seu trabalho se prova aquém do que a seleção precisa para ganhar taças. Ele e todos os seus colegas treinadore­s de seleções tiveram quase dois anos atípicos com a pandemia, sem jogos e com disputas adiadas. Digo isso porque todos eles estão na mesma prateleira e cada um tentou arrumar condições para melhorar um pouco suas equipes.

No caso do Brasil, não houve melhora. Pior. Tite faz voos cegos porque não tem a mínima referência de como a seleção se comportari­a tecnicamen­te diante dos adversário­s europeus, cá entre nós, que ganharam as últimas quatro edições de Copa do Mundo, da Itália em 2006, passando pela Espanha em 2010, coroando a Alemanha em 2014 até chegar na França em 2018.

Tite, e os jogadores do Brasil, se ilude com as vitórias diante dos fracos oponentes sul-americanos, tanto nas Eliminatór­ias, em que está na liderança, quanto na Copa América. Em seu primeiro bom teste na decisão, contra a Argentina, deu no que deu. O time perdeu em casa a Copa que não queria, mas que depois se prestou a ganhar.

Todos os seus jogadores são bons, dignos de seu chamamento. Ocorre que nenhum deles funciona em equipe. A derrota para a Argentina aconteceu numa falha individual de Lodi. Depois dela, os atletas passaram a correr cada um por si, o time se desmanchou como grupo e Neymar tratou de tentar resolver sozinho as jogadas. Ele tem condições para disso, tem futebol para isso, mas não é mais dessa forma que vai fazer o Brasil ganhar. Pode acontecer. Contra essa concepção há todas as partidas da Eurocopa e também da Copa América. A própria Argentina isolou Messi na direita e tratou ela, como time, de ganhar da seleção brasileira no Maracanã. Foi uma aposta tática de seu treinador. E olha que ele confinou o jogador seis vezes melhor do mundo porque tinha uma proposta, inclusive de marcar Neymar, o que para mim é impossível. Tite demorou para ver que Messi na direita tirava do seu time três marcadores, abrindo espaço para os outros argentinos. Tite não tinha uma só jogada diferente para surpreende­r o indigesto e cheio de apetite vizinho, que não ganhava nada havia 28 anos, desde 1993, e veio comemorar justamente no Rio de Janeiro e diante da seleção brasileira.

Não se trata mais de Tite convocar esse ou aquele jogador. Todos esses que estavam com ele são interessan­tes, mas nenhum funciona a não ser na individual­idade. E o futebol não é mais jogado no talento de apenas um jogador, seja ele quem for. Não dá mais para o Brasil esperar que um de seus bravos atletas entre os 11 em campo resolva o problema. O drible, a ginga e a inventivid­ade ainda encurtam caminhos, provocam frisson, mas não ganham partidas. E o Brasil só tem isso.

Técnico tem bons atletas no time, mas não se ganha mais partidas na individual­idade

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