O Estado de S. Paulo

Com doses para 70% dos adultos, UE enfrenta desafio de vacinar imigrantes

- / NYT

União Europeia distribuiu ontem imunizante­s aos Estados-membros para aplicar em dois terços da população adulta até o verão, mas dificuldad­e para imunizar imigrantes sem documentos e refugiados ameaça dificultar meta e facilitar a contaminaç­ão por variantes

A União Europeia distribuiu ontem doses suficiente­s de vacina contra o coronavíru­s aos Estados-membros para atingir a meta de vacinar totalmente pelo menos 70% dos adultos no bloco, mas agora enfrenta um desafio extra para inocular o continente: os imigrantes sem documentos e refugiados.

A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse em um comunicado que a UE estava a caminho de cumprir sua meta de inocular 70% dos adultos até o verão, pediu aos países da UE que aumentem as vacinas e garantiu que cerca de 500 milhões de doses serão distribuíd­as em toda a UE ontem. “A União Europeia manteve sua palavra, e entregamos vacinas suficiente­s aos Estados-membros para poder vacinar totalmente pelo menos 70% dos adultos neste mês”, disse von der Leyen em uma declaração em vídeo.

Mas os imigrantes ilegais e os refugiados representa­m um desafio para o continente. Estima-se que 4,8 milhões de imigrantes ilegais vivam em 32 países europeus, segundo o Pew Research Center. Estudos mostram que eles são mais vulnerávei­s ao coronavíru­s do que as populações europeias em geral. Mas muitos países os excluíram das iniciativa­s de vacinação – e a profunda desconfian­ça dos imigrantes em relação às autoridade­s piora o cenário.

Ao menos 64% dos adultos receberam pelo menos uma dose de uma vacina e 44% estão totalmente vacinados nos países europeus. Mas a variante Delta, indiana, que varre o continente, aumentou a urgência de vacinar o restante. Em março, a UE publicou orientaçõe­s solicitand­o aos Estados-membros que incluam todos os imigrantes nos programas de vacinação, independen­temente de seu status legal. Mas as políticas e procedimen­tos de vacinação variam amplamente na Europa, e um relatório do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) no mês passado descobriu que as baixas taxas de vacinação persistem entre os imigrantes.

“É importante abordar a questão dos imigrantes, pois é um grupo prioritári­o, vulnerável por causa de seus fatores de risco, suas condições de vida e de trabalho, e aumentam o perigo de espalhar uma variante mais letal e contagiosa”, disse Sally Hargreaves, especialis­ta em saúde pública e autora do relatório.

Os temores de deportação ou pesadas contas médicas impediram alguns imigrantes sem documentos de buscar tratamento e vacina, dizem especialis­tas em saúde pública. Mesmo em países que tentaram incluir imigrantes sem documentos, as barreiras linguístic­as e a desinforma­ção podem estar contribuin­do para a hesitação.

Grupos de direitos humanos pediram que a UE desempenhe um papel mais ativo na coordenaçã­o dos esforços dos Estadosmem­bros para alcançar os grupos marginaliz­ados. “Não é aceitável em países de alta renda que dezenas de milhares de pessoas fiquem de fora dos sistemas de saúde e não tenham acesso a vacinas”, disse Hargreaves. “A realidade é que estamos todos juntos nisso, ou não é?”

“Não é aceitável em países de alta renda que pessoas fiquem de fora dos sistemas de saúde e não tenham acesso a vacinas”

Sally Hargreaves

ESPECIALIS­TA EM SAÚDE PÚBLICA

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THOMAS SAMSON/REUTERS-27/12/2020 Avanço. Mulher toma vacina na França; UE quer cumprir meta de vacinar 70% dos adultos

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