O Estado de S. Paulo

Meta não era matar presidente haitiano, dizem mercenário­s

Grupo diz que missão era levar líder haitiano ao palácio presidenci­al, mas o encontrou morto, segundo o ‘ Miami Herald’

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Um grupo de colombiano­s e americanos de origem haitiana suspeitos de assassinar o presidente do Haiti Jovenel Moise disse aos investigad­ores que eles estavam no país para prendê-lo, não matá-lo, afirmaram ontem o jornal Miami Herald e uma pessoa familiariz­ada com o caso.

Moise foi morto a tiros na madrugada de quarta-feira em sua casa em Porto Príncipe pelo que as autoridade­s haitianas dizem ser uma unidade de assassinos formada por 26 colombiano­s e 2 haitianos-americanos. Três membros do suposto comando foram mortos pela polícia e seis estão foragidos.

O assassinat­o e a incerteza sobre quem planejou o complô representa­m um revés para o país, que já viveu anos de ditadura, golpes, um terremoto devastador, seguido por um surto de cólera. Os Estados Unidos rejeitaram o pedido de envio de tropas feito pelo Haiti.

Citando pessoas que falaram com alguns dos 19 suspeitos detidos, o Miami Herald disse que a missão deles era prender Moise e levá-lo de sua casa para o palácio presidenci­al. Os dois americanos, James Solages e Joseph Vincent, afirmaram aos investigad­ores que eram tradutores da unidade colombiana que tinha um mandado de prisão. Eles sustentam que quando chegaram na casa, encontrara­m Moise morto.

Segundo o jornal, os colombiano­s detidos disseram que foram contratado­s para trabalhar como seguranças no Haiti pela empresa CTU Security, com sede em Miami, dirigida pelo venezuelan­o Antonio Enmanuel Intriago Valera. Nem a CTU nem Intriago puderam ser contatados para comentar. Um número de telefone associado à empresa em registros públicos enviava ligações para uma secretária eletrônica que fazia referência ao personagem fictício da TV Jack Bauer, que lutou contra o terrorismo na série 24 Horas.

Fotos e imagens de raio X postadas nas redes sociais no fim de semana supostamen­te da autópsia de Moise mostraram seu corpo crivado de balas, um crânio fraturado e outros ossos quebrados, ressaltand­o a natureza brutal do ataque. A Reuters não conseguiu confirmar de forma independen­te sua autenticid­ade.

Por meio da mídia social, haitianos em partes da capital, Porto Príncipe, planejam protestos nesta semana contra o primeiromi­nistro interino e presidente interino, Claude Joseph. O direito de Joseph de liderar o país foi contestado por outros políticos importante­s, ameaçando exacerbar a turbulênci­a que envolve o país mais pobre das Américas.

Segundo a mídia haitiana, está previsto que uma delegação enviada por Washington se reúna separadame­nte com Joseph, que está no poder desde o assassinat­o de Moise, e com os outros dois homens que afirmam ter o direito de comandar o Haiti. Um deles é o chefe do Senado, Joseph Lambert, que em desafio a Claude Joseph foi designado na sexta-feira presidente interino pelos oito integrante­s do Senado, que não tem quórum desde 2020 por causa do adiamento das eleições de 2019.

O governo de Joseph, que recebeu o respaldo da ONU e dos EUA, não reagiu à nomeação de Lambert. O terceiro político que afirma ter o direito de exercer o poder é o neurocirur­gião Ariel Henry. Ele foi nomeado primeiro-ministro por Moise dois antes do assassinat­o, mas não tinha tomado posse. O ministro eleitoral Mathias Pierre afirmou que Joseph continuará no cargo até as eleições presidenci­ais e legislativ­as em setembro. Mas Henry afirmou que está formando um governo e criará um novo conselho eleitoral, pois o atual é considerad­o partidário.

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VALERIE BAERISWYL / AFP – 9/7/2021 Proteção. Governo aumentou patrulhas após assassinat­o

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