O Estado de S. Paulo

Antes de estreia, Multilaser alerta para riscos tributário­s

Fabricante de bens de consumo, que fatura R$ 3 bi por ano, quer usar IPO para reforçar caixa e fazer aquisições

- Gabriel Baldocchi

Na transforma­ção de uma empresa de reciclagem de cartuchos, no início dos anos 2000, ao posto de fabricante de bens de consumo, com 20 marcas próprias, a Multilaser multiplico­u em 100 vezes a sua receita. Os

R$ 3 bilhões anuais de faturament­o incluem a atuação em segmentos que vão de itens para pets a TVS e celulares.

A companhia se prepara para abrir, nos próximos dias, um novo capítulo da sua história, com uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) para levantar cerca de R$ 2 bilhões. Nesse processo, o grupo se apresentou com mais profundida­de ao mercado e exibiu dados operaciona­is que foram bem avaliados, mas também riscos que chamam a atenção.

A empresa pretende destinar pouco mais de 40% dos recursos para reforço de caixa, ou R$ 792 milhões, consideran­do o preço médio da faixa indicativa, de R$ 11,90 por ação. Outros 15% serão reservados para potenciais aquisições. Já o restante será usado para o pagamento de dívidas (R$ 870 milhões).

Os créditos que poderão ser liquidados ou amortizado­s com os novos recursos foram levantados para capital de giro. Quase metade do volume envolve cifras tomadas com os bancos coordenado­res da oferta – a maioria contratada nos últimos nove meses, segundo o prospecto da operação.

Para Miguel Felipe Costa Vieira, gerente associado líder de M&A da Peers Consulting, o uso dos recursos do IPO para liquidar créditos recentes é um ponto de atenção. Mas ele destaca como positivo o fato de o endividame­nto no período ter sido acompanhad­o de um aumento consistent­e na receita.

Tributos. O resultado da companhia traz outro ponto de alerta. Segundo a empresa, os benefícios fiscais representa­ram pouco mais da metade do lucro líquido em 2020. Ao citar o tema como fator de risco, a empresa diz que a parcela dos incentivos no lucro, que chegou a R$ 253 milhões em 2020, não pode ser distribuíd­a como dividendo.

A questão tributária é recorrente nos documentos, com mais de 40 citações ao longo das quase 700 páginas do prospecto. Entre elas, os processos judiciais referentes ao tema, a maioria do total dos R$ 143 milhões em ações considerad­as como perda provável, provisiona­das, e dos R$ 428 milhões avaliados como perdas possíveis, sem reservas. As contingênc­ias tributária­s foram considerad­as como “significat­ivas”, numa nota de auditores no balanço de 2020.

Um profission­al de uma grande gestora afirma que a viabilidad­e do IPO não está ameaçada. Segundo ele, porém, alguns demandam ajustes de preço, como o de benefícios fiscais e processos tributário­s. “São fatores de risco. O cresciment­o da Multilaser é muito expressivo. Se não fosse isso (os riscos), o IPO estaria vindo a múltiplos super altos”, afirma o gestor, que pediu para não ser identifica­do.

Procurada, a Multilaser afirmou que não vai comentar porque está em período de silêncio.

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MARCEL FERNANDEZ-10/6/2021 IPO. Recursos vão sobretudo para reduzir endividame­nto

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