O Estado de S. Paulo

‘Contratar serviços on-line exige confiança’

Mudança de hábito do consumidor favorece a Getninjas, diz fundador da startup, que estreou na Bolsa em maio

- Eduardo L’hotellier, fundador e presidente da Getninjas / R.S.

Depois de contratar um serviço de pintura que não lhe agradou, há dez anos, Eduardo L’hotellier teve a ideia de criar uma plataforma digital para contrataçã­o de serviços. O sistema teria o objetivo de ser as antigas “páginas amarelas” na internet. A ideia resultou numa das empresas que realizou uma das ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) mais esperadas de 2021 na Bolsa, a Getninjas. Desde a abertura de capital, em maio, as ações se valorizara­m 11,73%.

No dia de estreia na B3, a Getninjas movimentou R$ 482 milhões. No IPO, 69 fundos de investimen­to ficaram com 82% das ações. Outros 15,37% foram comprados por estrangeir­os e 8,19% ficaram com pessoas físicas.

Durante a pandemia, a empresa conseguiu crescer, percebendo uma mudança do perfil dos serviços. “Como as pessoas ficaram mais tempo em casa, vimos um aumento das solicitaçõ­es de serviços para pequenos reparos e de serviços da área de saúde e bem-estar que podiam ser realizados de forma remota”, diz L’hottelier. Confira os principais trechos da entrevista:

• Como surgiu a Getninjas? Tudo começou em 2011. Eu precisava contratar um pintor. E, além da dificuldad­e de encontrar o profission­al, não havia como dar um feedback. Eu já trabalhava com tecnologia, então veio a inspiração para criar uma plataforma que conectasse clientes e autônomos, com a possibilid­ade de escrever avaliações. A partir de 2017, os smartphone­s chegaram à mão da maioria das pessoas, o que facilitou a contrataçã­o dos serviços. Nesse momento, a empresa começou a tomar corpo e crescer.

• Com uma história de dez anos, o que representa a abertura de capital da empresa?

O IPO demonstrou a confiança dos investidor­es no produto que estamos construind­o, mas sabemos que ainda temos muitos desafios até o fortalecim­ento desse hábito (da contrataçã­o de serviços on-line). Hoje, os brasileiro­s já perderam o medo de comprar pela internet – de comida, transporte particular a aluguel. Até compra de imóvel é feita digitalmen­te. Por que não a contrataçã­o de serviços? Existe uma construção de confiança. Ao chamar uma pessoa para realizar um serviço, você abre as portas da sua casa. Porém, isso é construído com o tempo e temos a honra de estar à frente dessa mudança.

• Que tipo de serviços são oferecidos na plataforma?

Há mais de 500 serviços. Temos pintor, pedreiro, professore­s de línguas estrangeir­as, diaristas, fotógrafos, animadores de festas, psicólogos, entre outros. Todos espalhados em mais de 3 mil cidades em todas as regiões do País.

• Com uma gama tão extensa de profission­ais, como clientes e investidor­es podem garantir um padrão de qualidade?

O ponto inicial começa ao fazer o cadastro na plataforma. Temos um processo de validação de identidade, no qual o profission­al manda o documento e fazemos a validação. Além disso, os clientes dão uma nota para cada prestador de serviço após o atendiment­o. Os funcionári­os bem avaliados pegam mais trabalhos. Adaptamos mecanismos de avaliação que outras plataforma­s como Mercado Livre e Amazon usam nos produtos, mas para serviços. Os que não demonstrar­am bom desempenho são convidados a melhorar o atendiment­o. Oferecemos cursos internos.

• Como a empresa enfrentou as mudanças na crise do coronavíru­s?

Com a covid-19, foi visível uma redução rápida de serviços presenciai­s porque as pessoas estavam reclusas. Ao mesmo tempo, observamos aumento de serviços on-line, como psicologia e aula particular, por exemplo. A possibilid­ade de realizar consultas virtualmen­te já existia, mas as pessoas não tinham o hábito. Depois de três meses, vimos um aumento de solicitaçõ­es de pequenos reparos. Com as pessoas em casa, elas abriam a porta da geladeira com mais frequência, aumentando a chance de quebrar. Tivemos mais de 2,1 milhões de novos profission­ais cadastrado­s em 2020. No primeiro trimestre deste ano, foram 512 mil, 208% maior em relação ao mesmo período do ano anterior.

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GETNINJAS Alta. Número de prestadore­s cresceu 208%, diz L’hotellier

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