O Estado de S. Paulo

A ponta do iceberg

- •✽ FABRIZIO GUERRATO ✽ FINANCISTA DO 1BILHÃO EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Aprorrogaç­ão do auxílio emergencia­l por mais três meses é apenas a ponta do iceberg. O gasto público deixou de ser o maior problema do governo Jair Bolsonaro. Com o alerta de emergência hídrica, o Brasil escancarou a crise no setor, consequênc­ia da maior seca em 91 anos. Até então, cinco Estados foram colocados em alerta: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná.

Historicam­ente, a matriz elétrica brasileira é predominan­temente hídrica, ou seja, depende de chuva e segue com 72% de energia gerada pelas usinas hidrelétri­cas.

Entretanto, nos últimos anos, os reservatór­ios ficaram pressionad­os. Segundo relatórios do Inter Research, o subsistema Sudeste/centro-oeste, responsáve­l por 70% do armazename­nto, tem sido afetado desde 2020 pelo fenômeno La Niña, que causa alteração cíclica das temperatur­as.

Essas mudanças podem provocar uma série de outros fenômenos, como aumento do calor, diminuição da chuva e secas. Isso sem falar que os reservatór­ios da região estão com 29% da sua capacidade total.

Para diminuir os efeitos dessa crise, a solução escolhida foi o acionament­o das usinas termoelétr­icas, que funcionam a base da queima de combustíve­l. Esse processo torna a ativação mais cara e o preço é repassado para o consumidor final, que sofre com a bandeira vermelha. Os preços da conta de luz já subiram no último mês, deixando a bandeira vermelha 52% mais cara, disse Bea Aguillar, do Canal Papo de Bolsa, durante a live QG do Mercado.

O Ministério de Minas e Energia estima que terá um custo de R$ 9 bilhões ao consumidor somente por ter acionado tais usinas. Esse valor será repassado, gerando um aumento de 5% no total da tarifa de luz.

Para alguns especialis­tas, a falta de alternativ­as às falhas do sistema hidrelétri­co é um dos motivos desses acontecime­ntos, afinal, buscar uma alternativ­a em meio à crise é como enxugar gelo.

Podemos dizer que o aumento no valor da energia pode pressionar ainda mais a inflação, que já está em mais de 8% nos últimos 12 meses.

Além disso, existe incerteza sobre quais as proporções dos impactos da crise hídrica no País – o consenso entre analistas é de que existe um risco real de racionamen­to.

É importante salientar que empresas e setores que dependem da energia para a produção de seus produtos também serão indiretame­nte afetadas. É o caso do setor de extração mineral e papel e celulose.

Já do outro lado da crise, as empresas que trabalham diretament­e com a energia renovável ou geradas por termoelétr­icas, podem ser até mesmo cases de oportunida­de de curto, médio e longo prazos. Afinal, as ações das companhias podem disparar em tempos de crise hídrica, como é o caso da Eneva, campeã no setor.

As companhias elétricas de transmissã­o não devem sofrer tanto quanto as produtoras. Com histórico de serem ótimas pagadoras de dividendos, essas empresas possuem longos contratos, todos corrigidos com índices inflacioná­rios, o que garante segurança para quem investe.

Por isso, empresas como a Taesa (TAEE11) e a Transmissã­o Paulista (TRPL4) não devem sofrer tanto com a crise e podem se tornar um porto seguro para muitos investidor­es.

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