O Estado de S. Paulo

Nossas variantes

- GILBERTO AMENDOLA ✽ É REPÓRTER DO ‘ESTADÃO’ E OBSERVADOR DA VIDA URBANA

Não é amor. Mas é uma variante. Não me olha assim. Até virar amor vai um caminho. Talvez a gente não tenha paciência para percorrê-lo em sua plenitude. Sei lá quantas voltas a gente precisaria dar. Fico tonto só de pensar. Me falta fôlego.

A lagarta pode ser mais bonita do que a borboleta.

Então, vamos aproveitar o sol. E ser lagarta mais um pouco. Pra que tanta pressa?

Não é amor.

Mas é uma variante.

Acho até que é parecido. Só olhando muito de perto para reparar na diferença. A cor é a mesma, o tamanho é igual e o cheiro continua bom.

Pode ser tão contagiant­e quanto aquilo que chamam de amor.

No fim, é só um nome que se dá. Entendo a importânci­a de batizar as coisas.

Podemos inventar um nome, escolher qualquer palavra do dicionário ou criar um idioma.

Mas não, não é amor.

É uma variante.

Uma variante dessas que nasce no peito de gente distraída, desavisada e desprepara­da feito eu e você.

Um bichinho que a gente alimenta com pequenas maravilhas, como o som da sua voz, o modelo dos seus óculos e esse diastema.

Ai, Jesus, o diastema!

Uma lástima ser privado dos seus dentes separados.

Mas não é amor.

É uma variante.

Não acredite se te disserem ser pouca coisa.

Mas também não crie expectativ­as exageradas.

É tudo o que eu tenho no momento.

É minha maior aposta, minha melhor versão.

Vamos deixar rolar essa febre. Vamos cair de cama por uma semana.

Eu já estou vacinado. E você? Mas, de novo, não é amor.

É uma variante.

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