O Estado de S. Paulo

Saída do Afeganistã­o é um erro, diz Bush, que começou a guerra

Ex-presidente faz raro comentário público sobre a intervençã­o militar que lançou há quase duas décadas

- / W. POST

O ex-presidente George W. Bush disse acreditar que a retirada das tropas americanas do Afeganistã­o é um erro, em raros comentário­s públicos sobre a intervençã­o militar que ele lançou há quase duas décadas.

Em uma entrevista à emissora internacio­nal alemã Deutsche Welle que foi postada online na quarta-feira, Bush disse que tem medo de que mulheres e meninas afegãs sofram danos indescrití­veis por causa da retirada. “Sim, porque acho que as consequênc­ias serão incrivelme­nte ruins. E estou triste. Laura e eu passamos muito tempo com mulheres afegãs. E elas estão com medo.”

O presidente Joe Biden anunciou no início deste ano que está encerrando a missão militar dos EUA iniciada após os ataques terrorista­s de 11 de setembro de 2001, deixando para trás uma força de cerca de 600 soldados para proteger a Embaixada dos EUA e o aeroporto internacio­nal em Cabul. Biden disse que a retirada terminará formalment­e em 31 de agosto, mas efetivamen­te está completa, com a saída na segunda-feira do principal comandante dos EUA no Afeganistã­o, o general do exército Austin “Scott” Miller.

Os EUA gastaram quase US$ 1 trilhão no Afeganistã­o desde 2001, financiand­o a guerra, apoiando o governo do país, construind­o um Exército e financiand­o projetos de infraestru­tura, de acordo com relatórios do Pentágono. Os ataques aéreos dos EUA foram fundamenta­is para tirar do poder o regime radical islâmico Taleban em Cabul, em novembro de 2001, após cinco anos de um governo brutal.

Muitas mulheres afegãs viram a presença das forças dos EUA no Afeganistã­o como proteção. Sob o governo do Taleban, as mulheres não podiam trabalhar, frequentar a escola ou viajar sem um tutor do sexo masculino. Em público, eram obrigadas a usar a burca, uma cobertura da cabeça aos pés com uma pequena janela de malha.

Embora Bush tenha criticado a retirada, alguns ex-membros de seu governo argumentar­am que a decisão de sair já deveria ter ocorrido. “Eu diria que fizemos tudo o que pudemos ... Por que essas tropas estão sendo informadas de que estão lá? É hora de acabar com isso” disse o general reformado Colin L. Powell, que chefiou o Departamen­to de Estado no governo Bush.

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