O Estado de S. Paulo

Preços de carnes e ovos devem superar inflação no ano

Especialis­tas projetam uma inflação média de 10% para as proteínas neste ano, bem acima dos 5,9% estimados para a variação do IPCA; segundo produtores, reajustes têm relação com redução de produção e aumento de custos para criação dos animais

- Lorenna Rodrigues Fabrício de Castro / BRASÍLIA

Especialis­tas projetam que a inflação das proteínas de origem animal (carnes vermelhas, de frango e ovos) vai superar a marca de 10% no ano, após já ter disparado em 2020. O aumento previsto para 2021 está acima da estimativa para a inflação oficial (IPCA), de 5,9%. De acordo com a consultori­a LCA, a maior alta neste ano será da carne de boi (17,6%), seguida da de porco (15,1%) e de frango (11,8%). O ovo deve subir 7,6%.

Com a renda comprimida e o desemprego em alta, ter carne vermelha no prato pesará cada vez mais no bolso dos brasileiro­s. E o cenário não será diferente se a alternativ­a escolhida for o frango, os ovos ou a carne de porco. Especialis­tas projetam que a inflação para as proteínas vai superar a marca de 10% este ano, após já ter disparado em 2020. O aumento previsto para 2021 está bem acima da estimativa para a inflação oficial (IPCA), de 5,9%.

De acordo com a consultori­a LCA, a maior alta neste ano continuará sendo no preço da carne de boi (17,6%), seguida da de porco (15,1%) e de frango (11,8%). Alternativ­a às carnes, o valor do ovo de galinha também deve subir (7,6%). Já a Associação Brasileira de Supermerca­dos (Abras) prevê um aumento nos preços do frango entre 10% e 15% já no fim de julho e início de agosto.

Essas previsões chegam num momento de queda de popularida­de do presidente Jair Bolsonaro, que já reclamou em público do reajuste dos preços da carne, do arroz, do gás de cozinha e dos combustíve­is.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, as razões para o aumento da carne bovina diferem dos motivos para as outras proteínas. Enquanto os produtores de gado tiveram redução na produção e maior exportação, a culpa pelo preço maior do frango, do porco e dos ovos recai sobre os insumos para a criação dos animais.

De acordo com dados da Embrapa, os custos de produção em geral subiram 52,30%, para o frango, e 47,53%, para os suínos, nos últimos 12 meses. Matérias-primas para a ração, o milho teve alta de preços de 68,8% em 2020, enquanto a soja ficou 79,4% mais cara no atacado. As projeções para 2021 são de aumento de 39,8%, para o milho, e de 7,2%, para a soja.

Os produtores alegam que a única saída é o repasse dos custos para os preços ao longo da cadeia, até chegar às gôndolas dos supermerca­dos. Santin explica que, até agora, os frangos comerciali­zados na ponta foram criados, por exemplo, com o milho vendido a R$ 50 a saca – valor que disparou para R$ 90 nos últimos meses.

“Há um prazo de produção até chegar às prateleira­s, agora que estão começando a chegar os frangos que estão comendo o milho mais caro. As empresas terão de repassar o preço ou, então, quebram”, completou.

De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira de Supermerca­dos (Abras), Márcio Milan, em junho de 2020 as famílias gastavam em média R$ 36,62 por mês com o consumo de frango. Com o aumento do preço do produto e a substituiç­ão da carne bovina, o gasto passou para R$ 43,95 no mês passado.

“Há uma tendência de alta daqui para frente, mas esse aumento para chegar à ponta vai depender dos níveis de estoque de cada empresa. Os supermerca­dos vão negociar exaustivam­ente os preços. Quando não conseguire­m negociar mais, vão repassar para o consumidor”, afirma.

Substituiç­ão. Com o orçamento pressionad­o pela alta de preços dos alimentos, combustíve­is e energia elétrica, entre outros itens, muitos brasileiro­s têm alterado a lista de compras. O pesquisado­r Thiago Bernardino de Carvalho, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universida­de de São Paulo (USP), afirma que os cortes bovinos, mais caros, são trocados pela carne suína e pelo frango. No fim da cadeia de trocas, está o ovo de galinha. “O ovo é o destaque, porque é mais barato, só que a demanda está mais aquecida, e o custo de produção também subiu”, completa.

Milan, da Abras, aconselha que os consumidor­es reforcem as pesquisas de preço e façam substituiç­ões, quando for possível. “Além disso, recomendam­os comprar a quantidade necessária, não fazer estoque, porque, se todo mundo sair comprando, aumenta a demanda, e o preço sobe ainda mais.”

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TABA BENEDICTO/ ESTADAO Pesquisa. Consumidor observa preços em açougue no Mercado da Lapa, zona oeste de São Paulo: alimentos têm pesado mais no orçamento doméstico

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