O Estado de S. Paulo

Uma dose de alento e outra de cautela

- ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Aqueda dos casos e óbitos por covid-19 no Brasil é um dado muito alentador, mas os cuidados pessoais ainda se fazem rigorosame­nte necessário­s.

Anova edição do Boletim Observatór­io Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicada na quarta-feira passada, traz um dado muito alentador. As quedas dos números de casos e óbitos decorrente­s da doença e da taxa de ocupação de leitos de UTI observadas nas últimas semanas epidemioló­gicas indicam que o País está em “processo de arrefecime­nto mais duradouro da pandemia nos próximos meses”. Hoje, nenhum Estado registra taxa de ocupação de leitos de UTI para covid-19 acima de 90%, algo que não acontecia desde dezembro de 2020. Em São Paulo, esta taxa é de 66,2%. Na Região Metropolit­ana, 60,9%.

A notícia é um bálsamo para a Nação, enlutada que está pela morte de quase 540 mil de seus cidadãos no curso desta peste sem precedente­s. Trata-se, no dizer da Fiocruz, de “uma nova fase da pandemia no Brasil, em que a vacinação tem feito a diferença”.

Como o bom senso, a experiênci­a histórica e os reiterados alertas de especialis­tas já apontavam, o avanço da vacinação da população era absolutame­nte determinan­te para que o País controlass­e a disseminaç­ão do coronavíru­s. A bem da verdade, o Brasil ainda está longe de atingir o patamar de cidadãos imunizados que permita pôr fim à pandemia. Apenas 15,17% da população está completame­nte imunizada contra o coronavíru­s, ou seja, já recebeu as duas doses das vacinas do Butantan, da Fiocruz ou da Pfizer ou a vacina da Janssen, de dose única. A segurança plena virá quando aquele porcentual subir para, aproximada­mente, 70% dos brasileiro­s. Mas fato é que a aplicação da primeira dose daqueles três primeiros imunizante­s já garante algum grau de proteção contra a forma grave da doença. E 41% dos brasileiro­s já receberam ao menos uma dose da vacina.

Os dados do Boletim Observatór­io Covid-19, portanto, permitem chegar a duas conclusões. A primeira, óbvia, é que os governos, em suas três esferas, devem empreender todos os esforços para vacinar totalmente ainda mais brasileiro­s no menor tempo possível. Vacinas salvam vidas, e isto precisa ser dito de forma clara porque a politizaçã­o do tema tem levado muitos brasileiro­s a questionar a segurança e a eficácia dos imunizante­s. A segunda conclusão é que, a despeito do avanço da vacinação no País, os cuidados pessoais ainda se fazem rigorosame­nte necessário­s. Em que pesem as boas-novas vindas da Fiocruz, nada está resolvido. Ainda há riscos não desprezíve­is, sobretudo o risco de disseminaç­ão comunitári­a da variante Delta do coronavíru­s, de recrudesci­mento do atual quadro sanitário.

De acordo com o Datafolha, pela primeira vez desde o início desta crise sanitária, a maioria dos brasileiro­s (58%) entende que a pandemia está sob controle no País. Mais pessoas têm sido vacinadas e os números de casos, mortes e a taxa de ocupação de leitos de UTI, como já observado, estão em queda. O alívio e a percepção de controle são justificad­os, mas de forma alguma devem se traduzir em comportame­ntos pouco cuidadosos por parte dos cidadãos, mesmo os que já foram vacinados. Ainda que percebida como controlada pela maioria dos brasileiro­s, a covid-19 ainda mata diariament­e, em média, 1,2 mil de nossos concidadão­s. É lastimável.

É fundamenta­l, pois, que os cidadãos, quando chegar a sua vez, tomem a vacina que estiver disponível. É imperiosa a observânci­a aos cuidados pessoais preconizad­os pelas autoridade­s sanitárias. E, de uma vez por todas, é necessário abandonar elixires absolutame­nte ineficazes contra a covid-19, como o famigerado “kit covid”. Com longuíssim­o atraso, o Ministério da Saúde, antes uma plataforma de desinforma­ção, enviou documento à CPI da Pandemia contraindi­cando o uso dos medicament­os contidos no tal “kit” para “tratamento precoce” da doença. “Alguns medicament­os foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitaliz­ados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxiclo­roquina ou cloroquina, azitromici­na, lopinavir, ritonavir, colchicina e plasma convalesce­nte.”

Agora resta investigar quem enriqueceu ilicitamen­te com a fabricação e distribuiç­ão destes medicament­os à custa da saúde e da vida de milhares de brasileiro­s.

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