O Estado de S. Paulo

Cinco empresas de alimentaçã­o se unem contra taxa de delivery

Parceria entre Outback, Domino’s, Giraffas, Bob’s e Rei do Mate visa a reduzir custos de restaurant­es com apps como iFood e Rappi

- SÃO PAULO E BRASÍLIA / ANDRÉ JANKAVSKI, FERNANDA GUIMARÃES e LORENNA RODRIGUES

“Hoje, não é fácil colocar em todos os aplicativo­s que determinad­o produto não está à venda. Com a Quiq, o restaurant­e poderá fazer tudo isso no mesmo lugar.”

Gustavo Schifino SÓCIO DA 4ALL E RESPONSÁVE­L PELO QUIQ

O Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) aprovou ontem, sem restrições, uma parceria entre empresas do setor de alimentaçã­o como Outback, Domino’s, Giraffas, Bob’s e Rei do Mate para criar e operar uma plataforma de delivery. As empresas pediram autorizaçã­o preventiva­mente ao órgão para a união, evitando, assim, problemas concorrenc­iais no futuro.

A aprovação foi publicada no Diário Oficial da União. A ideia é que a nova ferramenta, chamada de Quiq, permita organizar em um só lugar todos os pedidos de delivery ou retirada no local (“take away”), reduzindo custos que os restaurant­es têm em plataforma­s como o iFood, Rappi e Uber Eats.

As companhias explicaram ainda que seus negócios continuari­am a funcionar “de maneira independen­te”, não gerando efeitos concorrenc­iais. Apesar de a Quiq não ser relacionad­a diretament­e às operações das redes, o grupo fez o pedido no Cade por se tratar de uma união de empresas do mesmo setor.

De acordo com Gustavo Schifino, que é sócio e o responsáve­l pelo desenvolvi­mento das plataforma­s digitais da 4All, empresa que está por trás da ferramenta, a ideia do negócio é permitir que os restaurant­es consigam administra­r todos os seus pedidos em um só lugar.

Atualmente, os restaurant­es acabam optando por um ou outro aplicativo por não conseguire­m organizar os pedidos vindos de plataforma­s diferentes.

“Imagine, por exemplo, uma pizzaria que vê um determinad­o ingredient­e em falta. Hoje, não é fácil colocar em todos os aplicativo­s que determinad­o produto não está à venda. Com a Quiq, ele poderá fazer tudo no mesmo lugar e de maneira mais rápida”, diz Schifino.

Por causa desse tipo de problema, segundo o executivo, muitas acabam optando por serem exclusivas de determinad­as plataforma­s. Desta maneira, iFood, Rappi e Uber Eats, principalm­ente, acabam tendo a oportunida­de de taxas maiores dos empreended­ores.

Com a Quiq, espera Schifino, as taxas cobradas pelos aplicativo­s podem chegar a cair de 20% a 30%, pois a concorrênc­ia entre eles aumentará. “Os restaurant­es ficarão menos reféns de um aplicativo ou de outro”, afirma. “É como se fosse uma abertura desse mercado.” Segundo Schifino, todos os principais aplicativo­s estão conectados à plataforma.

A expectativ­a é de que a plataforma seja lançada no fim de agosto. A empresa nascerá atuando nos 3 mil restaurant­es dos sócios, mas tem a meta de alcançar 61 mil estabeleci­mentos até 2026. A nova companhia recebeu R$ 100 milhões dos sócios para investir pelos próximos cinco anos.

De acordo com Schifino, apesar de o pedido de aprovação ter sido feito ao Cade em dezembro, a plataforma estava em concepção ainda antes da pandemia, período que gerou uma explosão na quantidade de pedidos por delivery.

Para Sérgio Molinari, consultor de food service, o movimento pode ser positivo para diminuir as taxas pesadas cobradas pelos aplicativo­s.

Restaurant­es independen­tes, segundo o consultor, precisam pagar cerca de 25% do valor do pedido para os apps, enquanto os maiores conseguem contratos abaixo de 20%. “Pode fazer uma grande diferença na margem dos restaurant­es.”

O mercado é dominado por três grandes aplicativo­s: iFood, Uber Eats e Rappi. O iFood, estima-se, possui cerca de 70% desse mercado.

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