O Estado de S. Paulo

Haiti prende chefe de segurança de presidente assassinad­o

Investigad­ores tentam determinar se entrada de mercenário­s no palácio foi facilitada

- PORTO PRÍNCIPE / AFP, REUTERS e W.POST

O chefe da segurança do palácio presidenci­al do Haiti, Dimitri Hérard, foi preso ontem. Ele esteve seis vezes este ano na Colômbia, de onde é a maior parte dos executores do presidente Jovenel Moise, morto na semana passada.

O chefe da segurança do palácio presidenci­al do Haiti, Dimitri Hérard, foi posto ontem sob custódia, enquanto os investigad­ores tentam determinar se ajudantes internos facilitara­m o caminho dos mercenário­s que assassinar­am o presidente Jovenel Moise no dia 7. Além de Hérard, outros quatro membros da equipe de segurança do presidente foram chamados para depor no início da semana.

Segundo as investigaç­ões, Hérard havia passado por Bogotá seis vezes este ano a caminho de outros países latino-americanos, parando por dois dias ou mais em pelo menos uma ocasião. Os mercenário­s contratado­s para assassinar Moise são ex-militares colombiano­s.

Hérard ainda não foi declarado suspeito. Mas as dúvidas se concentrar­am no fato de que nenhum membro da força de segurança de Hérard deu um único tiro durante a invasão ou foi ferido, apesar da abordagem de duas dúzias de mercenário­s armados, sua entrada no complexo presidenci­al e os disparos que mataram Moise e feriram gravemente a mulher dele.

Agentes do FBI, enviados para ajudar nas investigaç­ões, foram vistos entrando na residência presidenci­al e um funcionári­o de alto escalão da Casa Branca disse que outros oito agentes do FBI estavam a caminho do Haiti.

O diretor-geral da polícia haitiana, León Charles, revelou que foi descoberto que o assassinat­o de Moise foi planejado na República Dominicana. Uma foto divulgada recentemen­te mostra dois dos suspeitos já detidos no Haiti e o ex-senador Joel John Joseph, conhecido com “Triple J”.

“Estavam reunidos em um hotel de Santo Domingo. Ao redor da mesa estão os autores intelectua­is, um grupo de recrutamen­to técnico e um grupo de arrecadaçã­o de fundos”, disse Charles à imprensa. “Algumas das pessoas na foto já foram detidas. É o caso do médico Christian Emmanuel Sanon e de James Solages. Este último coordenou com a empresa de segurança venezuelan­a CTU, com sede em Miami”, acrescento­u.

Na foto também aparece Antonio Emmanuel Intriago Valera, responsáve­l do CTU, assim como o chefe da empresa Worldwide Capital Lending Group, Walter Veintemill­a. Segundo Charles, a empresa “teria arrecadado fundos para financiar” o assassinat­o.

“Havia um grupo de quatro (mercenário­s) que já estava no Haiti. Os outros chegaram em 6 de junho. Passaram pela República Dominicana. Nós rastreamos o cartão de crédito que foi usado para comprar as passagens”, afirmou.

Até o momento, mais de 20 pessoas foram detidas, incluindo 18 colombiano­s e 3 haitianos, dois deles com nacionalid­ade americana. Três colombiano­s foram mortos pela polícia. “São ex-soldados das forças especiais da Colômbia. São especialis­tas, criminosos. Esta foi uma operação bem planejada”, afirmou o chefe de polícia.

Em Washington, um portavoz do Pentágono confirmou que alguns dos ex-militares colombiano­s receberam treinament­o dos EUA, como parte de uma cooperação entre as forças de segurança dos dois países que se estende por décadas.

A Polícia Nacional do Haiti negou ontem uma reportagem da Caracol News, uma estação de TV privada com sede na Colômbia, alegando que o primeiro-ministro interino Claude Joseph foi o mentor do assassinat­o de Moise. “A polícia alerta sobre toda propaganda criando um desvio”, disse, acrescenta­ndo que o governo não tem evidências para apoiar as alegações.

A TV Caracol veiculou uma reportagem segundo a qual investigad­ores americanos e colombiano­s apontam o primeiro-ministro como um dos mandantes intelectua­is do crime.

Claude Joseph assumiu o controle do país e declarou estado de emergência após a morte de Moise, e éo responsáve­l por organizar as próximas eleições presidenci­ais. A hipótese de participaç­ão do primeiro-ministro ganhou força pelo fato de que, dois dias antes de ser morto, o ex-presidente havia nomeado um substituto para Joseph, que não teve tempo de ser empossado.

O diretor da Polícia Nacional da Colômbia, Jorge Luis Vargas, declarou não ter informaçõe­s sobre a participaç­ão do primeiro-ministro no crime, e afirmou que as investigaç­ões estão sendo conduzidas pela polícia haitiana. “Quero reiterar que a investigaç­ão judicial, as hipóteses, a explicação, não estão com as autoridade­s colombiana­s.” Joseph não comentou sobre o caso.

 ?? JOSEPH ODELYN / AP ?? Investigaç­ão. Agentes do FBI diante da residência presidenci­al em Porto Príncipe, onde nenhum segurança fez disparos
JOSEPH ODELYN / AP Investigaç­ão. Agentes do FBI diante da residência presidenci­al em Porto Príncipe, onde nenhum segurança fez disparos

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