O Estado de S. Paulo

MÚSICA EM INTERLAGOS

Criador do Rock in Rio, Roberto Medina lança The Town, megaevento para a cidade em setembro de 2023.

- Ubiratan Brasil

O empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio, lembrou-se de um ilustre amigo ao sentir uma forte emoção com o início de seu novo projeto. “Perguntei a Frank Sinatra se, com a experiênci­a, ele já ficava tranquilo antes de cada show. A resposta foi: ‘Ainda sinto as pernas tremendo’. É como estou agora”, comentou o carioca, em conversa com o Estadão, sobre seu mais recente e ambicioso projeto: The Town, megafestiv­al de música que vai acontecer em setembro de 2023, no Autódromo de Interlagos.

Serão cinco dias de festa, com shows acontecend­o simultanea­mente em seis espaços, todos com cenografia temática e inspirada em ícones da arquitetur­a paulistana, como a Catedral da Sé e a Estação da Luz. “A grande personagem, na verdade, é a cidade de São Paulo”, comenta Medina, que se encontra nesta sexta, 16, com o prefeito Ricardo Nunes para assinar o contrato de aluguel do autódromo para os anos de 2023, 2025 e 2027.

Para a primeira edição, o investimen­to inicial será de R$ 240 milhões, sem o uso de leis de incentivo. Os cinco dias do evento deverão gerar um ganho econômico de R$1,2 bilhão aos cofres públicos, além da geração de 20 mil empregos.

Uma das primeiras medidas será a adequação do autódromo. “Em 1984, quando preparei o primeiro Rock in Rio, ficou claro que necessitar­ia de um ambiente muito sofisticad­o e seguro, pois o interesse é atrair famílias”, explica Medina, apontando alguns dos ajustes necessário­s, como a construção de banheiros e instalação de grama sintética com rápida drenagem. A área gastronômi­ca também promete ser requintada, assim como o espaço reservado para os Vips. “Será um parque temático da música e boa parte das adaptações será definitiva e poderá ser usada por outros eventos em Interlagos.”

Para os shows, os palcos serão criados sob a inspiração da história e da arquitetur­a de São Paulo. Assim, a imagem que aparece nesta página mostra a maquete do palco que reproduz uma praça e vai celebrar os anos de ouro, 1950 e 1960. “Vai ser o encontro das big bands com o som do metal – nosso plano é mostrar a mistura do som melódico com a batida mais moderna”, conta Medina.

Outros espaços vão celebrar a Zona Industrial de São Paulo (com destaque para o hip-hop), além de uma área dedicada à música eletrônica, outra, denominada Stage 1, para shows mais intimistas, também um espaço para bandas novas, além, é claro, do palco principal, onde quatro grandes nomes da música vão se apresentar diariament­e. “Nossa intenção é buscar as figuras mais expressiva­s do momento”, explica Medina, lembrando que alguma repetição de nomes será inevitável. “No metal, por exemplo, não é grande o número de bandas capazes de atrair um público de 100 mil pessoas. Mas é uma audiência fiel: se você programar shows do Iron Maiden uma vez por mês, vai sempre lotar.”

Medina pretende projetar para o The Town experiênci­as como as realizadas no Rock in Rio, que teve o Espaço Favela, ou seja, áreas reservadas a pontos marcantes na história da cidade. “É uma oportunida­de de também valorizar a população daquele espaço, que também poderá trabalhar no evento”, conta o empresário, que considera essencial associar a diversão a projetos sociais.

O Rock in Rio, por exemplo, se baseia em seu conceito “Por um Mundo Melhor” para práticas como redução e reutilizaç­ão de resíduos produzidos durante o evento. “Projetos sociais não são mais opcionais, pois a humanidade passa por momentos complicado­s e The Town não ficará de fora – vamos pensar em algo envolvendo a Floresta Amazônica, que poderá se chamar Projeto Uirapuru”, comenta o empresário, que há muito sonhava organizar uma programaçã­o na capital paulista.

“Depois do Rio, fiz eventos em Portugal, Espanha e Estados Unidos, mas faltava São Paulo, que, além de ser polo industrial do Brasil, tem um público ávido por cultura”, observa Medina, lembrando que, na última edição do Rock in Rio, em 2019, cerca de 200 mil paulistas comparecer­am. “São Paulo também abre mais facilmente as portas para o mundo, servindo de atração para visitantes de outros países. É uma cidade inspirador­a e cosmopolit­a, além de pronta para sediar um evento desta magnitude.”

Alguns problemas inerentes da capital, porém, provocaram alterações no plano. O trânsito habitualme­nte complicado às sextas-feiras em São Paulo, por exemplo, convenceu o empresário a distribuir os cinco dias de shows em três finais de semana: serão três sábados e dois domingos. “Isso implicou um aumento dos custos, mas optei por isso para oferecer mais conforto ao público que teremos, calculado em 105 mil pessoas por dia.”

Medina conta que o line-up do festival deverá ser montado um ano antes, ou seja, em setembro do próximo ano. “É quando os artistas e as bandas já estão com suas agendas mais definidas”, explica ele que, em outubro, vai anunciar mais detalhes do The Town – antes, em agosto, divulgará como será o Rock in Rio de 2022, que passará a acontecer em anos pares. “Será um dos melhores”, promete.

A maior agilidade para montar hoje as programaçõ­es contrasta com o início da carreira de Medina no show business – publicitár­io de sucesso, ele decidiu, em 1984, criar o Rock in Rio. Mas, apesar de contar com US$ 50 milhões, não obtinha sucesso: em 60 dias, recebeu negativas de 70 músicos e bandas.

O Brasil não tinha tradição em grandes shows, o que aumentava a desconfian­ça. “Nem os funcionári­os da minha agência acreditava­m”, lembra. A solução veio quando aquele velho amigo, Frank Sinatra, colocou o próprio relações-públicas, Lee Solters, nas negociaçõe­s, que ajudou a vender a ideia do maior show de rock do mundo no Brasil. A imprensa americana comprou a ideia e logo vários dos artistas que tinham recusado reconsider­aram. “Agora, mesmo experiente, minhas pernas ainda tremem, como as do Sinatra.”

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FOTOS: WILTON JUNIOR/ESTADÃO Maquete. Um dos palcos que vão receber shows focados nos chamados anos dourados, 1950 e 1960: a ideia é unir o som das big bands daquela época com a batida ritmada do metal
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Medina. Empresário se encontra hoje com o prefeito Ricardo Nunes para assinar o termo de aluguel do Autódromo de Interlagos para três edições

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