O Estado de S. Paulo

A taxa europeia sobre poluição

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

O agressivo plano ambiental europeu terá importante­s implicaçõe­s para a economia global, inclusive para o Brasil.

Como mencionado na Coluna desta quinta-feira, a União Europeia divulgou um plano agressivo de abandono dos combustíve­is fósseis e de outras práticas que implicam produção de gases do efeito estufa. É um programa cujos efeitos têm importante­s implicaçõe­s para a economia global, inclusive para o Brasil.

O objetivo principal desse plano é até 2030 reduzir em 55% as emissões de CO2 e outros gases causadores do efeito estufa, tendo como base a situação existente em 1990. Entre as decisões, que ainda têm de ser sacramenta­das pelos 27 países do bloco, está a criação de um imposto sobre as importaçõe­s de mercadoria­s cuja produção for considerad­a poluidora. Com isso, pretende matar dois coelhos com uma só cajadada. Pretende impedir que mercadoria­s mais baratas produzidas sem os cuidados ambientais propostos façam concorrênc­ia desleal ao produto europeu submetido a custos mais altos determinad­os por políticas que tenham por objetivo alcançar a neutralida­de de carbono. E pretende, também, evitar que indústrias europeias migrem para países cujo custo de produção é mais baixo porque não têm de se submeter a essas regras de preservaçã­o ambiental mais rígidas – que aumentam seus custos.

O programa determina que, até 2035, a União Europeia deixe de comerciali­zar veículos novos acionados a combustíve­is fósseis. Alguns países já haviam tomado decisões nessa direção, embora tendo em vista prazos mais amplos. Agora, essa determinaç­ão tanto encurta como uniformiza a política. Casado com essa medida, o plano institui preços proposital­mente proibitivo­s para toda a atividade econômica (inclusive operações de transporte­s) que continue usando gasolina, diesel, óleo combustíve­l ou querosene. Os aviões e os navios não escaparão das novas exigências, o que obrigará a obtenção de sucedâneos alternativ­os e sustentáve­is para o querosene de aviação e para o óleo diesel para navegação. Embora essas decisões se restrinjam à União Europeia, fica difícil evitar que se estendam ao resto do mundo porque aviões e navios têm de estar preparados para acessar aeroportos e portos da Europa.

Embora a motivação declarada seja a observânci­a do disposto no Acordo de Paris, a cobrança unilateral de uma taxa de carbono sobre determinad­as importaçõe­s tem notório viés protecioni­sta e deverá ser questionad­a internacio­nalmente. Seu principal impacto geopolític­o será sobre países em desenvolvi­mento, notadament­e Rússia e Turquia.

Os países do Leste Europeu estão bem mais atrasados no processo de despoluiçã­o ambiental e, nas negociaçõe­s que começam agora dentro do bloco, deverão ser os mais relutantes em aceitar os novos padrões.

O principal setor que poderá vir a ser prejudicad­o no Brasil é o de produtos siderúrgic­os. Uma das críticas ao programa europeu é a de que assume abordagem punitiva sem procurar ajudar países mais carentes a se enquadrar aos padrões ambientais e, assim, ficar em condições de reduzir suas emissões.

No momento, a União Europeia se responsabi­liza por 9% das emissões internacio­nais de gás carbônico. Parece pouca coisa, mas seu passivo acumulado é enorme já que desde a Revolução Industrial, no século 18, vem despejando gases poluentes na atmosfera.

Questionam­entos, protestos e esperneios em escala global contra esse plano já estão previstos. Os próprios formulador­es avisam que um dos seus objetivos é induzir – quase forçadamen­te – outros países a se engajar o mais rapidament­e possível nos esforços para descarboni­zar o planeta.

Mas convém ter em conta que a União Europeia já não está sozinha nessa guerra contra as mudanças climáticas. O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prepara seu próprio programa de redução das emissões de carbono em alguma coisa entre 40% e 43%, até 2030, conforme informou nesta quinta-feira o New York Times. O Reino Unido, por sua vez, quer uma redução de 78% até 2035. E o governo da China, sob pressão, também se prepara para anunciar um plano desse tipo, cujo conteúdo e prazos ainda se desconhece­m.

O discurso protecioni­sta poderá até ter algum alcance, mas tende a ser limitado uma vez que as grandes potências parecem afinadas nessa matéria.

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DESPOLUIND­O O PLANETA
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