O Estado de S. Paulo

• Emendas de relator mantidas

Pela primeira vez, o Executivo terá um prazo para empenhar as verbas; indicações do relator-geral foram base do orçamento secreto

- Daniel Weterman Camila Turtelli Anne Warth / BRASÍLIA

O Congresso alterou o projeto de Lei de Diretrizes para turbinar o pagamento de emendas parlamenta­res pelo governo em 2022, ano eleitoral.

O Congresso fez uma série de alterações no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO), aprovado ontem, para turbinar o pagamento de emendas pelo governo Jair Bolsonaro em 2022, ampliando os recursos e agilizando os repasses a políticos em ano eleitoral. Pela primeira vez, o Executivo terá um prazo para empenhar as chamadas emendas de relator, que estão no centro do orçamento secreto, revelado pelo Estadão.

O projeto, relatado pelo deputado Juscelino Filho (DEMMA), garante a indicação das verbas pelo relator-geral do Orçamento (RP9) e pelas comissões do Congresso (RP 8), possibilid­ade não prevista no projeto encaminhad­o inicialmen­te pelo Executivo. As emendas do orçamento secreto foram usadas pelo governo no ano passado para destinar recursos a redutos eleitorais de parlamenta­res sem os critérios de distribuiç­ão e transparên­cia adotados para as demais emendas. O mecanismo foi questionad­o no Tribunal de Contas da União (TCU). A Corte concluiu que o modelo fere a Constituiç­ão.

Com as mudanças, o relatorger­al da Lei Orçamentár­ia Anual (LOA) de 2022, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), terá o poder de aumentar o valor das verbas federais no próximo ano. Essas indicações devem ser divididas entre deputados, senadores e ministério­s do governo. Os parlamenta­res derrubaram uma tentativa da oposição de limitar o montante e estabelece­r a distribuiç­ão igualitári­a entre bancadas do Congresso. Na prática, a medida reforça o poder de barganha do governo para favorecer parlamenta­res da base de apoio no Legislativ­o. No ano passado, por exemplo, deputados e senadores apontaram o destino de cada fatia por meio de ofícios enviados diretament­e às pastas do governo, recuperand­o antigo modelo de negociação que beneficia congressis­tas da base de apoio.

“Essas emendas de relator – que foram classifica­das como orçamento secreto – são um grave erro que o Parlamento está cometendo. Essa forma de distribuir recursos do Orçamento não vai terminar bem”, afirmou o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ).

A presidente da Comissão Mista do Orçamento (CMO), Rose de Freitas (MDB-ES), prometeu garantir a transparên­cia dessas indicações no Orçamento. “Será tudo factível num debate amplo, aberto, e a palavra que eu mais gosto tem sido uma prática na minha vida, permanente­mente: transparên­cia. Não será nem um centímetro longe disso”, disse a senadora.

Pelo projeto aprovado, o Executivo terá seis meses, a partir da aprovação do Orçamento do ano que vem, para empenhar as emendas de relator. O empenho representa a reserva financeira da verba nas contas públicas e destrava a fase seguinte, que é a entrega efetiva da obra. Se o Orçamento for aprovado e sancionado até janeiro, por exemplo, o governo terá de empenhar todas as emendas de relator até julho, garantindo recursos para redutos eleitorais antes das eleições de outubro.

Verba. No caso das emendas de relator, a execução deverá respeitar as indicações dos beneficiár­ios e a ordem de prioridade feitas pelo autor da emenda, ou seja, o próprio relatorger­al. Isso significa que caberá a ele indicar para onde vai o recurso na hora da liberação. A proposta, porém, não prevê nenhum mecanismo para identifica­r qual parlamenta­r influencio­u e definiu o destino final do recurso.

Em 2021, as emendas de relator aumentaram o volume de emendas parlamenta­res de R$ 17 bilhões para R$ 33,8 bilhões, após os vetos presidenci­ais. Para 2022, o valor só será definido na Lei Orçamentár­ia Anual (LOA), que deve ser discutida pelo Congresso no segundo semestre deste ano.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Legislativ­o. Deputado Juscelino Filho, relator da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO)

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