O Estado de S. Paulo

Chuvas matam pelo menos 69 na Europa

Catástrofe. Os Estados alemães mais afetados foram Renânia-Palatinado, com 28 mortos, e Renânia do Norte-Vestfália, com 30; extraordin­ário dilúvio – o pior dos últimos 100 anos – desencadeo­u apelos para que se acelerem as ações contra as mudanças climátic

- BERLIM / W. POST, AP, AFP e REUTERS

Casas parcialmen­te destruídas por inundação em Schuld, na Alemanha, país mais atingido pelas fortes chuvas de verão na Europa, com 58 mortos; a Bélgica tinha registro de 11 mortes ontem. A mais intensa chuva em um século desencadeo­u apelos para que se acelerem as ações contra as mudanças climáticas.

Inundações varreram uma faixa da Europa Ocidental ontem matando ao menos 69 pessoas, arrastando vilarejos inteiros em turbulenta­s águas marrons e revirando carros após um dilúvio de verão (no Hemisfério Norte) em níveis que não eram vistos na região havia um século.

Pelo menos 58 pessoas morreram na Alemanha, de longe o país mais atingido, onde vilarejos inteiros ficaram isolados. Algumas casas foram simplesmen­te arrastadas quando um afluente do Rio Reno transbordo­u. Com o cair da noite de ontem, cresceu o temor de que o número de mortos pudesse aumentar, diante das dezenas de desapareci­dos.

Mais de 200 mil casas ficaram sem eletricida­de. Milhares de pessoas passariam a noite em abrigos improvisad­os em academias de ginástica ou com parentes após deixarem suas casas. Havia ameaça de mais uma noite de chuvas, enchentes e rompimento de barragens.

Na Bélgica, pelo menos 11 pessoas morreram, o que levou o primeiro-ministro Alexander de Croo a apelar por ajuda internacio­nal. Inundações severas também afetaram a Holanda, Luxemburgo e Suíça, e alertas foram emitidos em mais de uma dúzia de regiões da França.

Falando de Washington, onde está em visita oficial para se encontrar com o presidente Joe Biden, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que palavras como chuva forte e inundação são insuficien­tes para descrever o nível da tragédia. “Nessas horas, lugares pacíficos estão passando por uma catástrofe”, disse Merkel, descrevend­o seu choque ao ver relatos de pessoas presas em telhados em seu país.

Segundo ela, algumas pessoas morreram afogadas nos porões de suas casas, e alguns bombeiros morreram ao tentar resgatá-las.

O extraordin­ário dilúvio – em níveis não vistos na região por pelo menos nos últimos 100 anos – desencadeo­u apelos para que se acelerem as ações contra as mudanças climáticas e seja aumentada a proteção contra enchentes em meio a eventos climáticos irregulare­s. A tragédia ocorre um dia depois de a União Europeia anunciar planos ambiciosos para reduzir, em menos de uma década, as emissões líquidas de gases do efeito estufa em pelo menos 55% abaixo dos níveis de 1990.

Nas partes mais atingidas da Alemanha, a precipitaç­ão em apenas 24 horas foi o dobro da média normal para todo o mês de julho, de acordo com o Deutscher Wetterdien­st, a agência meteorológ­ica alemã.

Pelo menos 28 pessoas morreram no Estado da Renânia-Palatinado. Uma região conhecida por sua produção de vinho, os vilarejos ao longo do Vale Ahr foram engolidos pelas águas das enchentes. “De onde vem toda essa chuva? É uma loucura. Houve estrondos espantosos”, disse Annemarie Müller, da localidade de Mayen. “Em 2016 vivemos grandes inundações, mas estas estão ainda pior”, disse Uli Walsdorf, subchefe dos bombeiros de Mayen.

Vídeos mostraram as ruas da cidade transforma­das em rios turbulento­s e outras tomadas por deslizamen­tos de terra. Carros foram revirados e jogados de lado como destroços amassados. Vistos de cima, alguns vilarejos pareciam ter desapareci­do quase completame­nte, apenas

• Riscos

“É uma catástrofe. Há mortos, desapareci­dos e muitas pessoas ainda em perigo”

Malu Dreyer PRIMEIRA-MINISTRA DO ESTADO DE RENÂNIA-PALATINADO

os topos das casas apareciam nas enchentes.

“É uma catástrofe! Há mortos, desapareci­dos e muitas pessoas ainda em perigo. Todos os nossos serviços de emergência estão em ação 24 horas por dia e arriscando as próprias vidas”, disse Malu Dreyer, primeira-ministra de Renânia-Palatinado. “Nunca vimos um desastre semelhante. É realmente devastador.” Segundo ela, helicópter­os foram enviados para o resgate de moradores. A polícia criou uma linha direta para os residentes denunciare­m pessoas desapareci­das.

No Estado vizinho de Renânia do Norte-Vestfália, o número de mortos chegou a 30, de acordo com o Ministério do Interior local. O Exército enviou tanques e caminhões à cidade de Hagen, onde três de suas pontes foram destruídas, para limpar e remover os entulhos das estradas.

“Fiquei totalmente surpreso. Pensei que um dia entraria água aqui, mas nada parecido com isso”, disse Michael Ahrend, morador de Ahrweiler, à agência Reuters. “Isso não é uma guerra, é simplesmen­te a natureza atacando. Finalmente devemos começar a prestar atenção nisso.”

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SASCHA STEINBACH/EPA/EFE Eventos irregulare­s. Inundação do Rio Ahr destruiu parte da cidade de Schuld; drama na Europa fortalece apelos por ações contra mudanças climáticas
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WALSCHAERT­S/AFP Caos. Carros foram empilhados na cidade belga de Verviers
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ERNST METTLACH/AFP Ajuda. Barco de resgate precisou ser ‘guinchado’ em Trier

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