O Estado de S. Paulo

Regras deviam reduzir custos

- Marcelo Issa

Se, por um lado, é urgente que nossos governos adotem políticas eficientes para enfrentar as mazelas da fome, da pobreza e da desigualda­de, imensament­e agravadas pela pandemia, por outro, precisamos mais do que nunca de partidos políticos programáti­cos, íntegros e democrátic­os, capazes de nos conduzir à superação dessas iniquidade­s. O aumento exponencia­l dos recursos públicos destinados ao sistema partidário dos últimos anos, no entanto, aparenteme­nte não tem produzido quaisquer resultados nessa direção.

O financiame­nto público de partidos e campanhas deve garantir o debate plural de ideias e propostas, além de oferecer condições para participaç­ão qualificad­a de eleitores e candidatos. Sem prejuízo desses aspectos, contudo, as carências da população brasileira impõem que se adotem regras que promovam redução nos custos de nossos pleitos.

Propostas como o voto em lista, desde que condiciona­do a mecanismos de fomento à democracia intraparti­dária, produzem esse efeito; propostas como o distritão, que favorecem a competição individual­ista e aumentam a base territoria­l de disputa, tendem a provocar o contrário, pressionan­do para cima os custos de campanha.

É no contexto de uma reforma política que pode reformular todo o sistema político brasileiro a toque de caixa, sem transparên­cia e participaç­ão, durante a pior crise humanitári­a da nossa história, que a Câmara eleva o fundo eleitoral para quase R$ 6 bilhões, sem qualquer sinal no horizonte de que esse aumento vá aprimorar o funcioname­nto de nossa democracia ou favorecer a solução de nossos dilemas.

CIENTISTA POLÍTICO E ADVOGADO, DIRETOR EXECUTIVO DO TRANSPARÊN­CIA PARTIDÁRIA E MEMBRO DO CONSELHO DELIBERATI­VO DA TRANSPARÊN­CIA BRASIL

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