O Estado de S. Paulo

Alto Comando militar temeu golpe de Trump, revela livro

Segundo fontes, chefe do Estado-Maior temia um potencial 'momento Reichstag' para manter republican­o no poder

- WASHINGTON / W.POST

O Alto Comando militar dos EUA traçou estratégia­s para reagir caso o então presidente, Donald Trump, tentasse um golpe de Estado após as eleições de 2020, segundo o livro I Alone Can Fix It (Só Eu Posso Consertar), que será lançado na próxima terça-feira. Escrito pelos jornalista­s Carol Leonnig e Philip Rucker, do jornal The Washington Post, o livro afirma que o chefe do Estado-Maior, general Mark Milley, e os demais oficiais planejaram renunciar para não cumprir ordens ilegais.

Nas últimas semanas do mandato de Trump, o principal líder militar do país se preocupou com o que o presidente poderia fazer para manter o poder após perder a reeleição, comparando sua retórica com a de Adolph Hitler durante a ascensão da Alemanha nazista e perguntand­o aos confidente­s se um golpe estava próximo, segundo o livro dos dois repórteres, vencedores do Pulitzer.

Enquanto Trump fazia alegações falsas sobre fraudes na eleição presidenci­al de 2020, Milley ficava cada vez mais nervoso, dizendo a assessores que temia que o presidente e seus seguidores tentassem usar os militares para ficar no cargo.

Milley descreveu uma sensação de “revirar o estômago” ao ouvir as alegações falsas de Trump sobre fraude eleitoral, fazendo uma comparação com o ataque de 1933 ao prédio do Parlamento alemão que Hitler usou como pretexto para estabelece­r a ditadura nazista. “Este é um momento Reichstag”, disse o general a assessores.

As partes do livro relacionad­as a Milley – relatadas pela primeira vez na noite de quarta-feira pela CNN – oferecem uma janela para os pensamento­s do oficial de mais alta patente dos EUA, que se via como um dos últimos defensores da democracia durante alguns dos dias mais sombrios da história americana recente.

Os episódios do livro têm como base entrevista­s com mais de 140 pessoas, incluindo funcionári­os de escalão do governo Trump, seus amigos e conselheir­os. A maioria concordou em falar apenas sob condição de anonimato.

Milley – que foi criticado no ano passado por aparecer ao lado de Trump na Lafayette Square, em Washington, depois que manifestan­tes foram expulsos à força da área – prometeu usar seu cargo para garantir uma eleição livre e justa.

Depois de participar de uma reunião de segurança sobre uma manifestaç­ão pró-Trump que protestari­a contra a eleição, o general disse temer um equivalent­e americano dos “camisas-pardas nas ruas”, aludindo às forças paramilita­res que protegeram os comícios nazistas e permitiram a ascensão de Hitler.

Após a insurreiçã­o fracassada em 6 de janeiro, a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, ligou para o general para pedir sua garantia de que Trump não seria capaz de lançar um ataque nuclear e começar uma guerra.

Na posse de Biden em 20 de janeiro, Milley estava sentado atrás do ex-presidente Barack Obama e da ex-primeira-dama Michelle Obama, que perguntou ao general como ele estava se sentindo. “Ninguém tem um sorriso maior hoje do que eu”, respondeu.

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