O Estado de S. Paulo

África do Sul soma 117 mortos e mobiliza Exército

Governo colocará 25 mil soldados nas ruas por causa de onda de saques, desencadea­da após protestos violentos

- JOHANNESBU­RGO

O Exército sul-africano mobilizou seus reservista­s, e o governo se preparava ontem para enviar milhares de soldados às ruas para conter a violência que abala o país há quase uma semana e já deixou 117 mortos.

Em entrevista coletiva ontem, a ministra interina do gabinete do presidente Cyril Ramaphosa, Khumbudzo Ntshavheni, explicou que 26 das mortes ocorreram na região de Johannesbu­rgo e 91 na Província de KwaZulu-Natal, lar do grupo étnico zulu. Além disso, 2.203 pessoas foram presas.

Johannesbu­rgo estava em relativame­nte calma ontem, após uma onda de saques e incêndios que se espalhou no fim de semana na esteira dos primeiros incidentes na região zulu (leste), ligados à prisão do expresiden­te Jacob Zuma,

Por conta própria, em um país onde poucos podem contar com um Estado cronicamen­te deficiente, vários moradores começaram a limpar e reparar os estragos.

No centro de Johannesbu­rgo, muitas lojas permanecer­am fechadas ontem, enquanto alguns comerciant­es, proprietár­ios e funcionári­os esvaziavam suas vitrines. As ruas estavam bloqueadas por barricadas e carcaças de carros incendiado­s.

“Os danos são terríveis. As pessoas estão tentando salvar o que podem”, relatou Michael Sun, chefe da segurança na capital econômica do país, do partido de oposição Aliança Democrátic­a. “E a pior parte é que muitos comerciant­es não têm seguro. Eles não têm a quem recorrer para pedir indenizaçã­o.”

Pela manhã, nenhum novo local de saque foi relatado na cidade. Ainda assim, o Exército se preparava para aumentar suas tropas nas ruas, com o objetivo de estabiliza­r essa relativa calma em Johannesbu­rgo e pacificar as zonas mais tensas – em particular, as grandes cidades de Kwazulu-Natal (KZN, leste), Durban e Pietermari­tzburgo, onde os incidentes continuava­m.

A rodovia que liga Johannesbu­rgo a Durban foi liberada de seus últimos bloqueios, colocados no dia seguinte à prisão de Jacob Zuma. Envolvido em vários escândalos de corrupção, o ex-presidente continua popular em sua região de origem.

Na segunda-feira, Ramaphosa autorizou o envio de 2,5 mil soldados. Dois dias depois, o governo dobrou esse número. Algumas horas mais tarde, o Ministério da Defesa anunciou sua intenção de mobilizar 25 mil soldados para lidar com a emergência.

O surto de violência é alimentado por problemas sociais preexisten­tes, como extrema desigualda­de, desemprego e altos níveis de criminalid­ade no país, além da pandemia de covid-19./AFP

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