No Ceará, mãe chora ‘menino que foi pro céu’
Em 1º de julho de 2020, a agricultora Leidiane Rodrigues, de 32 anos, recebeu ligação de madrugada, dizendo que o filho Mizael, de 13 anos, havia sido baleado. Ao chegar no hospital, a enfermeira já deu a notícia: “Seu menino já foi para o céu”.
Mizael foi uma das 4.039 vítimas de homicídio no Ceará em 2020. Com isso, a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes chegou a 45,2, a mais alta do País. O crescimento no número de casos entre 2019 e o ano passado foi de 75%. O caso de Mizael se tornou emblemático no Estado porque o jovem foi morto por policiais enquanto dormia na casa da tia em Chorozinho, a 68 quilômetros de Fortaleza. A versão da polícia é de que os agentes procuravam um adolescente com histórico de atos infracionais, que estaria armado no momento do crime. “Quando eu estava doente era ele quem cuidava de mim. Agora no dia 1º, fez um ano que estou sem meu filho, ainda dói muito”, conta Leidiane.
Sobre a alta de mortes, a Secretaria de Segurança do Ceará, da gestão Camilo Santana (PT), disse que o motim de PMs em fevereiro de 2020 “interrompeu sequência de mais de 30 meses seguidos de redução” nas mortes em crimes violentos”. Para a pasta, também pesou a pandemia, pois foi preciso afastar profissionais com sintomas.
Perfil. Segundo o Anuário de Segurança Pública, 5.855 adolescentes de 12 a 19 anos foram vítimas de mortes violentas e houve registro de 170 assassinatos de crianças de até 4 anos. No total, 54,3% dos mortos estavam na faixa até 29 anos.
Homens representaram 91,3% das vítimas de assassinato em 2020. Por sua vez, os negros correspondem a 76,2% das pessoas assassinadas. “Todos os bons programas de prevenção que existem no mundo pensam como lidar com o público mais vulnerável”, diz Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum. “Para mudar o cenário, o Brasil precisa compreender a sua realidade e pensar políticas antirracistas e de prevenção da violência em relação à juventude”, defende.