O Estado de S. Paulo

Abrindo o leque

Magalu compra Kabum! para crescer em games

- Talita Nascimento

Ao arrematar o site de venda de games e tecnologia Kabum!, a varejista Magazine Luiza fez a maior aquisição de sua história. Segundo o presidente da empresa, Frederico Trajano, a proposta foi ousada porque o Kabum! estava na mira de concorrent­es. Com a compra, o Magalu parece ter convencido o mercado de sua estratégia. Apesar do desembolso necessário para a aquisição, os papéis da empresa fecharam o dia em alta de 3,45%, cotados a R$ 23,72.

O valor da compra pode chegar a R$ 3,5 bilhões. A primeira parcela será paga à vista, em dinheiro, e será de R$ 1 bilhão. As demais serão acertadas até janeiro de 2024, em ações do Magalu – os pagamentos dependerão de metas financeira­s acertadas para o período. Criado em 2003, em Limeira, no interior de São Paulo, o Kabum! é focado em eletrônico­s e tem força na chamada linha gamer, de produtos de alto desempenho para a prática de jogos online.

A plataforma criada pelos irmãos Thiago e Leandro Ramos estava à venda desde o fim de 2020, com assessoria do banco Itaú BBA. A empresa teve receita bruta de R$ 3,4 bilhões e lucro de R$ 312 milhões nos últimos 12 meses. “Era um ativo que interessav­a a outros também. Se fôssemos muito conservado­res, perderíamo­s o negócio”, disse Trajano.

A grande aposta no Kabum! veio depois de uma série de aquisições menores nos últimos meses. Trajano considera natural a combinação do e-commerce do interior de São Paulo com um ecossistem­a maior. “O e-commerce de nicho é muito específico. Por melhor e mais rentável que ele seja, em algum momento um dos grandes players pode entrar no mercado deles.”

Para o banco Credit Suisse, a compra do Kabum! pelo Magazine Luiza é positiva e deve funcionar como um veículo de cresciment­o de longo prazo. “Como já destacamos, no e-commerce o caixa deixou de ser um grande diferencia­l. O uso correto desse caixa é o que faz a diferença. O Magazine Luiza parece ter a capacidade de combinar as pessoas certas com uma estratégia atraente”, disse o banco, em relatório.

O Credit Suisse avalia que as perspectiv­as para as vendas online no País seguem altas. “Os fundamento­s de longo prazo do e-commerce permanecem intactos, apesar dos desafios de curto prazo com as comparaçõe­s mais difíceis de 2020. Acreditamo­s que o Magazine Luiza é beneficiár­io dessa tendência.”

Segundo especialis­tas, os R$ 3,5 bilhões a serem pagos pelo Kabum! não estão fora da realidade do mercado. “Consideram­os os valores envolvidos, sem levar em conta as sinergias, favoráveis para as ações do Magazine Luiza. A operação ainda depende da aprovação do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) , mas acreditamo­s que não haverá remédios relevantes”, aponta o gerente de análise da Ativa Investimen­tos, Pedro Serra.

Dinheiro novo. Em paralelo à aquisição, o Magazine confirmou a realização de uma oferta subsequent­e de ações (followon), com o objetivo de levantar cerca de R$ 3,4 bilhões para o caixa da companhia. A oferta poderá ser acrescida em até 33% do total de ações, elevando o total para R$ 4,6 bilhões.

Os recursos vão impulsiona­r a expansão do Magalu em novos mercados, além de servir para investimen­tos em logística, abertura de novos centros de distribuiç­ão e o pagamento de aquisições estratégic­as, como a do Kabum! e a da Hub Fintech, que custou R$ 290 milhões e acabou de ser aprovada pelo Banco Central e pelo Cade.

“Temos hoje caixa em torno de R$ 4 bilhões (dados do primeiro trimestre), mas gostamos muito de manter uma despesa financeira baixa em relação ao Ebitda. Ano passado, essa relação foi de 30%. Não queremos passar muito disso”, ressalta Frederico Trajano.

A nova captação em Bolsa será liderada pelo Itaú e pelo BTG Pactual – este último foi o assessor do Magazine Luiza na compra do Kabum! – e inclui ainda JPMorgan, Merril Lynch Bank of America, UBS Banco do Brasil, Bradesco BBI, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Santander e XP. Com exceção da XP, todos os demais bancos participan­tes foram adiantados pelo Estadão/Broadcast.

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PAULO WHITAKER / REUTERS–23/10/2017 Dinheiro novo. Magazine Luiza, de Trajano, anunciou nova oferta de ações de R$ 3,4 bi

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