O Estado de S. Paulo

BC compra 41,8 toneladas de ouro de uma vez

Foi a maior operação do gênero em um único mês desde dezembro de 2000, quando começa a série histórica do próprio BC; metal será incorporad­o às reservas internacio­nais do País e, segundo especialis­tas, garantirá maior estabilida­de em períodos de crise

- Fabrício de Castro / COLABOROU HELOÍSA SCOGNAMIGL­IO

No maior negócio do gênero em pelo menos 20 anos, o Banco Central comprou 41,8 toneladas de ouro. O valor não foi divulgado. Com isso, o volume do metal que faz parte das reservas do País saltou para 121,1 toneladas.

Após anos sem alterar de forma substancia­l a quantia de ouro nas reservas internacio­nais, o Banco Central comandado por Roberto Campos Neto comprou 41,8 toneladas do metal em junho. Com isso, o volume de ouro que faz parte das reservas saltou 52,7% em apenas um mês, para 121,1 toneladas – equivalent­es a US$ 6,873 bilhões. O valor da operação de junho não foi divulgado.

Foi a maior compra em um mês desde pelo menos dezembro de 2000, quando começa a atual série histórica compilada pelo BC sobre o perfil das reservas. Em maio, a instituiçã­o já havia adquirido outras 11,9 toneladas. Em dois meses, o BC acrescento­u 53,7 toneladas de ouro às reservas.

Antes, a maior operação de compra de ouro pelo BC havia sido realizada em outubro de 2012, quando foram adquiridas 17,2 toneladas do metal. As reservas internacio­nais, que no fim de junho somavam US$ 352,5 bilhões, funcionam como uma espécie de “seguro” contra crises cambiais. Os recursos são suficiente­s hoje para cobrir os atuais compromiss­os do Brasil em dólar e, por isso, o País se coloca como um credor em moeda estrangeir­a.

A maior parte das reservas é formada por títulos conversíve­is em dólares e por dólares depositado­s em bancos centrais de outros países, no Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e no Banco de Compensaçõ­es Internacio­nais (BIS). No fim de 2020, essa parcela chegava a US$ 332 bilhões, ou 93,4% das reservas. Em comparação, o montante de ouro no fim do ano passado era de US$ 4,1 bilhões, ou 1,2% do total. Com a compra de junho, o metal correspond­e agora a 1,9% das reservas.

Isso não representa uma grande mudança porcentual no perfil de alocação dos recursos das reservas, mas marca uma diferença de postura do BC de Campos Neto em relação a seus antecessor­es. Entre novembro de 2012 e abril de 2021, o BC pouco alterou os volumes de ouro nas reservas. Nesse período, comandaram a autarquia os economista­s Alexandre Tombini, Ilan Goldfajn e o próprio Campos Neto, a partir de 2019.

O economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio de Souza Leal, diz acreditar que provavelme­nte o BC aumentou a compra de ouro como forma de diversific­ação de sua carteira de ativos, com o objetivo de buscar uma maior estabilida­de. “Apesar de ainda ser uma parte pequena das reservas, com essa compra do ouro ele (BC) aumenta um pouco a parte de sua carteira que vai oscilar menos nesses próximos meses.”

A pandemia do novo coronavíru­s teve impacto nas cotações. Em meio à crise, bancos centrais e mesmo empresas de todo o mundo foram em busca do metal como ativo de reserva. Esse aumento de demanda fez a cotação à vista da onça troy na OTC Metals, nos EUA, subir de US$ 1.515,12, no fim de 2019, para US$ 1.896,49 no encerramen­to de 2020 – avanço de 25,2%. O BC não quis comentar o negócio.

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