O Estado de S. Paulo

Será o fim da pandemia?

- Fernando Reinach

Casos e óbitos por covid vêm caindo de modo consistent­e, mas a cepa delta apareceu em diversos locais, o que talvez signifique nova onda.

Onúmero de casos e óbitos no Brasil vem caindo de maneira consistent­e, o que pode indicar o prenúncio do fim da pandemia. Por outro lado, já foram detectados casos da cepa Delta em diversos locais, o que talvez signifique nova onda nas próximas semanas.

Além disso existe um número desconheci­do de casos de reinfecção em pessoas que já tiveram a doença e que foram vacinados com duas doses. O caso do governador João Doria é um exemplo. O fato é que a baixa qualidade do monitorame­nto da pandemia no Brasil e os dados incompleto­s do governo dificultam nossa capacidade de prever o que nos espera nos próximos meses.

Em países com altos níveis de vacinação (mais de 60% da população vacinada com duas doses de vacinas de alta eficácia), onde a pandemia já parecia controlada, a variante Delta está provocando um aumento de casos. Aparenteme­nte isso não refletiu no total de internaçõe­s ou mortes, o que tem sido atribuído ao alto nível de vacinação. Esse fenômeno está em pleno andamento no Reino Unido e está no início nos EUA e em Israel.

Nos EUA o fenômeno já pode ser observado nas estatístic­as nacionais e é muito claro em alguns Estados. Esse aumento de casos tem levado esses países a vacinar os mais jovens e a iniciar a aplicação de uma terceira dose da vacina num esforço de controlar de vez o coronavíru­s. Os fabricante­s de vacina já estão testando doses de reforço com a mesma vacina ou com vacinas desenvolvi­das para proteger contra as novas variantes. Esse movimento tem recebido críticas uma vez que a maior parte da população mundial ainda não foi vacinada, mas acredito que faz parte do papel dos países mais avançados descobrir e testar soluções que possam depois ser estendidas a todo o planeta.

Do lado científico, há dados demonstran­do que a quantidade de anticorpos diminui ao longo do tempo em pessoas vacinadas com vacinas de MRNA (Pfizer) e de adenovírus (Astrazenec­a). Daí, talvez um reforço seja necessário.

Qual a situação no Brasil? Por aqui os níveis de vacinação com as duas doses ainda são muito baixos (menos de 20%) e foram detectados casos da variante Delta. Como o governo só divulga a presença de um ou outro caso da variante e não complement­a essa informação com o número total de amostras analisadas, é impossível sabermos a frequência dessa variante entre os novos casos. Uma possibilid­ade é que a Delta já seja predominan­te por aqui e, nesse caso, talvez não ocorra uma onda de novos casos nos próximos meses. Mas pode ser, também, que esses casos sejam os primeiros no Brasil e a Delta esteja iniciando sua expansão. Se esse for o cenário, é muito provável que tenhamos nova onda de casos nos próximos meses. E, se ela vier, é provável que as hospitaliz­ações e mortes aumentem novamente, já que o nível de vacinação com duas doses ainda é baixo e não sabemos como a Coronavac se comporta com a nova variante. Em suma: não temos os dados necessário­s para saber o que vai ocorrer no Brasil no segundo semestre.

Outro problema, por aqui, é que o governo não divulga os números de testes feitos a cada dia, só o de testes positivos. Se o número de testes executados não for muito maior que o de casos positivos, o número de testes positivos não é um indicador do número real de casos. Esse problema existe desde o início da pandemia e é por esse motivo que os indicadore­s de mortes e de internaçõe­s em UTIS têm sido os mais confiáveis do progresso da pandemia.

Com a vacinação progredind­o é provável que haja uma dissociaçã­o do número de casos e do número de mortes, como vem ocorrendo no Reino Unido. Além disso é indispensá­vel divulgar as estatístic­as do número de pessoas vacinadas com cada uma das vacinas que se contaminam novamente (como Doria), são internadas e vêm a falecer. Sem essa informação será difícil decidir se a população deverá receber um reforço e se ele deve ser feito com a mesma ou com outra vacina. A baixa taxa de vacinação e o esforço de vacinar rapidament­e a população não é desculpa para não enfrentarm­os essas decisões e iniciarmos o planejamen­to para o segundo semestre de 2021.

‘Não temos os dados necessário­s para saber o que vai ocorrer no 2º. semestre’

✽ MAIS INFORMAÇÕE­S: SPIKE-ANTIBODY WANING AFTER SECOND DOSE OF BNT162B2 OR CHADOX1. LANCET https://doi.org/10.1016/ S01406736(21)01642-1 2021

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil