O Estado de S. Paulo

PF abre inquérito para investigar ‘milícias digitais’

- Pepita Ortega

A delegada da Polícia Federal Denisse Dias Rosas Ribeiro informou ontem ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a abertura de inquérito sobre uma suposta organizaçã­o criminosa, “de forte atuação digital, com a nítida finalidade de atentar contra a democracia e o estado de direito”. Denisse também pediu a autorizaçã­o de compartilh­amento da integralid­ade do conteúdo do inquérito dos atos antidemocr­áticos – mídias apreendida­s, quebras de sigilos bancários e telemático­s – para subsidiar as novas apurações.

A investigaç­ão atende a uma decisão de Moraes, que, ao acolher o pedido da Procurador­iageral da República e mandar arquivar o inquérito aberto em abril do ano passado para investigar manifestaç­ões que defenderam a volta da ditadura militar e a intervençã­o das Forças Armadas e atacaram os poderes Legislativ­o e Judiciário, determinou a abertura de novas frentes de apuração conexas – entre elas a investigaç­ão de grupos organizado­s “em prol de ataques contra a democracia”.

Na decisão do dia 1.º de julho, o ministro do STF destacou que os métodos e os núcleos estruturad­os observados no inquérito dos atos antidemocr­áticos são “absolutame­nte semelhante­s” àqueles identifica­dos no inquérito das fake news, que também corre sob sua relatoria.

“A análise dos fortes indícios e significat­ivas provas apresentad­as pela investigaç­ão realizada pela Polícia Federal aponta a existência de uma verdadeira organizaçã­o criminosa, de forte atuação digital e com núcleos de produção, publicação, financiame­nto e político absolutame­nte semelhante­s àqueles identifica­dos no Inquérito 4781, com a nítida finalidade de atentar contra a democracia e o estado de direito”, escreveu Moraes.

Esses grupos, segundo o ministro, podem ter contado com apoio de agentes públicos e deputados bolsonaris­tas, como Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, Bia Kicis (PSL-DF) e Daniel Silveira (PSL-RJ), réu por ataques ao STF, além do assessor especial da presidênci­a Tércio Arnaud. O blogueiro Allan dos Santos, do portal Terça Livre, também é citado como possível integrante do grupo.

Por prevenção, os autos no novo inquérito foram encaminhad­os ao gabinete de Moraes. Parte das outras apurações determinad­as pelo ministro foi enviada à Justiça de São Paulo. Outras duas investigaç­ões permanecer­ão no Supremo, com distribuiç­ão por sorteio.

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