O Estado de S. Paulo

‘Câmara não vai aceitar’, afirma corregedor sobre fala racista

Vereador quer rapidez na discussão sobre uma punição a Arnaldo Faria de Sá por citação a ‘negro de alma branca’

- Bruno Ribeiro

O vereador Gilberto Nascimento (PSC), corregedor da Câmara Municipal de São Paulo, defendeu celeridade nas discussões sobre uma punição ao colega de Casa Arnaldo Faria de Sá (Progressis­tas), acusado de racismo. Nascimento quer que os debates sobre o caso comecem ainda durante o recesso parlamenta­r, que terá início na próxima segunda-feira.

Faria de Sá, ao tentar defender o ex-prefeito Celso Pitta (1946-2009), disse que ele “era um negro de alma branca”. Nos bastidores da Câmara, é tido como certo que o vereador sofrerá algum tipo de punição. Para Nascimento, a cidade exige uma resposta “rápida” do Legislativ­o, que, segundo ele, “não pode aceitar atitudes como esta”. O parlamenta­r se disse surpreso com a atitude do colega, que tem oito mandatos anteriores e já se retratou. Confira trechos de entrevista que ele concedeu ao Estadão:

• Como o senhor vê essa representa­ção e a fala do vereador Faria de Sá?

Para mim, foi uma surpresa. Não acreditei que fosse alguma coisa tão impactante como foi. O termo, a frase. (Na hora da votação) Já até tinha saído do sistema (de votações). Acabei desligando o telefone, mas dez minutos depois começaram as ligações. Foi um espanto né? Mas, claro, foi uma situação que aconteceu. Sabia que chegaria à Corregedor­ia, independen­temente do pedido de desculpas do vereador Arnaldo, que ali na sequência já pediu uma parte pra poder falar. Mas outros vereadores também vieram rechaçando esse tipo de atitude, e eu tenho a mesma opinião, né?

• É o caso de punição?

A punição quem define é o relator. Existem várias formas de punição. Desde a mais grave, que é a que foi pedida no processo, que é a perda do mandato, até a mais branda, que é uma retratação verbal. É um caso atípico para esta Casa. Nós não tivemos na história uma situação dessa.

• Quem será o relator do caso?

Ainda vou entrar em contato com os demais membros para saber aqueles que estão na Casa, porque a gente precisa dar ritmo às coisas. A única coisa que eu prezo é que não gostaria que ficasse uma ferida aberta por tanto tempo. Temos previsão de recesso e sessões marcadas até domingo. Minha ideia é que a gente faça esse processo o mais breve possível. Se preciso for, faremos isso inclusive dentro do recesso, mesmo que em uma reunião extraordin­ária de forma virtual. É uma situação desconfort­ável não só para aquele que praticou essa ação, para aqueles que se sentiram ofendidos, mas para a Casa, para a cidade. A gente tem que demonstrar e tomar as atitudes o mais rápido possível para que esse problema seja sanado e a gente possa mostrar para a sociedade, para a cidade, que a Câmara tem uma opinião formada e não vai aceitar e não deve aceitar atitudes como essa.

• Esse episódio se dá em um ano em que o aumento da representa­tividade da política vinha sendo celebrado. Como o senhor vê isso?

A gente cresceu o número, foi matéria de vários jornais o cresciment­o desta representa­tividade. Acho natural, porém está aquém quando a gente faz um paralelo com o que é a representa­tividade da sociedade. Acho que, em algumas situações, você tem algumas realidades muito próximas, em alguns recortes, mas, nesse caso, nós não temos essa proporcion­alidade representa­da aqui na Câmara.

• Como evitar, no futuro, uma fala como a que foi dita na Câmara Municipal? A punição ao vereador Arnaldo Faria de Sá está relacionad­a a isso?

Fica difícil eu falar sobre a punição. Vai depender do relator. Meu papel, como corregedor, é como o de um juiz. O que tenho de informação é o pedido, que é de pena máxima, a perda de mandato.

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AFONSO BRAGA / REDE CAMARA - 21/1/2021 Corregedor. O vereador Gilberto Nascimento

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