O Estado de S. Paulo

Onda de violência na África do Sul já deixou 212 mortos

Polícia investiga 12 suspeitos de estarem por trás de distúrbios; coalizão de igrejas pede anistia a quem cometeu roubos

- JOHANNESBU­RGO

Os motins e saques na África do Sul deixaram 212 mortos até ontem, segundo as autoridade­s locais, acrescenta­ndo que a maioria das novas mortes ocorreu na região de Kwazulu-natal, no leste do país. Outras seis vítimas foram registrada­s na região de Johannesbu­rgo.

Embora Kwazulu-natal tenha registrado 1.488 incidentes na noite de quinta-feira, a situação parecia mais tranquila na área de Johannesbu­rgo, e autoridade­s afirmam estar retomando o controle no país. “A situação gradualmen­te, mas firmemente, volta ao normal”, afirmou a ministra interina da presidênci­a, Khumbudzo Ntshavheni.

Em um sinal de retorno à estabilida­de, duas rodovias estratégic­as ligando o Porto de Durban a Johannesbu­rgo e à Cidade do Cabo reabriram ontem depois de uma semana.

A polícia sul-africana investiga 12 suspeitos de estarem por trás da onda de violência. Na quinta-feira, o governo anunciou que uma dessas pessoas já havia sido presa e a vigilância das outras 11 havia sido reforçada.

Ainda ontem, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, afirmou que os motins e saques foram provocados e planejados. “Não permitirem­os que a anarquia e o caos simplesmen­te ocorram em nosso país”, disse, na entrada de um shopping saqueado e cercado por soldados.

Enquanto os tanques do Exército passavam pelo destruído shopping Bridge City, Ramaphosa afirmou que o envio de 25 mil soldados poria fim à violência e ao furto desenfread­o nas províncias de Kwazulunat­al e Gauteng.

O Conselho de Igrejas da África do Sul propôs que o governo declarasse uma anistia limitada de duas semanas para que as pessoas pudessem devolver os bens roubados à polícia e não fossem acusadas.

A agitação no país começou depois que o ex-presidente Jacob Zuma começou a cumprir, no dia 9, uma sentença de 15 meses de prisão por desacato ao tribunal. Ele se recusou a cumprir uma ordem judicial para testemunha­r em um inquérito que investiga denúncias de corrupção sob seu mandato, de 2009 a 2018.

A agitação se transformo­u em uma onda de saques em municípios de duas províncias, Gauteng e Kwazulu-natal. Em Durban, manifestan­tes atacaram lojas de varejo e centros industriai­s onde esvaziaram armazéns e os incendiara­m. Estruturas queimadas ainda ardiam ontem.

O Centro de Informaçõe­s de Risco Bancário Sul-africano registrou um aumento de pessoas tentando gastar dinheiro manchado de tinta verde, evidência de que as cédulas foram roubadas de centenas de caixas eletrônico­s arrombados durante os tumultos.

O custo social e econômico de longo prazo da agitação começa a se tornar mais claro. O banco de Wall Street Jpmorgan disse que a onda de violência forçará a economia da África do Sul a se contrair 3% no terceiro trimestre e reduzirá o cresciment­o anual.

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GUILLEM SARTORIO / AFP Alvos. Polícia persegue suspeitos de saques em Durban

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