O Estado de S. Paulo

Com fim de isenções, indústria já vê alta de 12% para remédios

Segundo laboratóri­os, correção seria reflexo do fim de isenções fiscais previsto na reforma do IR; outros setores falam em repasse de custos

- Heloísa Scognamigl­io

O fim de isenções fiscais para cerca de 20 mil empresas, incluído no relatório apresentad­o pelo deputado Celso Sabino (PSDB-PA) para a reforma do Imposto de Renda, pode fazer com que medicament­os, sabonetes e desodorant­es, entre outros produtos, fiquem mais caros. As entidades que representa­m esses setores falam em repassar para os consumidor­es o aumento esperado da carga tributária.

Só no caso dos medicament­os, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuti­cos (Sindusfarm­a) afirma que os preços dos produtos de uso contínuo – com tarjas vermelhas ou pretas e hoje totalmente desonerado­s do PIS e da Cofins – serão diretament­e afetados, com aumento de cerca de 12%.

“Haverá repasse para o consumidor, porque o governo tem uma regra na lei de preços (para o setor) que diz o seguinte: se aumentar a carga tributária, ou se reduzir a carga tributária, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicament­os (CMED) precisa automatica­mente soltar as novas listas de preços máximos ao consumidor. Dependendo do nível de concorrênc­ia de um determinad­o produto, a fabricante pode ou não dar descontos. Mas as listas de preços divulgadas pela CMED trarão o impacto do aumento da carga tributária”, explica o presidente executivo do Sindusfarm­a, Nelson Mussolini.

Segundo a entidade, a classe de medicament­os que é isenta do Pis/cofins e será afetada pela medida representa quase 70% dos produtos oferecidos no País. A entidade critica o fato de que o fim da isenção só vai aumentar a carga tributária dos medicament­os no Brasil – que já é de cerca de 31% no preço final ao consumidor, enquanto a média mundial está em torno de 6%.

“Nossa preocupaçã­o, além do consumidor final, é com o Ministério da Saúde, que compra esses produtos desonerado­s”, diz Mussolini. “Programas como o da Aids, por exemplo, teriam um grande aumento de gasto, porque, com a mudança, o ministério teria de comprar esses medicament­os onerados. O fim dessa desoneraçã­o do Pis/cofins precisa ser muito bem estudada porque vai afetar mesmo a saúde pública.”

A previsão para o fim das isenções foi acertada entre a equipe econômica e o deputado Celso Sabino, relator da reforma do IR na Câmara. O objetivo é que o corte desses benefícios compense a queda de arrecadaçã­o com o Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), prevista para ocorrer em 2022 e 2023. Sabino disse que a ideia, no geral, é reduzir em até R$ 30 bilhões a atual carga tributária que vigora no País.

Higiene pessoal. Para João Carlos Basilio, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), o repasse do aumento da carga tributária para o consumidor é “inevitável”. “Sem dúvida nenhuma, não tem como absorver um impacto brutal desses sem que a gente repasse isso para o consumidor”, afirma. A equipe tributária da associação já estuda uma projeção do impacto no aumento do preço dos produtos.

“Nós estamos em um período de pandemia, nós estamos falando de um produto de uma categoria que é considerad­a essencial, porque uma infinidade de produtos do nosso setor inclusive previne doenças infectocon­tagiosas. Então, não era pertinente que fôssemos envolvidos nessa questão neste momento. Acho o assunto muito grave”, declara Basilio.

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LQFEX/MINISTERIO DA DEFESA-22/5/2020 Impacto. Classe de medicament­os que é isenta de Pis/cofins representa quase 70% dos produtos

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