O Estado de S. Paulo

Texto muda o IR sem resolver problema

- Manoel Pires ✽ COORDENADO­R DO OBSERVATÓR­IO DE POLÍTICA FISCAL DA FGV/IBRE

Nesta semana, o governo fechou acordo com o relator da reforma do Imposto de Renda, com redução da alíquota do IRPJ e manutenção da isenção para holdings familiares.

Além do impacto fiscal negativo de R$ 30 bilhões, que ainda pode aumentar, há o custo de oportunida­de. Os especialis­tas em política fiscal enxergam na tributação sobre dividendos uma forma equilibrad­a de ampliação da arrecadaçã­o em uma situação fiscal difícil. O impacto total se soma ao uso desse instrument­o, estimado pela Receita Federal em mais de R$ 50 bilhões. O custo de oportunida­de dessa reforma, portanto, é superior a R$ 80 bilhões, próximo de 1% do PIB.

Estudos mais recentes mostram que a tentativa de gerar cresciment­o com redução de carga empresaria­l foi adotada em vários países sem sucesso, mas resultou em ampliação de desigualda­de. Por isso, o mundo reverteu essa tendência, e a reforma agora vai na direção oposta.

A proposta original precisava de ajustes pontuais, mas tinha um sentido correto e um objetivo claro. Promovia ampliação de consumo e investimen­to, trazia melhorias na distribuiç­ão de renda e um aumento de arrecadaçã­o. A proposta atual retrocedeu no desestímul­o à pejotizaçã­o, trouxe custos fiscais e compensaçõ­es financeira­s de qualidade duvidosa e perdas para Estados e municípios. Ao reverter vários dos benefícios da original, reduz a tributação sobre a renda indo na direção oposta às recomendaç­ões globais. Hoje, a proposta de reforma causa uma grande mudança sem resolver nenhum problema.

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