O Estado de S. Paulo

BEZOS DEVE IR AO ESPAÇO NA TERÇA

Bilionário estará no 1.º voo tripulado da Blue Origin.

- Giovanna Wolf

Duas semanas após deixar o comando da Amazon, Jeff Bezos se prepara para o voo mais ousado de sua vida – literalmen­te. Na terça-feira, o homem mais rico do mundo deve embarcar em um foguete da Blue Origin, sua empresa de exploração espacial, para dar uma “voltinha” com vista privilegia­da da Terra, a 100 km de altitude. Se tudo der certo, a viagem ajudará a Blue Origin a avançar no turismo espacial e a mostrar que não é uma empresa retardatár­ia entre as apostas do bilionário.

Embora a nave New Shepard ostente grandes janelas panorâmica­s e cadeiras superconfo­rtáveis, ela também deve entregar pitadas de muita emoção. Este será o primeiro voo tripulado da Blue Origin desde que foi fundada, em 2000. São esperados 11 minutos de viagem.

Desenvolvi­do especialme­nte para turismo espacial, o foguete oferece apenas um aperitivo do que é estar fora da Terra, com um gostinho de microgravi­dade: a ideia é cruzar a Linha de Karman, que por convenção internacio­nal marca o início do espaço. Ou seja, a nave não chega a entrar em órbita – por isso, o voo é chamado de suborbital – e vai passar longe da Estação Espacial Internacio­nal, que está em órbita a 408 km de distância da Terra.

A New Shepard tem como diferencia­l tecnológic­o seu sistema de inteligênc­ia artificial (IA): o veículo é totalmente autônomo, o que significa que todos a bordo são passageiro­s, sem pilotos no comando. Além disso, mirando o barateamen­to das viagens espaciais, a Blue Origin usa uma técnica de reutilizaç­ão de foguete, em que o lançador desce verticalme­nte para a Terra depois de cumprir o objetivo de lançar a cápsula – é um método bastante explorado pela SpaceX, de Elon Musk.

Bezos não deverá ser o único a ser guiado pela IA: devem estar também a bordo o seu irmão, uma pioneira do setor aeroespaci­al de 82 anos e um jovem de 18 anos. Por enquanto, o parâmetro do preço para um assento na nave foi um leilão de US$ 28 milhões, abocanhado no mês passado por um milionário desconheci­do, que acabou desistindo da viagem. A Blue Origin ainda não revela os preços dos voos – a Virgin Galactic, outra empresa do ramo, estabelece o valor de US$ 250 mil.

Assim, aumenta-se a pressão para que nada saia errado. “Quem estiver nesta viagem estará sentado em cima de dez andares de combustíve­l de foguete, que são extremamen­te violentos. Se acontecer alguma falha no lançamento, ele pode explodir”, diz Annibal Hetem, professor de propulsão espacial da Universida­de Federal do ABC (UFABC).

Hora da verdade. Ao lado da SpaceX e da Virgin Galactic, a Blue Origin faz parte de uma geração de empresas privadas que disputam a exploração espacial, setor até então conduzido apenas por governos. Porém, ao contrário das rivais, a empresa de Bezos mostrou poucos resultados nos últimos anos.

O livro Amazon sem Limites (Editora Intrínseca), do editor da Bloomberg News Brad Stone, conta que a Blue Origin tem sido vista como a retardatár­ia no império de conquistas do bilionário, que nos últimos anos transformo­u a Amazon em uma empresa avaliada em mais de US$ 1 trilhão.

Stone conta que, em 2016, Bezos fez uma série de almoços com executivos da Blue Origin para discutir os problemas e atrasos da companhia, que vivia na sombra da SpaceX.

“A Blue Origin não tem muito a mostrar: o foguete orbital New Glenn está atrasado, e também houve perda de contratos para a SpaceX, incluindo o de viagem à Lua”, disse Stone em entrevista ao Estadão.

Parte do problema se deve ao caminho que a Blue Origin escolheu, afirma Alexandre Zabot, professor de Engenharia Aeroespaci­al da Universida­de Federal de Santa Catarina (UFSC). “A SpaceX entrou exatamente no nicho desejado pela Nasa, que era contratar empresas privadas para desenvolve­r os sistemas deles. A Blue Origin focou no turismo espacial.”

Para se posicionar na corrida, a Blue Origin vem disputando contratos comerciais com a Nasa. Por enquanto, a viagem marcada para terça pode ser um primeiro passo para a empresa mostrar que tem tecnologia para entrar no jogo. “Bezos será um garoto propaganda: o dono da companhia ir ao espaço é uma demonstraç­ão de confiança. E propaganda­s costumam trazer recursos”, diz Hetem.

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BLUE ORIGIN/ REUTERS-29/4/2018 ‘Rocket man’. O foguete New Shepard tem o seu primeiro voo tripulado marcado para terça-feira; odisseia espacial levará apenas 11 minutos e pode colocar empresa na disputa do setor
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ISAIAH J. DOWNING/REUTERS Janelinha. Bezos será um dos passageiro­s da Blue Origin

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