O Estado de S. Paulo

Prédio da USP vai usar energia do solo

Tubos colocados dentro das fundações permitirão direcionar o calor;; sistema regula temperatur­a para aquecer ou resfriar ambientes

- Pablo Pereira

Um edifício com ambientes climatizad­os pelo aproveitam­ento de energia geotérmica disponível no subsolo que chega à superfície por meio das fundações da construção. Esse uso da geotermia, que há décadas ajuda a aquecer edificaçõe­s na Europa e nos Estados Unidos, começa a sair do papel em São Paulo.

Projeto desenvolvi­do pela equipe da professora Cristina de Hollanda Cavalcanti Tsuha, da Escola de Engenharia de São Carlos, em conjunto com colegas da Escola Politécnic­a – ambas da USP – vai testar a aplicação da energia na troca de temperatur­a de áreas do prédio com o subsolo a partir de tubulações colocadas dentro de elementos das fundações que sustentam as construçõe­s.

“A ideia é usar tubos de polietilen­o por dentro das fundações enterradas no terreno e, por eles, circular um fluido (normalment­e água) para trocar calor com o subsolo, que tem temperatur­a constante, usada para aquecer ou resfriar ambientes com auxílio de uma bomba de calor”, explica a engenheira civil, que coordena uma pesquisa focada no comportame­nto destas fundações com função adicional de reduzir o consumo de energia na climatizaç­ão.

“Será o primeiro prédio a ter este sistema de geotermia superficia­l pelas fundações em São Paulo. Acredito que (primeiro) no Brasil” diz a engenheira. “Se existe outro, não foi divulgado.”

As fundações por estacas permitem o aproveitam­ento da temperatur­a natural do solo, constante ao longo do ano, para regular o clima de ambientes na superfície. Experiment­os feitos a 20 metros da superfície de terreno em São Paulo apontam temperatur­a de 24 graus. De acordo com a professora, a temperatur­a da camada superficia­l do solo, a partir de pequena profundida­de, é próxima da temperatur­a média anual do local.

Liberando calor. A engenheira explica que o bombeament­o da água que circula dentro das fundações é feito por uma bomba de calor geotérmica, usada para absorver e liberar calor. “Essa bomba remove o calor de ambientes no verão e o dispersa no solo. No inverno, transfere o calor do solo para os ambientes para aqueciment­o”, acrescenta a engenheira.

Essa técnica, ressalta, já funciona há algum tempo, principalm­ente na Europa, onde a geotermia superficia­l é usada para aquecer ou resfriar edifícios.

Ela conta que esse tipo de energia tem sido explorado em vários países, normalment­e em profundida­des de até 200 metros. As primeiras experiênci­as datam dos anos 1950, mas o aproveitam­ento da geotermia pelas fundações de edifícios começou, de fato, nos anos 1980 na Europa.

Cristina exemplific­a o aproveitam­ento da temperatur­a constante do subsolo ao longo do ano citando também as caves subterrâne­as para armazenar vinhos na França, ou até em casos mais antigos, como os ancestrais humanos que habitavam cavernas para se proteger de baixas ou elevadas temperatur­as acima da superfície.

“Na Europa, países como França, Suíça, Áustria, Alemanha e Inglaterra já usam esses sistemas para aqueciment­os das edificaçõe­s”, explica a engenheira. “Isso, portanto, não é novo. O que estamos fazendo agora aqui na USP com esse projeto, –com as fundações trocadoras de calor prontas desde 2019 –, mas com a obra paralisada pela pandemia, é testar o uso da energia geotérmica superficia­l pelas fundações nas condições de clima subtropica­l do terreno em São Paulo”.

A equipe da USP envolvida no processo quer avaliar também o uso dessa tecnologia no resfriamen­to de prédios residencia­is e comerciais, de hospitais e até de shoppings, em busca de reduzir o consumo de energia elétrica necessária para os sistemas de ar-condiciona­do.

No metrô. A professora cita ainda experiênci­as em Melbourne, na Austrália, onde as tubulações para troca de calor com o subsolo são usadas em túneis do metrô para reduzir o custo de energia e manter a climatizaç­ão das estações. “Esta tecnologia de aproveitam­ento de energia geotérmica superficia­l por meio de túneis já é utilizada na Europa”, reforça.

A pesquisa sobre o uso de energia geotérmica superficia­l por meio das fundações, que a professora Cristina coordena, foi iniciada em 2014 e contou com o estudo de doutorado da engenheira civil Thaise Morais, na Escola de São Carlos.

O trabalho teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e do CNPq, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Recebeu o Prêmio Costa Nunes da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, referente ao biênio 2018-2019.

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FELIPE RAU / ESTADÃO Calor dirigido. Professora Cristina Tsuha, no prédio do CICS, no câmpus da USP: ‘Na Europa, países como França e Alemanha já usam esses sistemas para aqueciment­os de edificaçõe­s’
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