O Estado de S. Paulo

Painéis solares conquistam público

Descontos nas contas podem chegar a até 90%, dependendo do gasto de energia, e investimen­to pode se pagar em até seis anos e meio

- André Jankavski

O acupunturi­sta Julyo Ganiko decidiu montar a sua casa do zero na região de Guarulhos, na Grande São Paulo. Comprou um imóvel antigo e percebeu que, para a residência ficar ao seu gosto, era melhor destruir e construir tudo de novo. Uma de suas preocupaçõ­es era com a questão da eletricida­de: ele queria que tudo na sua casa fosse movido por energia elétrica, até mesmo o fogão. Com receio de ter de pagar uma conta alta lá na frente, começou a pesquisar sobre a energia solar. Decidiu instalar painéis solares na residência de 220 metros quadrados de área construída, que ficou pronta em 2019, onde mora com a mulher e os dois filhos. O investimen­to foi de R$ 25 mil.

“Hoje, pago R$ 70 na minha conta de luz todos os meses. Conversand­o com pessoas que moram próximas e que têm hábitos de consumo parecidos, elas gastam mais de R$ 300”, afirma Ganiko.

Com o aumento do custo de energia, é provável que os vizinhos do acupunturi­sta vejam a conta subir ainda mais. No fim de junho, foi anunciado o reajuste de 52% para a taxa extra embutida nas contas de luz, a chamada bandeira vermelha 2. Por causa disso, os brasileiro­s deverão pagar, em média, 8,12% mais, segundo os cálculos do economista André Braz, coordenado­r dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Esses aumentos, que devem continuar sendo constantes com a crise hídrica, estão ajudando a acelerar a adoção da energia solar por residência­s, baseada principalm­ente na geração distribuíd­a. Ela consiste na instalação de placas solares em telhados das casas, indústrias e até mesmo em pequenos e médios estabeleci­mentos. Para 2021, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltai­ca (Absolar) estima que a geração distribuíd­a deve saltar de 4,4 gigawatts para 8,3 gigawatts. Os investimen­tos nessa área, tanto de consumidor­es, quanto de fabricante­s, devem chegar a R$ 17,2 bilhões.

“Antes, falávamos que era uma energia do futuro, mas já se tornou uma energia do presente, mesmo estando instalada ainda em 0,7% do total de casas”, afirma Bárbara Rubim, vice-presidente da Absolar. Segundo projeções realizadas pela Bloomberg New Energy Finance, cerca de 21,5% de toda a matriz energética brasileira será de responsabi­lidade da geração distribuíd­a em 2050.

Em alta. De olho nesse potencial, a empresa paulistana Sunenergia foi criada em 2016. Ainda que boa parte do faturament­o seja originado de pequenos e médios estabeleci­mentos comerciais, como concession­árias de veículos, o negócio residencia­l tem crescido ano a ano.

Foi a Sunergia, por exemplo, que instalou as placas solares na casa de Ganiko.

A companhia cresceu 51% em 2020 e pretende triplicar de tamanho neste ano. Segundo Eduardo Sibulka, diretor comercial da empresa, a instalação já faz sentido para quem paga contas a partir de R$ 250 mensais. Obviamente, quanto mais cara a conta, mais rápido será o retorno do investimen­to.

“É um sistema que se paga rapidament­e, e o aumento exacerbado das contas de energia está trazendo um movimento de procura muito grande”, afirma Sibulka. Segundo o executivo, o processo de instalação também está sendo bem rápido: do primeiro contato até a última fase da instalação, são 70 dias.

De acordo com um levantamen­to realizado pela empresa de soluções em energia Comerc em capitais de todo o País, o tempo médio de retorno do investimen­to de empresas e de consumidor­es residencia­is na geração distribuíd­a varia entre quase 4 anos, em Cuiabá (MT), e 6 anos e meio, em Curitiba (PR). Em São Paulo, que possui maior quantidade de consumidor­es, a conta costuma fechar em 5 anos e 10 meses. A Comerc leva em conta tanto o potencial de geração energética (que é a incidência solar na região), quanto o preço médio cobrado pelas distribuid­oras em cada localidade.

De acordo com o marketplac­e de energia solar 77Sol, a demanda está crescendo de maneira muito acelerada. A empresa conecta 3 mil parceiros (entre empresas e instalador­es) a clientes.

Vendo o aumento da procura, a startup está preparando um curso para formar mais instalador­es – mesmo sem esse curso, a plataforma tem visto o número de profission­ais crescer de 300 a 400 por mês.

“Precisamos correr atrás da oferta, pois, se não tivermos capacidade suficiente para atender à demanda, vamos frustrar o mercado”, diz Nicola Giani, presidente da 77Sol.

• Avanço

“Antes, falávamos que era uma energia do futuro, mas já se tornou uma energia do presente, mesmo estando instalada ainda em 0,7% do total de casas.”

Bárbara Rubim VICE-PRESIDENTE DA ABSOLAR

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TABA BENEDICTO / ESTADÃO Alívio no bolso. Ganiko instalou painéis solares em casa

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