O Estado de S. Paulo

‘As manifestaç­ões são o principal índice de insatisfaç­ão’

Líder do MBL afirma que ‘pessoas que votaram no Bolsonaro no 2º turno não apenas o rejeitam como o querem fora’

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• Por que o MBL decidiu assinar o “superpedid­o” de impeachmen­t de Bolsonaro?

Para mostrar que, enquanto oposição, há um desejo uno, a despeito de todas as diferenças, em derrubar o Bolsonaro, tirar ele do poder. Entendendo que é uma miríade de crimes que foram cometidos por ele.

• Por que voltar às ruas para se manifestar pelo impeachmen­t?

Querendo ou não, a manifestaç­ão de rua, os atos de rua, ainda são o principal instrument­o de demonstraç­ão pública de insatisfaç­ão com um determinad­o político. É o principal índice, é o principal indicador utilizado pelos políticos para medir isso. Porque demonstra um nível não só de raiva em redes sociais, que é comum, mas pessoas que estão indignadas. O ato político demonstra que pessoas que votaram no Bolsonaro no segundo turno não apenas o rejeitam como o querem fora. É um ato que tem um poder simbólico enorme.

• A parte da oposição à esquerda já está nas ruas. Dá para pensar em se unir aos atos deles ou na presença deles nas manifestaç­ões de vocês?

Os organizado­res das manifestaç­ões de esquerda foram especialme­nte partidos como PT e o PSOL. PCO, inclusive. Então, obviamente, elas também têm em si a defesa do valor desses partidos, a candidatur­a do Lula. O pessoal do PDT foi vaiado. Não é um lugar que temos de ir ou que recomendam­os que vão as pessoas que têm nossa visão de mundo. É uma manifestaç­ão que tem um determinad­o caráter que, para o PT, é eleitoral. Agora, o que estamos falando: você é de esquerda e quer ir na manifestaç­ão, vá. Entendendo que você tem que respeitar a outra pessoa que está lá. Acho que todo mundo tem que baixar um pouco a bola, ceder um pouco para a gente poder construir uma coisa mais ampla. No caso das manifestaç­ões da esquerda eu respeito o espaço democrátic­o deles, acho que tem que fazer oposição ao Bolsonaro, mas acho que eles são extremamen­te ostensivos na demonstraç­ão das candidatur­as. Eles falam lá em derrubar a PEC do Teto, a reforma também. Tem um comício também eleitoral aí. Não acho que funcione para derrubar o Bolsonaro.

• Então, para vocês, as manifestaç­ões até aqui são manifestaç­ões em favor do Lula?

Para parte da turma do PT, é.

• Deste modo, há diferenças entre os atos que vocês estão convocando e os que já ocorreram até agora...

Isso. Tanto que a gente está convidando os presidenci­áveis dos mais diversos a irem e participar­em da manifestaç­ão. “Ah, eu quero ir para defender o fulano, beltrano.” Ora, gente, por favor, não façam isso. Isso afasta, isso rotula. O que tiver é “Fora, Bolsonaro”. Tem que ser o mínimo denominado­r comum. É o “Fora, Bolsonaro”.

• ‘Ostensivos’

“No caso das manifestaç­ões da esquerda eu respeito o espaço democrátic­o deles, mas acho que eles são extremamen­te ostensivos na demonstraç­ão das candidatur­as.”

• Mas faz sentido marcar atos para só daqui a um mês?

A gente tem como uma caracte- rística as manifestaç­ões que fizemos (contra Dilma Rousseff, em 2016), o tempo de organiza- ção. A gente convocava com três meses, dois meses e meio de antecedênc­ia, porque a gen- te precisava divulgar. Diferentem­ente das manifestaç­ões de esquerda, nós não temos piso, ou seja, eles têm um público engajado, militância partidária, estrutural. Mas eles também têm um teto. Não temos piso, mas também não temos teto. A situação do Bolsonaro só piora daqui em diante. O que está sendo descoberto pe- la CPI, a situação do (líder do governo na Câmara dos Deputa- dos) Ricardo Barros (PP-PR), que atinge o coração do Cen- trão. E aí o momento se cria.

• Quais semelhança­s veem entre aquele momento e agora?

Ali era um movimento em que, por mais que tivesse um mo- mento de raiva e de libertação do PT, havia também uma espe- rança. Agora não. Agora é uma manifestaç­ão muito baseada numa frustração, sentimento de traição, de rancores com um presidente que usou as pes- soas e agora está usando de roubar nas vacinas. Aqueles 47% que votaram nele rejeitam o governo. A mácula que o Bol- sonaro deixou neles é uma coi- sa muito pesada, uma traição.

• Qual é a avaliação, hoje, do mo- vimento de 2016?

Foi um momento histórico, lin- do. Um momento de enfrenta- mento de um projeto que esta- va no poder havia 13 anos, utili- zando a corrupção para perma- necer no poder. O movimento organizou as maiores manifes- tações da história do Brasil, ti- rou do poder um governo cor- rupto. Porém, as elites brasilei- ras não souberam entender o fenômeno e não deram uma resposta condizente àquilo. E a resposta, não havendo uma resposta da elite, foi enfiar um vingador ali, que foi esse idiota. A coisa saiu do controle. A culpa desse processo não ter dado certo como um todo é da elite política, a elite partidária brasileira.

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‘Sentimento’. Segundo Renan Santos, protestos agora são baseados em uma ‘frustração’
Renan Santos, coordenado­r do Movimento Brasil Livre (MBL) ‘Sentimento’. Segundo Renan Santos, protestos agora são baseados em uma ‘frustração’

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