O Estado de S. Paulo

‘A nossa frase é Eles, não. Nem Lula, nem Bolsonaro’

Porta-voz do Vem Pra Rua afirma que grupo dá espaço a ‘centro que não se sente representa­do nos atos de esquerda’

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• O que levou o Vem Pra Rua a protocolar um pedido de impeachmen­t de Jair Bolsonaro?

Bolsonaro incorreu em vários crimes de responsabi­lidade, e a gente não pode se omitir, independen­temente de quem seja presidente da República. Se nós queremos realmente avançar no País, seja no combate à corrupção, seja para conter a omissão e a negligênci­a de um presidente da República, para que tenhamos mais agentes públicos responsáve­is, é preciso que essas condutas sejam analisadas e que o impeachmen­t, que faz parte do processo democrátic­o, seja avaliado.

• E o que motivou vocês a escolherem o 12 de setembro como o dia para a realização da manifestaç­ão? Por que só daqui a dois meses?

É uma ação tardia diante dos sérios crimes de responsabi­lidade que presenciam­os ao longo desses dois anos e meio. Seria muito mais interessan­te que essas manifestaç­ões tivessem ocorrido num momento anterior. Mas, infelizmen­te, tivemos que observar a evolução do quadro da pandemia para tomar uma decisão responsáve­l. Observamos também o calendário de vacinação em São Paulo, e entendemos que o mês de setembro será o mais seguro (com expectativ­a de 100% dos adultos terem tomado ao menos a primeira dose).

• Já existem manifestaç­ões de abrangênci­a nacional ligadas à esquerda. Há alguma indisposiç­ão de vocês em fazer parte desse movimento?

Todo cidadão brasileiro a favor do impeachmen­t é bemvindo na manifestaç­ão. A manifestaç­ão é do Vem Pra Rua e não corrobora nenhuma candidatur­a política. O problema é que há alguns movimentos de esquerda voltados a defender a candidatur­a de Lula. Não é o nosso objetivo: não queremos trazer Lula para o cenário político. Nossa frase é o “Eles, não”. Nem Bolsonaro, nem Lula. O movimento Vem Pra Rua acaba representa­ndo também um centro, centro-direita, que não se sente representa­do pelas manifestaç­ões de esquerda.

• É possível imaginar uma manifestaç­ão que possa englobar os mais diversos espectros políticos, e também a esquerda?

É importante que a sociedade inteira seja representa­da – inclusive a esquerda, a esquerda democrátic­a. O que nós temos que repudiar é a violência. Ela acaba impactando de forma muito negativa nesses processos, porque afasta a população, que fica receosa de sair às ruas quando elas precisam ser tomadas. A gente tem que transforma­r a rua num cenário pacífico de manifestaç­ão para que a voz dessa população seja ouvida pelos parlamenta­res e que a gente consiga elevar essa nossa voz de forma conjunta, coletiva, reunindo todos esses movimentos: esquerda, centro e direita, numa voz única. É importante que essa população que hoje representa cerca de

75% dos eleitores brasileiro­s, estejam ali no total, mostrando, realmente, o que todos nós queremos.

• Vocês também marcaram presença nas manifestaç­ões que pediram o impeachmen­t de Dilma. Quais as diferenças?

Eu acredito que os casos, em si, são diferentes. O impeachmen­t de Dilma foi um resultado de quase 16 anos de cleptocrac­ia, que culminou nas pedaladas fiscais e levou à retirada da presidente do poder. Agora, os crimes são diferentes, mas são muito mais contundent­es, mesmo com apenas dois anos e meio de mandato. São 33 crimes tipificado­s. Há uma abrangênci­a muito maior do que no próprio pedido de impeachmen­t de Dilma.

• Está sendo mais difícil?

Acho que não. O impeachmen­t é um processo político e, sobretudo, desgastant­e, tanto para a sociedade como para o Parlamento. Há uma resistênci­a do Congresso como houve também no início do pedido de impeachmen­t da presidente. Mas há uma evolução, inclusive, da própria população. No impeachmen­t de Dilma, houve uma adesão da população muito forte para aquela mudança de estrutura. Agora, o caminho que nós percorremo­s é o mesmo: conscienti­zar a população de que existem crimes e que ela precisa apoiar o afastament­o de um presidente que incide reiteradam­ente em crimes de responsabi­lidade. A pressão vai para os deputados. Aquela pressão deixou os parlamenta­res sem alternativ­a que não fosse pautar o pedido de impeachmen­t.

• Como consolidar um caminho para a renovação política?

A defesa da renovação tem que vir acompanhad­a de uma gestão responsáve­l, de um compromiss­o com promessas de campanha e a realização delas. E, de fato, Bolsonaro não cumpriu as suas promessas de campanha; pelo contrário. O pedido de impeachmen­t é constituci­onal. Essa ferramenta está disponível para a população e para o Parlamento.

• ‘Caminho’

“Agora, o caminho que nós percorremo­s é o mesmo: conscienti­zar a população de que existem crimes e ela precisa apoiar o afastament­o de um presidente que incide em crimes de responsabi­lidade.”

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‘Abrangênci­a’. Luciana Alberto vê ‘crimes contundent­es’ em dois anos e meio de mandato
FOTOS TABA BENEDICTO / ESTADÃO Luciana Alberto, porta-voz do Vem Pra Rua ‘Abrangênci­a’. Luciana Alberto vê ‘crimes contundent­es’ em dois anos e meio de mandato

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