O Estado de S. Paulo

3 PERGUNTAS PARA

- Fethullah Gulen, clérigo muçulmano líder do Movimento Hizmet

1. A Turquia seria diferente hoje se Hizmet e AKP não tivessem rompido?

Não somos a principal oposição ao AKP hoje, como não éramos os únicos a apoiar o partido quando surgiu com promessas de democracia, liberdade e justiça. Naquele primeiro período, o AKP recebeu apoio de muitos segmentos da sociedade na Turquia. Muitos pensaram que deveriam dar uma chance ao AKP. O apoio do Hizmet era condiciona­do ao combate à corrupção, à pobreza, a fortalecer a democracia na Turquia, desenvolve­r as liberdades e lutar pela adesão à União Europeia, conforme o AKP havia prometido.

2. Por que o rompimento?

Paramos de apoiá-los quando deixaram para trás esses princípios e seguiram na direção do governo de um homem só. Nossa união temporária poderia ter continuado se eles mantivesse­m sua palavra. Se tivessem se mantido fiéis às suas promessas, os problemas vividos hoje não teriam acontecido, talvez a Turquia tivesse entrado para a União Europeia, desenvolvi­do a sua democracia e se tornado um país que todos apontariam como exemplo.

3. Como Erdogan e o AKP foram de reformista­s a autoritári­os?

Talvez Erdogan tivesse essa intenção desde o início, não sabemos. Nós acreditamo­s em suas palavras. Mas testemunha­mos que ele não cumpriu suas promessas e, depois de um tempo, liquidou as pessoas mais razoáveis ao seu redor. De certa forma, isso pode ser visto como um envenename­nto pelo poder. Por outro lado, a corrupção, na qual depois percebemos que Erdogan e seus parentes estavam envolvidos, obrigou-o a escolher entre a democracia e o autoritari­smo./R.T.

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