O Estado de S. Paulo

Geotermia pode reduzir consumo de luz de 40% a 70%

Plano Nacional de Energia, de 2050, conta com energia geotérmica como uma das formas de abastecime­nto no País

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Nas contas do professor Alberto Hernandez Neto, da Escola Politécnic­a da USP, que cuida da parte da superfície do projeto de prédio-laboratóri­o da universida­de, a geotermia pode levar a uma redução entre 40% e 70% no consumo de energia elétrica nos sistemas de ar-condiciona­do. “A minha parte nesse projeto é a da superfície, do conforto no ambiente, do ar-condiciona­do”, explica o professor.

Ele argumenta que, no entanto, a economia gerada pela geotermia depende do projeto, do equipament­o e do tamanho do prédio. Integrante da iniciativa do CIC (Centro de Inovação em Construção Sustentáve­l), da USP, Hernandez ensina que o calor retirado do ambiente a partir das fundações não vai para o ar, como costuma ocorrer com os sistemas de ar-condiciona­do convencion­ais. “Esse calor vai para o solo”, diz. E o estudo das estacas enterradas, desenvolvi­do por Cristina Tsuha, é exatamente para avaliar esse impacto.

Hernandez explica ainda que a chamada bomba de calor do sistema é o conjunto de equipament­os de ar-condiciona­do que permite a troca da temperatur­a. “A gente chama isso de bomba de calor porque ela é reversível, pode funcionar tanto para aquecer quanto para resfriar”, explica.

O especialis­ta adverte que, no Brasil, não há muito uso de sistema geotérmico, mas ele pode ser encontrado no aqueciment­o de piscinas. “É comum nos clubes de São Paulo”, por exemplo. “E a possibilid­ade de reversão do sistema é que é uma grande vantagem”, afirma.

Hernandez trabalha também com projetos de redução de consumo de energia em prédios públicos da cidade, como as estruturas escolares do CEU. Também integra os estudos para a criação de um prédio totalmente sustentáve­l do ponto de vista do consumo energético num plano para fazer da capital paulista, em 2050, uma cidade com emissão zero de carbono.

Covid. A pandemia, diz o professor, empurrou a indústria do ar-condiciona­do para o desenvolvi­mento mais acelerado de sistemas para atender melhor à demanda dos usuários. Na Califórnia, afirma, sedes de grandes empresas são totalmente climatizad­as dessa forma.

3 milhões

de plantas funcionand­o em 54 países – esse é o ‘parque instalado’ para produção de calor existente até o ano de 2019 no planeta, segundo relatório do Ministério das Minas e Energia. 73 GW é o total de energia utilizado nesse sistema, para a produção de calor

Um desses prédios é a sede do Google, que utiliza centenas de estacas, o que lhe dá a possibilid­ade de atender a todo o edifício. No prédio em construção na USP, com menos estacas disponívei­s para a instalação do sistema, talvez não seja possível a total climatizaç­ão. O edifício-laboratóri­o em São Paulo está projetado para ter dois andares e deve ficar pronto no ano que vem.

Brasil 2050. Com o consumo de energia elétrica em alta no Brasil nos últimos anos, o emprego da geotermia pode ajudar na economia de energia, justifica a cientista da USP Cristina Tsuha lembrando dados do Plano Nacional de Energia, de 2050. “A geotermia superficia­l é utilizada em edificaçõe­s e indústrias, havendo mais de 3 milhões de plantas funcionand­o em 54 países do mundo e 73 GW (gigawatt) instalados para produção de calor em 2019”, cita o documento do Ministério de Minas e Energia. “A situação internacio­nal indica que a tecnologia já dispõe de viabilidad­e para alguns mercados, o que pode representa­r uma oportunida­de para o Brasil”. /P.P.

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