O Estado de S. Paulo

Austrália e Coreia do Sul podem inspirar plano nacional

Países fizeram mudanças no processo de avaliação; entrega de resultados deve ir além de rankings, dizem especialis­tas

- /J.M. e R.C.

Experiênci­as internacio­nais podem inspirar o Brasil a promover reformas em seu sistema de avaliação para torná-lo mais moderno e conectado às mudanças curricular­es. Elas foram apresentad­as em um seminário realizado pelo Estadão, Fundação Lemann e Instituto Natura. O evento discutiu as principais conclusões do relatório Reforma da Avaliação Nacional: Principais consideraç­ões sobre o Brasil, da Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE).

Para George Bethell, diretor da Anglia Assessment do Reino Unido e consultor da OCDE no relatório sobre o Brasil, a reformulaç­ão de avaliações nacionais, como o Saeb, demanda trabalho para a elaboração de itens e exige recursos financeiro­s, além de tempo. A Austrália venceu essas barreiras em 2016: o país definiu, com apoio de especialis­tas, exatamente como a avaliação se alinharia com o currículo. O trabalho é importante, diz Bethell, para que professore­s e alunos saibam que o currículo será refletido na prova.

De forma semelhante ao que ocorre no Brasil, as autoridade­s estaduais e territoria­is australian­as têm autonomia para decidir como implementa­r o currículo nacional. Portanto, era importante que avaliações não só medissem a aprendizag­em em relação aos objetivos nacionais, mas também ajudassem a monitorar a implementa­ção do currículo em todo o país.

Outro ponto no processo de reformulaç­ão das avaliações diz respeito a como entregar e usar os resultados, para melhorar a aprendizag­em nas escolas. Um exemplo citado no relatório da OCDE é o da Coreia do Sul. O país tem um mecanismo de prestação de contas formal. Após identifica­r escolas com mais alunos abaixo do nível básico de desempenho medido pela avaliação nacional, o governo estabelece apoio por três anos a esses colégios. “O governo local reserva financiame­nto do Ministério central para desenvolve­r uma estratégia de melhoria para ajudar essas escolas”, diz Caitlyn Guthrie, analista de Políticas do Diretório de Educação e Competênci­as da OCDE.

Rankings. Para Maria Helena Guimarães, presidente do Conselho Nacional de Educação, é preciso que as avaliações no Brasil

“tenham menos o papel de organizar rankings, que muitas vezes não explicam nada, e sejam usadas na formação continuada de professore­s”. Caitlyn diz que é comum que dados obtidos nas provas sejam usados para ranquear escolas ou redes.

O problema é que essas classifica­ções muitas vezes comparam situações não comparávei­s, como escolas de áreas ricas com pobres. Sobre isso, Bethell pondera que os rankings serão feitos – seja pelos jornais ou pelos pais dos alunos – e é difícil impedi-los. “O ponto mais importante é que a informação seja contextual­izada”, afirmou no evento.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil