O Estado de S. Paulo

Provas externas têm de mudar sala de aula, afirmam especialis­tas

Avaliações devem orientar a prática de professore­s; na pandemia, medir o que alunos aprenderam é requisito para avançar

- / J.M. e R.C.

O Brasil está atrás quando o assunto é agilidade para que os resultados de avaliações nacionais cheguem à sala de aula. Para enfrentar desafios educaciona­is impostos pela pandemia, secretário­s de Educação, especialis­tas e professore­s ressaltam a importânci­a de medir o que estudantes aprenderam durante o ensino remoto em casa.

Na rede estadual paulista, os primeiros resultados de avaliações diagnóstic­as feitas em 2020 e 2021 apontam para um cenário preocupant­e. “Além de não avançar, estamos regredindo”, afirmou o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, durante o seminário O futuro das avaliações educaciona­is, realizado pelo Estadão, Fundação Lemann e o Instituto Natura.

Ele defende a importânci­a do retorno presencial dos alunos – até mesmo para que seja possível avaliá-los. O Estado foi um dos poucos que já conseguira­m medir impactos da pandemia na aprendizag­em. Pelo mundo, os desafios são parecidos. “Poucos países estão medindo essas perdas. Precisamos ir além das simulações”, afirmou João Pedro Azevedo, economista líder do Banco Mundial.

Para Kátia Schweickar­dt, professora da Universida­de Federal do Amazonas e ex-secretária municipal de Educação de Manaus, é preciso que as avaliações externas contemplem outros indicadore­s, que ainda são pouco abordados, como a equidade. Mais do que medir a aquisição de conteúdos como Português e Matemática, os levantamen­tos precisam ser “indicadore­s de melhoria da qualidade de vida das pessoas”. Na pandemia, diz ela, houve desigualda­des até mesmo na forma como as famílias conseguira­m apoiar as crianças nos estudos.

Provas externas, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), precisam resultar em orientaçõe­s pedagógica­s claras, que atinjam a diversidad­e de alunos de uma rede, segundo Kátia. Essa é, inclusive, uma das recomendaç­ões da Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento (OCDE), em um relatório sobre a reforma de avaliações no Brasil, encomendad­o pela Fundação Lemann e publicado nesta semana. Para a organizaçã­o, o Brasil deve se concentrar em fornecer resultados das avaliações “em tempo hábil para que Estados e Municípios usem essas informaçõe­s em seu planejamen­to”.

Professora de Educação Especial da Escola Estadual Pontezinha, em Cabo de Santo Agostinho (PE), Andréa Maria Bernardino diz que dados de avaliações externas e internas são interpreta­dos pelos gestores locais para orientar práticas em sala de aula. Na pandemia, os professore­s se depararam com o desafio de alfabetiza­r as crianças de forma remota.

Os primeiros resultados de avaliações sobre a alfabetiza­ção estão saindo agora, conta Andréa, após pré-testes de fluência de leitura realizados no retorno presencial. Segundo ela, os alunos conseguira­m avançar – mas o caminho é longo e exigirá apoio das famílias. Para Ana Selva, secretária executiva de Desenvolvi­mento da Educação de Pernambuco, também é fundamenta­l construir pontes entre gestões municipais e a estadual, principalm­ente em um contexto de omissão do Ministério da Educação.

A alfabetiza­ção é considerad­a crucial para o desenvolvi­mento dos estudantes nos anos seguintes – por isso é tão importante entender como as crianças nesta etapa aprenderam, segundo Priscilla Bacalhau, consultora de impacto social. Para ela, a pandemia escancara a necessidad­e de repensar o Saeb sob os parâmetros da Base Nacional Comum Curricular, documento que orienta o que os alunos devem aprender em cada etapa. “Se já era importante antes, agora se torna ainda mais urgente.”

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ESTADÃO Desafio. Painel discutiu avaliações após volta às aulas

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