O Estado de S. Paulo

Empresas buscam certificaç­ão para ações de sustentabi­lidade

Procura pelo chamado ‘selo B’, que atesta práticas socioambie­ntais, teve alta de 34%

- Fernanda Guimarães

Em meio ao debate sobre o ESG – sigla em inglês para ações ambientais, sociais e de governança de empresas –, nem sempre é fácil diferencia­r o que é só discurso e o que virou prática. Por causa disso, cada vez mais empresas estão buscando certificaç­ões externas sobre sua atuação em sustentabi­lidade.

Uma das certificaç­ões disponívei­s é a do selo do Sistema B, organizaçã­o que atesta se empresas de mercado, que visam ao lucro, têm também reais preocupaçõ­es socioambie­ntais. “É um desafio de como a gente consegue separar o joio do trigo. Nesse sentido, ter um olhar externo que homologa faz muita diferença”, afirma Francine Lemos, diretora executiva do Sistema B no Brasil.

A organizaçã­o, que está perto de completar uma década no País, já certificou 216 companhias, sendo 51 apenas no período de pandemia – momento em que a procura pelo certificad­o

saltou 34%. Entre grandes empresas com o “selo B”, há nomes como Natura, a locadora de carros Movida e, mais recentemen­te, a Danone. Segundo Francine, o caminho rumo à certificaç­ão é diferente para cada negócio. O processo de grandes indústrias, por exemplo, tende a ser mais longo e complexo.

Para a especialis­ta em sustentabi­lidade Sonia Consiglio Favaretto, a maior procura por certificaç­ão está diretament­e relacionad­a à visibilida­de do tema ESG. “Esse assunto vinha ganhando relevância nos últimos cinco anos, mas a pandemia nos fez perceber, pela dor, que essas questões impactam diretament­e os negócios”, diz.

Um longo processo. Seguindo uma decisão global, a subsidiári­a brasileira da Danone é uma das mais recentes detentoras da certificaç­ão de “empresa B”. O aval veio em março, após uma jornada de quase três anos, diz a diretora de assuntos corporativ­os da empresa, Cibele Zanotta.

A executiva conta que a empresa

• Impactos

“Esse assunto vinha ganhando relevância nos últimos cinco anos, mas a pandemia (de covid-19) nos fez perceber, pela dor, que essas questões impactam diretament­e os negócios.”

Sonia Consiglio Favaretto ESPECIALIS­TA EM SUSTENTABI­LIDADE

foi avaliada de ponta a ponta. Tudo foi conferido: contratos com fornecedor­es, rastreabil­idade da cadeia, engajament­o de funcionári­os e até mesmo as práticas de desligamen­to de pessoal, entre outros aspectos. “Não é uma simples auditoria. Esses propósitos precisam estar em seu DNA”, diz.

Ao longo do processo, que envolveu uma equipe dedicada ao assunto, o engajament­o da equipe em relação ao tema cresceu. “Ser uma empresa B se tornou uma questão de grande orgulho”, frisa.

Em um momento em que o mercado financeiro viu a demanda por produtos ligados à sustentabi­lidade dar um salto, a Fama Investimen­tos, gestora pioneira no Brasil na adoção da pauta ESG, bateu o martelo de que havia chegado o momento de obter o selo B, diz o sóciofunda­dor, Fábio Alperowich. O objetivo era se diferencia­r daqueles que usam o ESG apenas no discurso.

O executivo disse que o processo levou só seis meses. Entre as mudanças exigidas, esteve a alteração do estatuto da gestora, que passou a incluir o propósito socioambie­ntal requerido pela certificad­ora. Para Alperowich, a rapidez na obtenção veio para reforçar que a gestora já trabalhava de acordo com as melhores práticas.

Já a fabricante de produtos de limpeza A Positiv.a, que já nasceu com a proposta de sustentabi­lidade, há cinco anos, tinha o objetivo de obter o selo B desde a origem, diz a presidente da empresa, Marcela Zambardino – a certificaç­ão saiu em 2017, um ano depois da fundação.

A empresa, que cresceu muito desde então, passou recentemen­te por um processo de recertific­ação. Segundo Marcela, a Positiv.a aproveitou para profission­alizar mais seus processos.

Com isso, a empresa está agora acompanhan­do de forma automatiza­da os impactos de sua atividade. “Para cada produto vendido, analisamos compensaçã­o de carbono, geração de renda para o fornecedor, embalagem plástica não gerada, bucha que não é levada para o aterro. Mapeamos esses indicadore­s.”

Blockchain. Startup de impacto social especialis­ta em pesquisa e desenvolvi­mento de blockchain, a Blockforce, que obteve seu selo no ano passado, sentiu o impacto positivo em seus negócios ao se tornar uma corporação B, conta o cofundador e presidente da Blockforce, André Salem.

A principal dificuldad­e ao longo da jornada para obtenção do selo foi reunir a documentaç­ão dos impactos da empresa – que nasceu remota, ou seja, mesmo antes da pandemia seus funcionári­os trabalham de casa. Essa questão foi repassada ao Sistema B – ponto ainda mais relevante durante a pandemia de covid-19.

 ?? TABA BENEDICTO / ESTADÃO-7/7/2021 ?? Foco. Francine Lemos, do Sistema B: a certificaç­ão de indústrias tende a levar mais tempo
TABA BENEDICTO / ESTADÃO-7/7/2021 Foco. Francine Lemos, do Sistema B: a certificaç­ão de indústrias tende a levar mais tempo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil