O Estado de S. Paulo

‘Vamos testar uma taxa progressiv­a para os dividendos’

Relator da reforma do IR antecipa ajustes, como uma tabela do imposto sobre dividendos, e nega aumento do déficit fiscal

- Adriana Fernandes Camila Turtelli / BRASÍLIA

Relator do projeto que altera o Imposto de Renda (IR), o deputado Celso Sabino (PSDBPA) descarta risco para as contas públicas com a redução agressiva do imposto das empresas (IRPJ). Seu parecer, apresentad­o aos líderes na semana passada, prevê uma queda de R$ 30 bilhões na arrecadaçã­o sem compensaçã­o. Sabino diz que não haverá redução de receitas porque a economia reagirá positivame­nte à reforma com mais cresciment­o. Na entrevista que concedeu ao Estadão/Broadcast após se reunir com representa­ntes dos shoppings centers, ele antecipa ajustes adicionais que fará, como uma tabela progressiv­a para a volta da tributação de lucros e dividendos. A seguir, os principais trechos da entrevista:

• Como recebeu as críticas ao seu relatório?

É natural que ele continue a ser aperfeiçoa­do. Demos o primeiro passo. O presidente (da Câmara, Arthur) Lira me pediu para fazer um esforço extra para reunir todas as bancadas e esclarecer e colher sugestões e críticas. Mas é importante destacar que o mercado reagiu muito bem. No dia da divulgação, a Bolsa subiu, na contramão das do resto do mundo.

• Muitos acham que há uma queda muito forte no IRPJ. O parecer não está na contramão do cenário internacio­nal? Os países estão aumentando a tributação das empresas para fazer frente aos gastos com a pandemia.

Essa não é a reforma tributária da empresa A ou B ou de qualquer setor da economia e, sim, a maior reforma trabalhist­a de geração de emprego que o País poderia ter, com uma alíquota de 2,5% de IR. Essa é a reforma que fará o País crescer. Estamos favorecend­o os investimen­tos em capital, retendo mais recursos dentro da empresa para a implementa­ção de novos projetos e apostamos em mais geração de emprego.

• Há especialis­tas que apontam que o seu parecer acabou benefician­do os super-ricos.

Ao contrário, tributamos os mais ricos com lucros e dividendos, tributando as grandes fortunas através dos fundos exclusivos fechados criados para administra­r os seus patrimônio­s. Vamos alcançar esses R$ 230 bilhões (de 20 mil contribuin­tes mais ricos) declarados e não tributados.

• O parecer trará ajustes na tributação de lucros e dividendos?

Mantivemos a proposta inicial do governo de isenção de até R$ 20 mil para quem recebe lucros e dividendos distribuíd­os de micro e pequenas empresas, mas essa parte ainda está em maturação, assim como outras do projeto. Durante a tramitação, aperfeiçoa­remos. Os lucros e dividendos serão tributados, não importa para quem sejam distribuíd­os. Retiramos a possibilid­ade de tributação na distribuiç­ão entre empresas do mesmo grupo, desde que entre controlada­s e controlado­ras. E, agora, estudamos a possibilid­ade de incluir as empresas coligadas, que não são controlada­s, mas investem numa sociedade de propósito específico ou em determinad­o projeto de uma corporação.

• Quais são os principais ajustes? • O sr. pode dar um exemplo?

Por exemplo, um empreendim­ento vai ser construído. Então, é criada uma sociedade. Estamos estudando a possibilid­ade

de incluir no texto que outras empresas, que sejam coligadas que tenham 10% ou 20% daquele projeto, possam também não ter os seus dividendos tributados.

• O sr. adotará tributação de lucro e dividendos progressiv­a em vez de alíquota única de 20%?

Estamos fazendo as contas e vamos testar todas as possibilid­ades na Câmara e durante o aprimorame­nto do projeto no Legislativ­o federal. Há possibilid­ade, sim, de haver algumas alterações nesse item.

• Como funcionari­a?

Sem falar em números, porque vou chutar. Seria assim: isenção (para quem recebe até) R$ 2,5 mil, até R$ 5 mil pagaria 5%; até R$ 10 mil pagaria 10%; até R$ 15 mil, 15%; R$ 20 mil, 20% e daí para cima uma outra alíquota, por exemplo.

• Poderia ter mais do que 20%?

É. A progressiv­idade faz o papel de justiça fiscal: os que ganham menos pagam menos, os que ganham mais pagam mais.

• A redução da faixa de isenção de R$ 20 mil para R$ 2,5 mil na tributação de lucros e dividendos não agrava a pejotizaçã­o?

Estamos partindo para um novo modelo. Em vez de tributar o capital produtivo, tributar mais a renda quando sai da empresa. Esse novo modelo está passível de ajustes até chegarmos ao ideal. Pode ser que venha a tabela progressiv­a e a isenção seja ampliada.

• Haverá novas mudanças no fim da dedução do Juros sobre Capital Próprio (JCP) ?

Não. Setenta e cinco por cento de JCP são de bancos. Vamos tirar a dedutibili­dade de JCP (uma forma de as empresas remunerare­m os acionistas com vantagens tributária­s). Vamos aumentar a carga sobre os bancos.

• O presidente da Febraban elogiou as mudanças no projeto?

Eu não vi essas palmas, não. Onde foi? Vai direto na jugular dos bancos. Ou seja, estamos tributando os bancos, os mais ricos, as grandes fortunas e corrigindo a tabela do IRPF para metade não pagar nada.

• Se as projeções não se confirmare­m, aumentará o rombo nas contas. O sr. não se preocupa?

Zero de aumentar o déficit público. No segundo semestre, vamos ter uma arrecadaçã­o maior do que a meta estabeleci­da. Vai bater com folga nos próximos quatro, cinco anos.

• Quando o projeto do IR vai para votação no plenário?

Em agosto.

NA WEB

Leia a entrevista na íntegra estadao.com.br/e/reformaIR

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Revisão. Sabino diz que o parecer da Câmara dos Deputados ‘vai na jugular dos bancos’

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