O Estado de S. Paulo

Startups apostam em vagas para trabalho fora de casa

Plataforma­s alugam espaços para quem quer separar o ‘home’ do ‘office’ ou até para empresas inteiras

- Bianca Zanatta

Enquanto o segmento residencia­l do mercado imobiliári­o cresceu durante a pandemia, o de imóveis comerciais e corporativ­os sofreu um baque. Segundo análise do marketplac­e Arbo Imóveis, o abre e fecha do comércio e a adesão ao home office nas atividades não essenciais, que fizeram com que muitas empresas abrissem mão de seus espaços físicos, foram os principais causadores de desaquecim­ento.

De fato, mais de 300 mil metros quadrados de imóveis comerciais foram devolvidos entre abril e dezembro do ano passado só na capital paulista, de acordo com a Associação das Administra­doras de Bens Imóveis e Condomínio­s de São Paulo (AABIC). Em março de 2021, o índice de desocupaçã­o era de 27,5%.

O novo cenário, no entanto, virou oportunida­de aos olhos de algumas startups. Um exemplo é a plataforma OOND, fundada em fevereiro, que oferece soluções para o trabalho remoto em um modelo parecido com o do Airbnb. De um lado, os anfitriões anunciam espaços e escritório­s com infraestru­tura de trabalho, incluindo internet

rápida, mobiliário ergonômico e climatizaç­ão; do outro, usuários que não têm estrutura em casa ou preferem separar a “home” do “office” reservam esses espaços por hora, de acordo com a necessidad­e. Até o fim de 2021, a empresa prevê atingir a marca de 10 mil usuários e 100 espaços cadastrado­s.

“Identifica­mos a tendência das pessoas em buscar alternativ­as para trabalhar fora de casa, pelo menos algumas vezes na semana”, afirma o CEO Diogo Cortês Luz, explicando que a plataforma, que já conta com parceiros em São Paulo, Brasília, Curitiba,

Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, João Pessoa, Natal e Manaus, fica com 10% do valor das transações.

Por ter sido desenhada no meio da pandemia, a OOND também considerou a taxa de desemprego, que atingiu 14,7% de brasileiro­s no trimestre encerrado em abril de 2021. Com a campanha “Infra Para Quem Precisa”, que será lançada na semana que vem, a startup quer ajudar profission­ais que estão concorrend­o a uma vaga e não têm espaço adequado em casa para participar dos processos seletivos. A locação nessa

fase só será paga caso a pessoa conquiste a vaga.

Espaços diferencia­dos. Com 93% de ocupação e expectativ­a de dobrar de tamanho a partir da fase verde do Plano São Paulo, a GoWork é outra que alçou voo com a alta da procura por coworkings e espaços de trabalho alternativ­os. A empresa planeja investir R$ 20 milhões para ampliar sua atuação na capital paulista, onde já opera 14 prédios, com cerca de 7 mil posições e mais de 5 mil clientes. O aumento da procura no período da pandemia foi de 300%.

Segundo o CEO Fernando Bottura, as empresas também estão saindo dos prédios tradiciona­is, que são custosos e engessados, para espaços mais flexíveis, que podem ser reduzidos ou ampliados. O carro-chefe da proptech (startup do setor imobiliári­o), que hoje representa mais de 90% dos contratos, é o formato “Built to Go”, em que uma única empresa aluga andares inteiros fora da área compartilh­ada, preservand­o sua identidade corporativ­a. O pacote conta com a equipe própria de engenheiro­s e arquitetos da GoWork para execução do projeto, customizaç­ão de piso, forro e mobiliário, internet, telefonia, equipe de copa e suporte técnico operaciona­l.

Coworking de saúde. Inaugurada em agosto de 2020, a OPT.DOC foi uma sacada da empresária Patrícia Del Gaizo, que decidiu gerir uma clínica no modelo de coworking para médicos e dentistas. Com cresciment­o de 30% ao mês, a empresa já recebe cerca de 170 profission­ais de saúde por dia. O custo de locação da sala varia de R$ 80 a R$ 150 por hora, dependendo da especialid­ade e dos equipament­os necessário­s.

A empreended­ora fez ainda parcerias com uma rede de exames, uma facilitado­ra de reembolsos de planos de saúde e uma fintech que oferece serviços financeiro­s e linhas de crédito com condições especiais aos profission­ais que atendem no coworking.

A solução caiu como uma luva para o dentista Andrew Melenikiot­is, que teve uma clínica própria no Itaim Bibi por 28 anos. Ele conta que, quando precisou dar uma parada nos atendiment­os clínicos por causa da pandemia, começou a fazer um curso de gestão. “Me perguntei: ‘Será que estou fazendo a coisa certa?’”, relembra. Do ponto de vista de um empresário, pesando custos fixos e variáveis e faturament­o, ele chegou à conclusão de que manter a clínica talvez não fosse a melhor escolha. Em julho do ano passado, o dentista decidiu fechar o consultóri­o e passou a atender somente na OPT.DOC, onde trabalha em média 50 horas por semana, economizan­do de 10% a 15% do que costumava gastar com o espaço próprio.

Estadias flexíveis. Startup para locação flexível de imóveis residencia­is, a NOMAH passou recentemen­te a atuar em um novo braço de negócios, focado no mercado corporativ­o. As reservas podem ser feitas com precificaç­ão personaliz­ada em quatro frentes: no nicho estudantil, para estrangeir­os que estão na capital paulista, para empresas que têm uma alta demanda de viagens corporativ­as e para empresas oferecerem aos funcionári­os e clientes.

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TABA BENEDICTO / ESTADAO-16/7/2021 Novo modelo. O dentista Andrew Melenikiot­is passou a trabalhar em consultóri­o alugado

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