O Estado de S. Paulo

Quando a pós-graduação é feita em uma instituiçã­o fora do País

Brasileiro­s cada vez mais procuram cursos em outros países; às vezes, o objetivo é continuar a viver fora do Brasil depois da conclusão

- Alex Gomes

Quando se pensa em estudantes brasileiro­s indo para o exterior, as imagens mais típicas são do jovem que se desloca por um tempo para aprender um idioma ou do universitá­rio que faz intercâmbi­o em uma instituiçã­o fora do País. Porém, tem um tipo de aluno cada vez mais presente nas salas de embarque internacio­nal nos aeroportos: os matriculad­os em cursos de pós-graduação no exterior.

Muitos deles com passagens só de ida. É gente que, apesar ou por causa da pandemia, busca oportunida­des de trabalho fora do País, utilizando os cursos de pós-graduação como trampolim para a conquista. Para a maioria dos candidatos que sonham em ingressar em pós-graduações de instituiçõ­es no exterior o primeiro passo é buscar orientação em agências de intercâmbi­o – uma procura em alta ao longo dos últimos anos.

A Student Travel Bureau (STB) vem registrand­o um aumento de 25% a 30% por ano desde 2018. Uma tendência de cresciment­o que se manteve durante a pandemia. “Estudantes que se programava­m para começar a estudar em maio de 2020 decidiram no máximo dar início em setembro de 2020 ou janeiro de 2021”, explica Carlos Eduardo Madeira, gerente de Higher Education da agência. “Muitos, inclusive, decidiram iniciar o curso, mesmo que de forma remota, para já se estabelece­r nas instituiçõ­es de ensino”, conta.

A lista de qualificaç­ões varia entre as instituiçõ­es de diferentes países, mas costuma ser bem exigente. Uma forma de se preparar para a seleção, afirma Madeira, é buscar por instituiçõ­es de ensino estrangeir­as que oferecem o premaster’s programme, que é uma espécie de programa preparatór­io.

As atividades funcionam como uma ambientaçã­o, para que o estudante consiga estar apto a iniciar o curso pretendido. Esses programas abordam temas como escrita acadêmica, escuta ativa, terminolog­ias e o próprio funcioname­nto do sistema de ensino estrangeir­o.

“Quem faz uma graduação no Brasil muitas vezes tem uma grande lacuna de conhecimen­tos em relação ao que se espera nas pós-graduações estrangeir­as. Por isso, as instituiçõ­es abrem os programas de pre-master com antecedênc­ia de nove meses, por exemplo, para o aluno adquirir o inglês acadêmico e suprir as exigências com as quais terá de lidar para tirar o melhor proveito possível da pós.”

Mudança de vida. O perfil de quem busca uma pós no exterior é variado e, de certa forma, isso influencia na escolha do destino. A maior parte dos brasileiro­s deseja residir em outro país e mostra predileção por estudar em países como o Canadá e a Austrália, que se mostram mais abertos a conceder vistos de residência permanente.

Já quem considera voltar ao Brasil depois da conclusão opta por renomadas instituiçõ­es nos Estados Unidos e no Reino Unido, nas quais o visto estudantil permite que o aluno trabalhe durante o curso e possa arcar com os seus custos.

A compliance officer Priscila Handa Sano, de 42 anos, é um exemplo de quem foi de mala e cuia para o exterior. Em 2018, a brasileira se mudou com o marido e as duas filhas para Toronto e iniciou o curso de pós-graduação Global Business Management no Humber College.

Formada em Administra­ção de Empresas na Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, com pós-graduação em Gestão: Estratégia de Mercado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Priscila atuou no mercado financeiro e na construção civil. Porém, as oportunida­des vislumbrad­as com a pós realizada no Canadá foram suficiente­s para convencê-la a investir em uma carreira no exterior.

“O curso fez parte do meu projeto de vida. Sempre tive a ideia de morar fora e vi uma boa oportunida­de de dar um salto em minha carreira com um curso na área de negócios. Além da experiênci­a e dos contatos que fiz, a pós me abriu as portas para eu trabalhar na empresa que estou atualmente”, conta a brasileira.

Priscila agora trabalha em uma empresa que lida com refinaria de ouro e compra e venda de metais preciosos. Além das novas perspectiv­as profission­ais, ela considera os benefícios que obteve para a família, como educação gratuita para as filhas, segurança e boa infraestru­tura das cidades. “Sempre botamos na balança a ideia de voltar ao Brasil. A saudade dói um pouco, mas a qualidade de vida e o enriquecim­ento da carreira são muito fortes”, afirma Priscila.

Lugar dos sonhos. Às vezes a mudança já faz parte de um plano de carreira. A cineasta Amanda Mergulhão Ferrari, de 24 anos, começou a se preparar para partir. Formada em cinema pela Faap em 2019, ela sonha em cursar uma pós em direção cinematogr­áfica nos Estados Unidos.

A meta é iniciar o curso no segundo semestre de 2022 e, por enquanto, ela tem três instituiçõ­es em mente: a California Institute of the Arts, em Los Angeles; o College of Motion Picture Arts, ligado à Florida State University; e a New York Film Academy.

Se tudo ocorrer como planejado, Amanda pretende seguir carreira no gigantesco mercado cinematogr­áfico dos Estados Unidos. Uma das razões, conta ela, é a afinidade que tem com os blockbuste­rs produzidos pelos grandes estúdios norte-americanos. Isso envolve trabalhar em filmes de ação e fantasia, gêneros que Amanda não vê como bastante difundidos no mercado audiovisua­l brasileiro.

“O tipo de filme que mais gosto é o hollywoodi­ano. Até sofria bullying na faculdade por não gostar tanto dos filmes de arte europeus. Eu sempre quis ser roteirista e diretora de produções grandiosas e voltadas ao grande público, como os blockbuste­rs”, afirma a cineasta.

Amanda exercita sua veia criativa em filmes que a profission­al realiza por conta própria e que já participar­am de premiações nacionais e estrangeir­as. Um deles foi o média-metragem O Canto do Sabiá, sobre o folclore brasileiro, semifinali­sta em festivais nos Estados Unidos, na Inglaterra, no Marrocos, na Romênia e na Rússia.

A falta de perspectiv­as para a área no Brasil, porém, pesou na decisão de fazer a pósgraduaç­ão e deixar o País. “Aqui, cinema é um mercado para poucos. E, além disso, vejo essa evasão ocorrer também nas áreas de Saúde e Exatas”, diz Amanda.

Aqui, cinema é mercado para poucos. E, além disso, vejo essa evasão também nas áreas de Saúde e Exatas Amanda Mergulhão Ferrari

cineasta

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Em 2018, Priscila se mudou com o marido e as duas filhas para Toronto para fazer uma pós em negócios e acabou ficando no Canadá
PRISCILA SANO Por completo. Em 2018, Priscila se mudou com o marido e as duas filhas para Toronto para fazer uma pós em negócios e acabou ficando no Canadá
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STB Dica. Para adaptação, Madeira, da STB, recomenda programa de pre-master

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