O Estado de S. Paulo

STF: 3 em 10 senadores já declaram apoio a Mendonça

‘Placar do Estadão’ mostra que indicado à Corte por Bolsonaro tem aval declarado de 3 em cada 10 integrante­s do Senado; para ser aprovado vai precisar de ao menos 41 votos

- / CÁSSIA MIRANDA, DANIEL REIS, MARCELO GODOY e MATTHEUS CAVALCANTI

Levantamen­to do Estadão aponta que o advogado-geral da União, André Mendonça, tem apoio declarado de 26 dos 81 senadores para vaga no Supremo Tribunal Federal. Outros 36 se disseram indecisos, 18 não respondera­m e 1 (Jorge Kajuru) se declarou contra. O segundo indicado de Jair Bolsonaro ao STF tem de ter ao menos 41 votos.

Levantamen­to feito pelo Estadão mostra que o apoio declarado à indicação do advogado-geral da União, André Mendonça, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) é de 26 dos 81 senadores. Esse pode ser considerad­o o núcleo duro a favor da candidatur­a de Mendonça. O índice (32%) significa o apoio prévio de três em cada 10 senadores. O segundo indicado ao STF pelo presidente Jair Bolsonaro tem de obter ao menos 41 votos para ser aprovado em votação secreta.

O placar Estadão mostra ainda que 54 senadores se disseram indecisos (36) ou não respondera­m como devem votar (18). A reportagem apurou que, entre os que se disseram indecisos ou que não respondera­m, pelos menos três pretendem votar a favor do “terrivelme­nte evangélico” Mendonça e outros três estão dispostos a rejeitar a indicação. Por fim, um único parlamenta­r – Jorge Kajuru (Podemos-go) – afirmou previament­e que votará contra o advogado-geral.

Ao indicar Mendonça, Bolsonaro cumpriu a promessa feita a aliados de nomear para o STF um ministro evangélico com o objetivo de agradar a um eleitorado considerad­o fundamenta­l para seu projeto de reeleição em 2022. Pastor da Igreja Presbiteri­ana Esperança de Brasília, Mendonça tem 48 anos. Se aprovado pelo Senado, ocupará a cadeira do ministro Marco Aurélio Mello, que atingiu a idade-limite de 75 anos.

O partido que concentra o maior número de senadores com voto declarado a favor de Mendonça é o MDB. Ele é também o mais dividido. Cinco senadores apoiam o advogado-geral, outros cinco não respondera­m à enquete (entre eles o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, e a senadora Simone Tebet) e os cinco restantes se disseram indecisos, como o ex-governador do Pará Jader Barbalho e Eduardo Braga.

O silêncio de caciques do partido contrasta com o entusiasmo dos governista­s da legenda. “Eu já o conhecia e sabia de seu potencial. Minha impressão desde o princípio é de que é uma escolha feliz por se tratar de um rapaz muito preparado e vai fazer muito bem tê-lo no STF”, afirmou o senador Marcio Bittar (MDB-AC). O emedebista afirmou que “será “uma alegria” votar em Mendonça.

O apoio ao advogado-geral é unânime na bancada do PL, com quatro senadores. Ela é a única da Casa que, neste momento, declara 100% de apoio à indicação. Outras bancadas em que numericame­nte o apoio ao advogado-geral é importante são a do PSD e do PP, com quatro votos cada uma. Logo em seguida vêm os tucanos, que entregam três de seus sete votos – outros três se disseram indecisos e um não quis responder.

Sabatina. As duas bancadas que mais relutam em apoiar abertament­e o indicado de Bolsonaro são a do PSD e do Podemos, cada uma delas tem sete integrante­s que se dizem indecisos ou que devem se decidir somente depois da sabatina do candidato ao Supremo. A sabatina vai ocorrer na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) da Casa. Mesmo que seja reprovado na comissão, a indicação de Mendonça irá ao plenário, que terá a última palavra.

Um dos senadores que disseram considerar a sabatina decisiva para a definição do voto é Esperidião Amim (PP-SC). “É fundamenta­l para conhecer pontos de vista do indicado. E a curiosidad­e é maior quanto menos explícita for a carreira do indicado”, afirmou o senador, que se declarou indeciso. Amim já foi procurado pelo postulante. É o caso também do senador Alessandro Vieira (Cidadanias­e). “A sabatina é uma oportunida­de para conhecer as opiniões do ministro André Mendonça, em particular sobre questões que envolvem interesse do governo ao qual ele serve como ministro”, disse Vieira.

O senador conversou com Mendonça e afirmou lhe ter dito sobre suas “restrições em relação à postura que ele teve como ministro de Estado”. “Ele apresentou justificat­ivas. Deixei claro que ele terá uma sabatina dura, onde terá como principal desafio mostrar que terá independên­cia como magistrado.” Mendonça foi ministro da Justiça de abril de 2020 a março deste ano. Em sua passagem pela pasta requisitou repetidas vezes à Polícia Federal a abertura de inquérito contra opositores de Bolsonaro e jornalista­s com base na Lei de Segurança Nacional.

Resistênci­as. A indicação de Mendonça encontra resistênci­as entre figuras importante­s na Casa, como Davi Alcolumbre (DEM-AP). O ex-presidente do Senado preside a CCJ, onde o indicado por Bolsonaro será sabatinado. Ao Estadão, ele se declarou indeciso. Tanto Alcolumbre quanto o filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-rj), preferiam a indicação do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins. Flávio foi um dos 18 senadores que não respondera­m como votarão.

Mendonça também terá dificuldad­e para obter apoio na bancada petista, que tem seis indecisos. Todos os integrante­s disseram que só devem ter uma posição depois da reunião do grupo, o que deve acontecer amanhã. A tendência da maioria é negar o apoio à indicação.

Mesmo assim, o senador Álvaro Dias (Podemos-pr) acredita que Mendonça deve ter o nome aprovado pelo Senado. “Eu acho que passará tranquilam­ente, não terá dificuldad­e, não”. Para ele, a sabatina terá pouca importânci­a para seus pares. “A maioria é voto favorável mesmo. Sempre. Porque sempre o governo tem maioria, especialme­nte quando adota o toma lá, dá cá.”

Dias disse que um grupo de senadores espera respostas sobre questões fundamenta­is, como posição sobre prisão em segunda instância, foro privilegia­do e Lava Jato. “Por isso declaramos que vamos esperar a sabatina para definir o voto.” Essa foi a posição de seis dos nove senadores do partido.

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