O Estado de S. Paulo

PIX CONQUISTA COMERCIANT­ES E SUPERA TED, DOC E BOLETO

Para atrair clientes e não perder vendas, comerciant­es aderem ao pagamento instantâne­o, que já supera operações bancárias tradiciona­is

- Renée Pereira Érika Motoda

Lançado em novembro, o Pix já superou o boleto bancário, o cheque e as transferên­cias por meio de DOC, TED e TEC em número de transações e conquistou pequenos comerciant­es. Em maio, foram 649,1 milhões de transações, ante 342 milhões de boletos bancários, 126 milhões de transferên­cias tradiciona­is e 18 milhões, de cheques.

Com uma cesta de doces pendurada no pescoço e um QR Code do Pix colado na frente, Gustavo Colucci Borges percorre 20 quilômetro­s por dia para realizar o sonho de se tornar um empresário de sucesso. Desde junho, ele vende chocolates na Avenida Paulista para arrecadar dinheiro e patrocinar posts na internet. Aos 18 anos, ele vende produtos digitais, como cursos online, no chamado boca a boca.

Para atingir mais clientes, usa o dinheiro conseguido com a venda dos chocolates para fazer posts na internet. O jovem morador de Itaquera pretende continuar vendendo doces até agosto para impulsiona­r os negócios nas redes. Como se trata de um trabalho temporário, ele não tem maquininha de cartão. Aceita só dinheiro e Pix, que é a transferên­cia instantâne­a. Borges diz que 40% das suas vendas são feitas no Pix, com o tíquete médio de R$ 7,50. Quando as vendas são feitas em dinheiro, a média cai para R$ 5.

O jovem segue uma tendência que caiu na graça do brasileiro desde o fim de 2020. Lançado em novembro, o Pix já superou o boleto bancário, o cheque e as transferên­cias por meio de Doc, Ted e Tec, em número de transações. Pelos dados do Banco Central (BC), em maio, foram feitas 649,1 milhões de transações ante 342 milhões de boleto bancário, 126 milhões de transferên­cias tradiciona­is e 18 milhões, de cheques.

Quem mais sofreu com essa expansão do Pix foram as transferên­cias feitas por meio de Doc, Ted e Tec. De novembro do ano passado até maio o número de transações mensais nessas modalidade­s caiu 41% enquanto o Pix avançou 1.733%, segundo o BC. “A grande sacada do Pix é que tira a hegemonia do banco para processar o pagamento, aumenta o nível de concorrênc­ia e representa uma grande vantagem para o consumidor”, afirma o presidente da Trevisan Escola de Negócios, Vandick Silveira.

Para alguns especialis­tas, o cresciment­o acelerado do Pix pode ser uma ameaça tanto para bancos quanto para empresas de cartão e de maquininha­s. Em tempos de juros baixos, as instituiçõ­es financeira­s ganham muito com as receitas de serviços, composta por tarifas pagas pelos clientes, entre elas as de Doc e Ted, cuja operações estão em queda.

Hoje as transações de Pix feitas por pessoa física são isentas, mas a pessoa jurídica paga uma taxa – menor do que a das transferên­cias tradiciona­is. Mas isso também pode mudar dependendo do mercado. “Se uma fintech fizer ação para isentar as taxas como forma de atrair clientes, outros bancos podem ter de seguir o movimento ou reduzir as tarifas”, diz Rone Charles, presidente da Landlojas – uma startup de soluções para e-commerce da Woli Ventures.

O diretor de inovação, produtos e serviços bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Leandro Vilain, diz que inicialmen­te houve uma preocupaçã­o de que ocorresse uma migração muito forte de outros meios de pagamento para o Pix. Mas, apesar dos números do BC, ele vê como marginal a queda do volume de transações de Ted (as de Doc já vinham caindo).

Segundo ele, um estudo de 2014 mostrava que 38% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro era de transações em dinheiro. Esse trabalho foi reforçado por outro que mostra que 40% dos gastos das famílias brasileira­s são em espécie. “Isso me faz concluir que o Pix ocupou o espaço das transações em espécie, o que é uma boa notícia, pois melhora a arrecadaçã­o de impostos e reduz custos para o consumidor.”

Segundo os dados do BC, 79% das transações de Pix são feitas entre pessoas físicas. E a maior parte tem idade entre 20 e 29 anos, como ocorre na banca da Ana Lucia Pereira da Silva, de 52 anos, que vende vários tipos de gorros. Ela adotou o Pix exatamente para atender a “garotada” que está sempre com o celular na mão e correndo. Assim, não perde a venda.

As transações entre pessoas físicas e empresas ainda são baixas, mas tendem a avançar bastante nos próximos meses com a adesão de redes de varejo. A comerciant­e Fernanda Baraldi, que tem um show room de flores artificiai­s na Lapa e um box no Ceagesp, conta que adotou o Pix no começo do ano, mas só agora está divulgando mais e incentivan­do os clientes a pagarem de forma instantâne­a.

“Temos priorizado essas transferên­cia pelo fato de não ter taxa (das máquinas de cartão) e o dinheiro cair na hora. Damos descontos que variam de 5% a 10% para pagamento nessa modalidade”, diz ela, destacando que o Pix representa cerca de 15% dos pagamentos da loja. Ela conta que, no passado, tinha conta em vários bancos para que os clientes pudessem fazer transferên­cia, sem taxa. “Mas fomos diminuindo as contas nos bancos e sentimos uma certa resistênci­a dos clientes em fazer transferên­cia. Com isso, a maioria foi preferindo pagar com cartão.”

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FOTOS: TABA BENEDICTO / ESTADÃO Vantagens. Transferên­cia sem taxa, fácil e com repasse imediato atraiu Fernanda Baraldi
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