O Estado de S. Paulo

Fundo eleitoral é casca de banana, diz Bolsonaro

Após ter alta, presidente minimiza cobrança sobre aliados e responsabi­liza vice da Câmara

- Brenda Zacharias

Ao deixar hospital, ele disse que a votação do aumento do fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões foi “casca de banana” dentro da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que a votação do aumento do fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões foi uma “casca de banana” dentro da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO). Logo após ter alta médica e deixar o hospital Vila Nova Star, em São Paulo, o presidente procurou minimizar a cobrança sobre parlamenta­res bolsonaris­tas que endossaram o acréscimo de dinheiro público para as eleições do ano que vem.

Pressionad­o por apoiadores nas redes sociais, Bolsonaro deu a entender que pode vetar a proposta aprovada. Ele atribuiu a responsabi­lidade ao deputado Marcelo Ramos (PL-AM), que presidiu a sessão que deu aval na LDO ao fundo “turbinado” no próximo ano. Bolsonaro disse que o vice-presidente da Câmara “atropelou” a votação da LDO e não pôs em votação um destaque à redação que alteraria o texto para suprimir a previsão de reajuste da reserva eleitoral. O destaque, porém, foi, sim, colocado em votação, mas não foi aprovado.

“Então, num projeto enorme, alguém botou lá dentro essa casca de banana, essa jabuticaba. O Parlamento descobriu, foi tentando destacar para que a votação fosse nominal. Essa questão, o presidente Marcelo Ramos, do Amazonas...”, afirmou.

Ramos rebateu a acusação do presidente (mais informaçõe­s nesta página). Ele disse que apenas presidiu a sessão e argumentou que não houve protestos sobre a condução das votações pelos líderes do governo nem pelo líder do partido do filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O acréscimo do fundo eleitoral represento­u um aumento de 185% em relação aos R$ 2 bilhões de dinheiro público destinados aos partidos nas disputas municipais do ano passado.

Uma tentativa de barrar o chamado “fundão” teve o apoio de apenas cinco partidos. Cidadania, PSOL, Podemos e PSL foram os únicos a apoiarem uma mobilizaçã­o feita pelo Novo, para rejeitar a reserva aprovada de R$ 5,7 bilhões. O PSL, porém, só se manifestou favorável 15 minutos depois que o destaque já tinha sido derrotado. Como a votação deste destaque foi simbólica, não é possível saber exatamente como votou cada parlamenta­r em relação a esse tema, especifica­mente. A única votação nominal feita refere-se ao texto geral da LDO.

“Eu sigo a minha consciênci­a, sigo a economia e a gente vai buscar um bom sinal para isso tudo aí. Afinal de contas, eu já antecipo, R$ 6 bi pra fundo eleitoral, para financiame­nto de campanhas, pelo amor de Deus”, afirmou Bolsonaro. Nas redes sociais, apoiadores do presidente pediram que ele vete o fundo eleitoral de 2022. Com as hashtags #Vetabolson­aro e #Vetapresid­ente, perfis ecoaram as falas do presidente em coletiva.

Ainda na temática eleitoral, Bolsonaro aproveitou a presença dos jornalista­s para voltar a criticar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, pela defesa da urna eletrônica. “Por que essa vontade doida do Barroso de manter o sistema como está?”, perguntou.

Bolsonaro estava internado desde a quarta-feira passada, e vinha apresentan­do melhora gradativa. Ele seguirá com acompanham­ento ambulatori­al da equipe médica assistente.

O presidente saiu pela porta da frente do hospital, pouco antes das 10h. Bolsonaro usava máscara ao deixar o hospital, mas retirou a proteção para conversar com a imprensa. Durante meia hora, ele comentou sobre seu estado de saúde, voltou a criticar medidas de isolamento contra a covid-19 e citou outro medicament­o que, afirmou, pode ser um novo tipo de tratamento para a doença.

Medicament­o. O presidente mencionou que pediria uma investigaç­ão sobre a proxalutam­ida – medicament­o que vem sendo alardeado em mensagens enganosas que repercutem os resultados de uma pesquisa clínica, que ainda não foi detalhada em artigo científico ou analisada por cientistas independen­tes.

“O que me surpreende é que a gente vê o mundo, os países, investindo em remédios, para curar o covid. Se você fala aqui em cura do covid, você passa a ser criminoso. Você não pode falar em cloroquina, ivermectin­a, e tem uma coisa que eu já acompanho há algum tempo, e nós temos que estudar aqui no Brasil, chama-se proxalutam­ida”, afirmou.

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SEBASTIÃO MOREIRA / EFE São Paulo. Jair Bolsonaro durante entrevista após deixar o hospital Vila Nova Star, na zona sul da capital; presidente teve alta após quatro dias internado

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