O Estado de S. Paulo

Enchente histórica na Alemanha ganha repercussã­o política

Tragédia leva à discussão sobre mudanças climáticas antes das eleições gerais de setembro

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O número de mortos em razão das inundações que assolam regiões da Europa chegou a 190 ontem, enquanto equipes de resgate continuam as buscas por corpos e o tema ganha repercussõ­es políticas. Ao mesmo tempo, novas tempestade­s chegam a algumas áreas, aumentando o temor de outras tragédias.

A chanceler alemã, Angela Merkel, começou a percorrer ontem áreas devastadas pelas piores inundações “do século”. Com uma expressão séria no rosto, Merkel chegou na cidade de Schuld, no Estado de Renânia-palatinado, um dos dois mais atingidos no oeste da Alemanha, onde o transborda­mento do rio Ahr destruiu casas.

“É uma situação surreal e fantasmagó­rica. Diria até que o idioma alemão tem dificuldad­e em encontrar palavras para descrever a devastação”, disse Merkel em entrevista coletiva. “Não digo que uma inundação seja o exemplo da mudança climática, mas se observarmo­s os danos dos últimos anos, são simplesmen­te maiores que no passado”, acrescento­u a chanceler.

Ao menos 159 pessoas morreram desde quarta-feira na Alemanha, e outras 31 morreram na Bélgica. As chuvas extremas também afetaram a Suíça, Luxemburgo e Holanda.

Novas preocupaçõ­es. Enquanto as águas começaram a baixar em Renânia-palatinado e Renânia do Norte-vestfália, a preocupaçã­o se voltou para a região sul de Alta Bavária, onde as fortes chuvas inundaram porões e provocaram transborda­mentos de rios e riachos na noite de sábado. Uma pessoa morreu na fronteira de Berchtesga­dener Land, disse à agência France-presse uma porta-voz do distrito.

Merkel prometeu apoio do governo aos municípios alemães afetados. O governo informou que pretende criar um fundo especial para atender aos danos, cujo custo poderia alcançar os bilhões de dólares. Eleições. O desastre teve fortes conotações políticas na Alemanha, que realizará eleições gerais no dia 26 de setembro, marcando o fim dos 16 anos de Merkel no poder. Especialis­tas afirmam que o aqueciment­o global faz com que os eventos climáticos extremos se tornem mais frequentes e os candidatos que buscam suceder Merkel pedem mais ações climáticas.

Armin Laschet, chefe de governo do Estado de Renânia do Norte-vestfália e favorito na disputa para chanceler, pediu para acelerar o combate à mudança climática. No entanto, Laschet, líder do partido de Merkel, teve sua imagem manchada no sábado quando foi gravado rindo da cidade de Erftstadt, onde as inundações provocaram um aterro. Nas imagens, Laschet conversava e ria no fundo enquanto o presidente alemão, Frank-walter Steinmeier, expressava sua dor às famílias afetadas. “Laschet ri enquanto o país chora”, publicou o jornal Bild.

O dirigente se desculpou posteriorm­ente no Twitter pelo momento “inadequado”.

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CHRISTOF STACHE / AFP De perto. Chanceler Angela Merkel visita vilarejo de Schuld

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