Portões abertos
Abolha do futebol estourou e os clubes brasileiros se preparam para trazer de volta o torcedor. O Flamengo abre os portões dos estádios nesta semana com o aval da Confederação Sul-americano de Futebol (Conmebol), em partida na Libertadores, no DF, cuja secretaria de saúde local deu sinal verde para que isso pudesse ocorrer. Serão 17 mil torcedores, os primeiros desde a parada por causa da pandemia. O Rio não liberou o público.
Outras capitais do Brasil tratam do assunto entre a apreensão da doença que ainda não foi controlada e o otimismo com os números despencando. Para muitos não há mais como segurar o torcedor nem a vontade dos clubes de retomar de onde eles pararam, com apetite pelo dinheiro que vai voltar a pingar em seus caixas.
Mas não pode ser só isso. O Brasil acompanha a queda dos números de contaminados e mortes com entusiasmo, mas com os pés atrás. Não se tem certeza de nada como no princípio. Vacinação, uso de máscara e isolamento seguem sendo as recomendações da ciência e de seus representantes.
O País, mesmo a despeito de uma CPI em marcha que investiga a participação do governo e do Ministério da Saúde na péssima condução da compra de vacinas e da cada vez mais embananada situação do presidente Jair Bolsonaro e de seus pares nesse negócio que cheira mal, avança agora satisfatoriamente na campanha de vacinação, chegando perto dos 100 milhões com a primeira dose e crescimento gradativo em relação à segunda, que imuniza.
O futebol olha para esse cenário com bons olhos e alguns interesses. O primeiro deles é recuperar a alegria de torcer num estádio, como aconteceu na Eurocopa e como vai ocorrer na retomada dos campeonatos europeus em agosto, assim como se vê em algumas outras modalidades esportivas ao redor do mundo, como a Fórmula 1, que em Silverstone, Inglaterra, recebeu ontem 140 mil seguidores para ver a vitória do inglês Lewis Hamilton.
O segundo motivo é voltar a contar com o dinheiro do torcedor, da compra de entradas até o consumo dentro do estádio, o chamado ‘matchday’. O mercado esportivo movimenta R$ 191 bilhões em dias de jogos. No Brasil, esse valor é de aproximadamente R$ 765 milhões por temporada. Uma estimativa nos EUA aponta que uma família de quatro pessoas gasta, em média, US$ 650 numa partida de basquete da NBA.
O esporte precisa do torcedor. Especialistas ouvidos pelo Estadão durante a semana passada, porém, comentaram o assunto com cautela. A própria CBF, na voz do presidente da Comissão de Médicos, Jorge Pagura, diz que a volta do público ao futebol nesse momento ainda é precipitada. O Flamengo dá de ombros. Na verdade, se pudesse, o time da Gávea já teria retomado a vida normal há meses. Sempre foi negacionista em relação à pandemia. O que não quer dizer que seus jogadores pensem da mesma forma. Eles, como dizem, são pagos para jogar, mas numa pandemia poderiam agir mais por conta própria. O fato é que o Flamengo não está sozinho na mesa. Há outros clubes que se preparam para abrir os portões aos famintos torcedores, como os de Minas.
Aos poucos, não tenho dúvidas de que a retomada vai atingir a todos do Brasileirão e Série B. Se o futebol pudesse esperar mais um mês seria mais seguro, começar em setembro, com a chegada e produção de mais vacinas e, consequentemente, de mais gente imunizada. A volta vai ser gradual, sem que as arenas entreguem ao público suas capacidades máximas. Os protocolos vão existir. Haverá torcedores conscientes e outros nem tanto. Haverá gente vacinada e testada e gente sem proteção.
Futebol retoma seu público nesta semana e abre caminho para a volta do torcedor