O Estado de S. Paulo

A vez dos elétricos

- ✽ FÁBIO GALLO

Muitos de nós já sonham em ter o seu veículo elétrico (VE), principalm­ente aqueles mais preocupado­s com as questões climáticas. Mas, no Brasil, investir num carro elétrico não é para qualquer um. Os preços dos dez elétricos mais baratos encontrado­s em nosso mercado estão entre de R$ 160 mil e R$ 600 mil. Mesmo assim, em 2020 foram vendidas quase 20 mil unidades, um salto de 66,5% em relação às vendas de 2019.

Em nosso país a participaç­ão de VES é de 1%, ainda menor do que em outros lugares. A frota norte-americana já é de 2%, enquanto na Europa já atinge 9,3%, e na China, 5%.

Na comparação com os veículos comuns que estão à venda, os VES exigem um investimen­to inicial mais alto. O Imposto sobre Produtos Industrial­izados (IPI) desses autos está entre 12% a 18%. Mas as despesas com esse tipo de carro são menores. O gasto de recarga é menor. Um VE demanda algo como 20 KWH para percorrer 100 km, mais ou menos R$ 12 em São Paulo. Em um carro a combustão, o gasto seria da ordem de R$ 60. Além disso, a estrutura pública de recarga no Brasil ainda é gratuita, embora o tempo de carregamen­to e a escassez de pontos possam levar à ansiedade de uma pane seca em muitas localidade­s.

A manutenção dos VES, também, é mais barata. Segundo especialis­tas, chega a ser metade dos carros a combustão. Uma preocupaçã­o é com a bateria. Se for preciso trocar, o custo é muito alto. É um novo investimen­to, mas as garantias vão de 8 a 10 anos.

Em alguns Estados há benefícios tributário­s, e em algumas cidades são oferecidas vantagens como isenção do pagamento de estacionam­ento em locais públicos ou isenção de rodízio.

Por outro lado, há outras questões que podem orientar as pessoas na decisão de adquirir um VE. O transporte é responsáve­l por cerca de um quinto das emissões globais de dióxido de carbono, ozônio e poluição, com viagens rodoviária­s sendo responsáve­is por três quartos desse montante. A maior parte disso vem de veículos de passeio, automóveis e ônibus, que contribuem com 45,1%. Os outros 29,4% vêm de caminhões com carga. Segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde, a poluição do ar causa uma em cada nove mortes em todo o mundo. Mas um fato que deve ser visto com cuidado é que, a menos que a eletricida­de que alimenta os VES seja limpa, eles nunca serão uma opção totalmente ecológica. Se a produção de energia não for limpa, não adianta nada o carro consumir eletricida­de.

Um estudo da Universida­de Tsinghua, da China, mostra que os VES recarregad­os na China, onde a maior parte da eletricida­de vem de usinas movidas a carvão, contribuem de duas a cinco vezes mais com partículas e produtos químicos do que os carros com motor a gás. A própria fabricação de baterias consome muita energia. Para que os VES sejam realmente uma opção verde para o transporte, de ponta a ponta, é vital que sejam conectados com energia renovável. Esse tipo de carro ainda não é para todos os bolsos, mas significa um futuro mais seguro e melhor para todos. ✽ PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP

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